Capítulo Seis

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Kyle não conseguia tirar a bela ruiva da cabeça, o encontro havia mexido com ele mais do que gostaria de admitir. Ela tinha espírito, ele conseguia ver isso e muito bem, podia estar doente, mas ainda havia uma força nela, que agia como um ímã para ele. Logo ele, um solitário, se viu preso no olhar dela.

Ele balançou a cabeça e foi até o canil, chegando lá agradou os animais e pegou o filhotinho, sorrindo quando o mesmo cobriu seu rosto com lambidas. Caminhando com ele no colo, parou um pouco para olhar seu lar, as terras que se perdiam de vista, os animais ao longe pastando, as árvores que naquela época adquiriam em suas folhas uma colocarão amarelada, o riacho que cercava os fundos da casa, o motivo pelo qual havia construído a mesma ali. E finalmente a sua casa, imponente, erguida como se a mostrar a ele, que ele tinha um lar, que ali podia descansar. Longe de tudo o que o fazia mal, incluindo sua família.

Seu pensamento o levou até Alissa, e em como ela era uma verdadeira garota da cidade, a julgar pela pele suave e delicada, tão diferente da sua mesma, marcada pelo sol e pelo trabalho pesado, ele podia ser o chefe e ter dinheiro, mas nunca havia fugido do trabalho. Alissa não era mulher para um homem como ele, pensou subindo as escadas e indo até o banheiro, após deixar o animalzinho na cozinha comendo ração.

Algum tempo depois, sentado na varanda da frente ele pensava na conversa que havia tido com o irmão, e em como ele havia sido frio e indiferente ao falar sobre a atual noiva. Era um relacionamento de mentira. Assim como o de seus pais, tudo por um click perfeito nas revistas. Kyle queria uma mulher a quem amar e ser amado por ela. Alguém para dividir seus dias, compartilhar seu amor pela terra e ser parte dos amores dela. Ver seus filhos serem gerados e alimentados em amor. Não em uma vazia frieza como havia sido sua infância. Balançou a cabeça quando dois olhos claros vieram a sua mente.

Levantando ele foi até a cozinha e pegou a comida que havia separado, colocou o filhote em uma caixa com alguns brinquedos e seguiu para a fazenda vizinha.

A primeira coisa que notou foi Alissa que estava deitada em uma cadeira e parecia absorta.

Kyle estacionou e desceu levando mais comida. Nina, encantadora e animada, sentiu o cheiro de algo que lembrava canela e gemeu. Só então ele lembrou dos rolinhos. Sorriu tímido.

— Kyle pare de fazer minha mulher gemer. — Vitor disse. Mas ao ver o que o amigo trazia, ele mesmo deu um passo adiante.

Na bandeja que ele havia colocado na mesa, havia uma torta de amoras. A favorita do amigo.

Alissa viu quando Kyle chegou com a torta cheirosa. Mas também viu quando ele a notou. O homem era lindo, ainda mais com aquela camisa preta e o maldito chapéu.

Ela poderia passar horas apenas olhando para ele. Mas mudou de ideia quando ele se virou. Aquela bunda com certeza merecia algumas mordidas. Quem sabe… Um último pedido…

Pare Alissa! Ela ralhou em pensamento. Lá estava ela, doente, sem grandes esperanças, feia, desejando um homem que poderia ser capa de revista. Digno das melhores campanhas. Era patética mesmo. Mas ele a fazia pensar coisas e mais, sentir coisas que havia desistido de querer e por todos os deuses, tudo isso em menos de um dia. Ela estava perdida. Ela viu quando ele sumiu em direção a caminhonete e aguardou.

Ele voltou alguns minutos depois e trazia algo na mão. Mas ao invés de ir até à mesa, vinha em direção a ela.

— Alissa… — E estendeu a ela um embrulhinho.

Alissa viu com surpresa um pequeno par de olhos pretos e um focinho rosado.

Um filhotinho de cachorro. Um lindo filhote de cachorro. Ela o abraçou apertado, mas sem machucar.

Ela olhou para Kyle e para o filhote e sorriu. O primeiro sorriso verdadeiro em dias.

Ele retribuiu o sorriso e ambos se perderam no momento. Um momento que foi compartilhado em silêncio por todos ao redor.

O momento foi quebrado quando o estômago dela roncou alto e dando uma risada, Kyle lhe estendeu a mão e a ajudou a levantar, indo com ela até a mesa posta, Alissa olhou tudo ao seu redor e pelo que pareceu a primeira vez em meses, comeu com gosto, gemendo deliciada a cada garfada. Sempre acompanhada de Moon, nome dado ao pequeno animal e por Kyle, que comia não tão entusiasmado como ela, mas plenamente satisfeito por estar ali com ela.

Alissa olhou para o homem ao seu lado, e sentiu que algo bom poderia começar, e ela seria grata pelo que quer que fosse. Kyle era especial e ela sentia isso. Não pensaria no passado e menos ainda no futuro. Seria grata pelo presente. E foi com esse pensamento, que momentos mais tarde, ela estendeu a mão a ele e ainda seguros, ela o levou até um dos balanços perto das árvores. Ambos sorrindo.

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora