Capítulo Vinte - Exposição

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Kyle já não sabia mais o que fazer, segundo Lizzie, Alissa estava enfraquecendo consideravelmente, ele se sentia perdido. Orgulhava-se de ser um homem forte, duro, mas naquele momento se sentia perdido.

Alissa era uma mulher incrível, e se ela o era assim, embora doente, ele se perguntava como ela é quando saudável. Um estouro, ele podia apostar.

Com esses Pensamentos vieram outros, ela ficaria bem, disso ele não tinha e nem poderia ter dúvidas, mas ela iria querer ficar com ele? Ali no rancho? Ou a vida na metrópole a chamaria novamente? Ele sabia que sair dali não era para ele. Mas poderia deixá-la ir?

Nesse momento Lizzie chegou e ele fez menção de se levantar, mas ela o acalmou e sentou do lado dele.

— Vim apenas respirar um pouco. — Ela disse. — Como você e Alissa se conheceram?

Dando um pequeno sorriso, Kyle começou a falar:

— Eu e o cunhado dela somos amigos. E quando ela chegou foi inevitável conhecê-la. Vitor já havia me falado sobre uma das cunhadas, e se eu poderia programar algumas atividades para ela. Que a ajudassem a se animar e mudar de perspectiva, usando os animais.

Lizzie assentiu

— Você sempre foi bom em levantar o ânimo das pessoas e fazê-las falar sem parecer forçado. Você nunca é o psicólogo, e sim o confidente.

– A medicina foi algo importante, por um longo tempo. Eu gosto de ajudar pessoas, tem tentar fazê-las descobrir e entender seus problemas. Mas no caso de Alissa, quem me descobriu foi ela. Bastou um sorriso dela e mais nada. Ela é forte, é divertida, amorosa, leal.

Seu celular tocou e se levantando, ele pediu licença e saiu. Era do rancho. Ele ouviu com atenção e saiu furioso. Eduardo havia ido até a casa e agredido a Crystal.

Foi até a delegacia e após conversar com o chefe de polícia, saiu de lá para casa. Crystal estava na varanda, um lado do rosto machucado, o olho já inchando e escurecendo. Sem dizer uma única palavra ele abraçou a irmã e sentou ao seu lado. A polícia chegou logo em seguida e Crystal contou o que houve.

Eles tomaram nota, e disseram que ela teria que comparecer à delegacia ainda naquele dia. E se foram.

— Você vai ir adiante? — Kyle perguntou.

— Sim, não vou deixar passar dessa vez,  mamãe não está aqui para me encurralar.

Se virando para a irmã ele perguntou:

— Ele já fez isso antes?

Ela assentiu.

— Eduardo vive mais tempo sob os efeitos das drogas do que tudo Kyle, começou com cocaína, agora ele está nas mais pesadas. Mamãe sabe mas não faz nada, nem deixa que ele seja punido. Hoje ele queria que eu falasse com você a respeito da situação dele, que o convencesse a devolver os benefícios que ele tinha. E quando eu disse a ele que não iria interceder, que ele merecia por tudo o que anda fazendo de errado ele perdeu a cabeça, ah e ele quebrou algumas coisas no seu escritório também e levou outras. Além de tudo de errado Eduardo agora também rouba.

Ele lhe deu um beijo, pediu que descansasse e saiu. Dirigindo até a cidade, chegou ao hotel onde o irmão estava e o viu sendo levado algemado.

Eduardo estava realmente muito alterado. Bêbado.

— Lá vem o grande irmão. A idiota da Crystal já foi choramingar?

Sem se preocupar com o que pudesse acontecer, ele chegou perto dele e o socou. E viu com certo prazer o sangue escorrer. Mas não faria nada além disso.

— Podem acrescentar roubo e destruição de propriedade privada. Esse idiota quebrou meu escritório e levou objetos pessoais dele.

O policial disse que já constava isso e levaram Eduardo. Que exigia que Kyle fosse preso por agressão. No que foi ignorado.

Kyle viu a viatura sair e levou algum tempo para se acalmar. Sabia que logo a mãe ligaria e faria loucas

Ele entrou no carro e voltou ao hospital, Alissa ainda não havia tido melhoras, tirando o celular do bolso, tentou ligar mais uma vez para Carlo. Ninguém atendeu.

Ele então se sentou em um dos sofás da espera e olhou para o nada. E logo se viu enumerando o que mais gostava nela.

O sorriso aberto.
As covinhas ao sorrir.
O olhar ao mesmo tempo sério e amoroso.
A péssima voz ao cantar.
A curva do pescoço.

E foi assim perdido em pensamentos que o toque do celular o assustou. Sua mãe.

– Se é sobre Eduardo, nem comece, ele vai responder por tudo o que fez.

– Nunca entendi o motivo de você odiar tanto o seu irmão, e nem o seu pai. Eduardo sempre foi um menino de ouro.

Kyle riu e proferiu cuidadosamente as palavras que tinha guardadas por anos.

— Eduardo está longe de ser um menino de ouro, ele é podre, um homem mimado, acostumado a passar por cima de tudo e qualquer um para conquistar seus objetivos. Mas eu não tenho ódio por ele, apesar de tudo e de você mamãe, ele é meu irmão, um péssimo irmão mas ainda assim irmão. Eu tenho pena dele e nojo pela pessoa que você o fez ser. Agora quanto a papai odiá-lo, creio que seja pelo fato de Eduardo não ser filho dele.

Sua mãe ficou quieta,  pela primeira vez sem palavras. Até que começou a gritar

— Você não sabe o que diz. Seu invejoso.

Kyle esperou ela terminar de gritar e continuou:

– Nós sabemos que é verdade mamãe, papai sabia também, ele teve os exames feitos para confirmar, e só não jogou vocês na rua, porque Crystal estava sendo gerada e ele não queria um escândalo. Então não venha com negações, elas não me convencem.

Ele deixou que ela gritasse suas frustrações e depois desligou. Ficou então pensando no pai, em como eles haviam sido unidos. E em como ele havia sofrido com a sua morte.

As horas passaram e uma enfermeira veio lhe dizer que ela havia tido uma ligeira alteração em seu quadro. Para pior.

Agoniado, mais uma vez ele ligou Para Carlo, e quando este finalmente atendeu ele disse:

– Ela piorou.

E foi para a capela rezar.

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora