O Amigo do Meu Crush

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Acordar mais uma manhã e ter que ver a mesma rotina de sempre, era um pouco irritante demais. Eu acordava, encontrava minha mãe na cozinha, calada, e então eu ia para a escola. Desde sempre fora assim. Minha mãe acordava, chorava um pouco, achando que eu não sabia de suas lágrimas, e então evitava me olhar. Evitava me mostrar seu rosto inchado pelas lágrimas e o seus olhos vermelhos.

Por que ela sabia que eu me chatearia com tudo isso. Não com ela, mas com o homem que causou tudo isso.

Meu pai.

Minha mãe chorava todas as manhãs por aquele que lhe engravidara e a largara, simples assim. Mas ela tentava não me passar essa imagem dela, de vida sofrida e um coração partido. Tentava a todo custo trazer comida para a casa e me pagar um bom estudo. Ela era assim mesmo, um amor de pessoa, esforçada e carinhosa. Mas sofria desde então.

Meu pai prometia muitas coisas a ela, uma vida de princesa e amor. Cheia de fartura e um bom futuro para ambos. Havia prometido um casamento que louvasse o amor deles, mas que nunca aconteceria. Porque ele sabia que nunca poderiam sequer considerar que duraria e que fosse verdade. Mas minha mãe acreditou em cada promessa que ele fizera.

Promessas essas que fazia a uma outra mulher também. A mulher com quem tivera um filho, mas que casara. Ao contrário de minha mãe. E sim, as promessas foram cumpridas, mas não para minha mãe. Mas para a mãe de Jungkook, o filho querido deles, e meu irmão.

Bom, meio-irmão. Mas tinha meu sangue, e sangue da mulher sortuda que casara com o homem dos sonhos de minha mãe.

Mas mesmo assim, meu pai amava sua esposa, sim. Não havia sido falso com ela, ou com o filho. Mas preferiu iludir minha mãe ao ponto de largá-la quando se mostrou gravida. Disse-lhe que estava interessada no dinheiro e que apenas estava dando o golpe para impedi-lo de casar. 

Dissera também que eu não era filho dele, que era de outro homem com quem minha mãe tivesse se deitado.

E minha mãe se calou diante de tudo isso, afinal, o que ela faria contra ele? Rico e poderoso, uma empresa gigante em mãos. Enquanto minha mãe nada tinha, além de mim.

Jeon Jungkook nasceu com sorte, uns anos depois de mim, claro. Mas com mais sorte. Meu pai se orgulhava de poder dizer que era seu herdeiro primogênito, sendo que este era eu. Fruto de uma traição às escondidas. E eu guardei rancor disso.

Guardei rancor porque se não fosse ele e sua mãe, seríamos eu e minha mãe em seus lugares. Tendo a vida que ele tinha. E minha mãe então não mais choraria todos os dias, mesmo depois de dezessete anos. E eu simplesmente culpava Jungkook por tudo isso, pelas lágrimas de minha mãe. Porque se sua mãe não existisse, então não haveria nada no caminho da minha.

E sim, eu era egoísta a esse ponto, visto que... ao longo dos anos, ele se tornara uma criança dotada de talentos, igual a mãe. Ele dançava de um jeito que agradava a todos e eu sentia uma pequena parcela de culpa por estar invejando-o ao ponto de querer que ele fosse apenas um reles vagabundo sem sonhos.

Eu não queria que as pessoas se orgulhassem de quem ele havia se tornado, um grande dançarino, mesmo naquela idade jovem. E a mãe dele era tão cheia de vida, tão cheia de graça, que às vezes eu percebia a diferença dela para a minha. Em compensação, a minha chorava e não se motivava a se arrumar. Perdera seu brilho com o tempo, e com isso, perdera a beleza jovial que a mãe de Jungkook também possuia.

E meu pai parecia ser tão sincero, ser tão... pai. Até o dia de sua morte, claro. Depois disso, eu via os problemas surgindo, Jungkook deixando de ser a criança animada que era para o adolescente fechado e obscuro que se tornara. A morte da mãe deixou-o rebelde, tornou-se violento, entrava em brigas e afastava todos ao seu redor. Não via-o mais dançar com tanta sutileza assim, mesmo depois de alguns anos. Meu pai também passara a ser outra pessoa, mas não fazia grande diferença para mim.