Capítulo 23

1.3K 194 14
                                    

PARTIDA INTERROMPIDA

A vida não concede garantias nem estende um tapete prometendo que teremos um coração batendo no peito amanhã ou depois. O minuto em que todo o ar preenche nossos pulmões pode ser o mais valioso de todos e este também pode ser o último.

Nicholas faz uma manobra arriscada que, provavelmente, é o motivo de ainda estarmos vivo e o carro começa a girar, formando círculos irregulares. Tudo o que minha memória é capaz de lembrar dentro de alguns segundos se passa diante de mim, planos que ainda não realizei, esperança de um futuro ao lado das pessoas que amo e, particularmente, do homem que amo.

Sim, é no momento da dor, ainda que ela se passe em um átimo de segundo, que não tenho dúvida sobre o mais profundo dos sentimentos pronto para se revelar como uma venda retirada dos olhos de quem não queria enxergar o que está um palmo à sua frente.

Eu o amo!

Com todo o meu ser, minha alma, meu fôlego de vida. Eu o amo!

– Nossa Senhora! O que foi isso? – grito de uma só vez quando o carro para de girar.

Minha primeira reação é de verificar como todos estão aqui dentro e percebo que, assim como eu, eles estão ofegantes e assustados, só que vivos e sem ferimentos.

– Que merda foi essa? – Juliana explode. – Poderíamos estar mortos agora.

Juliana está tão assustada quanto nós, contudo consegue ser a primeira que tem a reação de abrir a porta e sair do carro. Em seguida, Nicholas e eu fazemos o mesmo.

– Quem era o psicopata que queria morrer e nos levar juntos é a única coisa que me interessa agora. Meu reflexo de jogador me ajudou a perceber a tempo senão...

Ele sequer consegue completar a frase. Apenas se aproxima de mim, segurando meus braços enquanto me avalia dos pés à cabeça.

– Você está bem? – ele prossegue, seus olhos procurando por machucados em meu rosto. – Eu não ia me perdoar se o pior tivesse acontecido.

– Eu estou bem, Nick. Foi só um susto.

– Juliana? – ela entende o que ele quer saber, mesmo que tenha apenas chamado seu nome.

– Estamos todos bem, pelo visto, mas eles... – aponta para dois carros atrás de nós – Espero que estejam com vida.

O carro que vinha desgovernado em nossa direção acabou desviando e acertou outro que estava atrás de nós. O veículo maior não teve tanto estrago. Em contrapartida, o menor está estraçalhado com pedaços de vidros para todos os lados. As pessoas começam a cercar os dois veículos. Aproximamo-nos até que, de repente, a porta da Range Rover é aberta e um homem com capuz sai correndo de lá tão desenfreado quanto o carro que estava dirigindo.

Neste momento, o tumulto está formado.

– Corre! Pega ele! – um berra.

– Segurem esse filho da mãe! – outro brada.

As pessoas começam a gritar e, embora eu detenha Nicholas pelo braço, ele se desvencilha de mim e corre atrás do cara, sendo seguido por outros homens com sede de justiça. Vejo-o sumir sem que eu possa fazer nada além de rezar com o fervor que poucas vezes tive na vida, implorando para alguém lá de cima não permitir que o pior aconteça.

O socorro logo chega e leva a única vítima que estava no carro menor ainda com vida. Fico aliviada por isso. Alguns minutos depois, Nick volta de mãos vazias, caminhando ao lado dos homens que o acompanharam. Eu não sei se lamento pela vítima ou fico feliz por alguém lá no céu ter ouvido minhas preces.

Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora