Capítulo Dez - Descobertas

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Boa noite meninas, o logo chegaremos ao tão aguardado jantar, mas antes disso, um pouquinho da família do Kyle.

A manhã chegou e com ela uma sensação estranha, Alissa acordou e o mundo parecia girar ao seu redor, quase como se seu corpo flutuasse, os sentidos alterados de uma maneira desconhecida. Sentando com calma na cama, ela esperou que sua visão entrasse em foco e quando finalmente isso aconteceu, precisou levantar e ir ao banheiro, após o que pareceram horas, ela conseguiu levantar do chão à beira do vaso. Aqueles enjoos estavam se tornando piores a cada dia. Se levantando ela tirou a roupa e entrou embaixo do chuveiro, a água quente, chegando a machucar sua pele sensível. Mas ela não se importou, tudo o que queria era se sentir melhor, mais normal.

Após sair do banho, ela se enrolou na toalha e no quarto sentou a beira da penteadeira, um enorme espelho a sua frente. Alissa olhou o rosto e notou as olheiras arroxeadas, e o rosto sem brilho. Sem conseguir aguentar se olhar, olhar aquele rosto doente, mórbido, ela pegou sua maleta de maquiagem e passou uma base tripla no rosto, escondendo assim as marcas, usando outros truques deram vida ao rosto antes tão pálido e abatido. Prendeu o cabelo em uma trança, tentando não fazer caso dos fios que ficaram na escova. Amava seus cabelos, mas talvez estivesse chegando a hora de cortá-los. Ela decidiria mais tarde.

Se levantando abriu a porta do guarda-roupa e optou por uma calça estilo sarongue azul e uma camisa preta. Como havia amanhecido chovendo, vestiu também um casaco. Se não pelo tempo frio, ao menos para disfarçar seus ossos mais aparentes. Após calçar um par de sapatilhas desceu as escadas, cada passo lhe custando muito. Tudo nela pedia cama.

Chegando a cozinha, notou que todos estavam sentados ali e o silêncio que se seguiu a sua entrada só confirmou que o assunto era ela.

Após se sentar, ela serviu um copo de suco de laranja e pegou uma torrada. Talvez aguentasse comer.

— Falem logo. — Ela disse quando o silêncio se tornou muito grande e difícil de suportar.

Todos se olharam e depois desviaram os olhos dela. Exceto Rissa.

— Todos estamos preocupados, sei que você não gosta, mas depois de tudo o que houve temos medo de uma recaída. — Rissa disse sem desviar o olhar dela.

— Recaída? Rissa, eu não preciso. De recaídas, todos aqui já sabem o quão pequenas são as chances de quem tem uma doença assim, são poucas, senão improváveis, vocês vêm me dizendo para não desistir, para não me deixar vencer, eu não sei quanto tempo tenho, Deus queira que fosse muito, mas ninguém sabe, então eu decidi aproveitar, ser o mais feliz possível, e sim Kyle é alguém que se tornou importante, talvez pelo fato de ele não aceitar que eu tenha pena de mim, talvez por ele não se importar que meu cabelo ficou quase que todo na mão dele quando nos beijamos, ou talvez pelo fato de que me trata como alguém comum, não que eu tenha adquirido um quarto olho por estar doente, mas ele não pisa em ovos comigo, mas penso que por fim, é porque ele tem uma bunda boa e quero morder ela. Ele todo aliás. Então me deem o tempo que tenho, se preocupem, estejam aqui, mas não interfiram se eu quebrar, eu já me parti e ele me ajudou a colar um pouco. Sejam a família que eu amo.

Dito isso ela bebeu o suco e se levantou. Saindo para a varanda, o vento frio a fez procurar uma das cadeiras de balanço e se cobrir com a colcha na mesinha ao lado.

De repente a porta abriu e Rosa saiu, o telefone sem fio na mão.

— O menino Kyle ao telefone Alissa.

Só então ela percebeu que o celular havia ficado carregando no quarto.

— Kyle?

Silêncio do outro lado.

— Bom dia Alissa, desculpe ligar assim, tentei seu celular, mas ele está desligado. Como você passou a noite?

Ela sorriu, ele era sempre tão preocupado e gentil.

— Dormi bem, acordei me sentindo um pouco mal, mas já estou bem, até consegui beber suco e comer torradas. E você como passou a noite?

— Pensando em você, em nós.

Ela sorriu.

— Pensamentos bons espero.

Ele ficou muito tempo em silêncio, tanto que ela pensou que a ligação havia caído até que falou novamente.

— Os melhores pensamentos. Eu me sinto diferente essa manhã, é bom saber que se tem alguém especial Alissa, fazia algum tempo que eu não tinha isso. Sentia isso.

Ela se sentiu aquecer apesar do vento frio.

— Estou ansiosa para te ver. Ainda vamos jantar juntos?

— Claro, estou saindo para buscar meus não convidados, por mim, iria até aí, mas sabe como é, eles precisam vir. Mas a tarde vou aí te ver e você vem jantar conosco. Comigo.

Eles conversaram um pouco mais e se despediram.

Kyle olhou para a sua família que o aguardava e notou a loira ao lado do irmão. Então aquela deveria ser a filha do presidente do Conselho. O novo troféu do irmão. Ambos eram o casal mais distante que ele já havia visto. Glaciais. Seu olhar virou para a pequena jovem em jeans e camiseta, Crystal, sua irmã, e como sempre parecia entediada.

— Inacreditável como você adora nos fazer esperar Kyle. — A voz da mãe se fez notar e se virando ele a viu, em seda francesa, e saltos, cabelo impecável e casaco de pele. Inacreditável.

Se aproximando ele deu um beijo em Cristal e cumprimentou os demais, o olhar cobiçoso da acompanhante do irmão não lhe passando despercebido.

— Prontos? — Ele perguntou e se virou para voltar ao carro.

— E as malas? — Sem se virar ele respondeu:

— Vocês têm braços.

E entrou no carro aguardando.

Crystal jogou a bolsa atrás da caminhonete e sentou ao seu lado. Ele aguardou pacientemente que os outros fizessem o mesmo. E quando todos se acomodaram atrás deu partida e saiu.

— Espero que você tenha dado um jeito naquele barraco que chama de casa Kyle.

Olhando para a mãe pelo retrovisor ele disse seco:

— Minha casa está conforme os meus desejos, ela pertence a mim, querem um hotel? Vão para um.

Seu tom não admitia réplica.

Enquanto Kyle sentia vontade de arrancar os próprios cabelos, a mãe continuava intratável, o irmão um idiota pomposo, embora algo de diferente pudesse ser notado nele, e a tal noiva, uma desmiolada versão da Barbie sexy Malibu. Apenas sua irmã era um raio de sol. Aos 18 anos, Crystal havia passado para a faculdade de Designer. O que havia feito um verdadeiro terremoto nos planos da mãe. Planos estes que iriam acabar até o fim da noite.

Sem se controlar, e não querendo causar um estrago, ele pegou as chaves e se preparou para sair. Só conseguia pensar em Alissa.

— Estou saindo. E quando voltar trarei alguém para o jantar.

Sua mãe levantou o rosto e tinha uma máscara de frieza ao dizer:

— Não quero alguma puta em meio a nossa família.

Aquilo foi demais para ele que se aproximou dela e disse friamente.

— Alissa não é uma puta, ela tem mais classe em um único fio de cabelo do que qualquer mulher que eu tenha conhecido. Sem ofensa maninha. Vou avisando você mamãe, está é a minha casa, e se você tratar mal minha namorada, vou chutar a sua bunda rica tão longe que você não vai nem poder sentar para o seu tão amado chá da tarde.

E dito isso saiu. Ignorando o olhar de Eduardo!

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora