Capítulo Cinco

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Kyle havia acabado de estacionar a caminhonete na frente de casa quando ouviu o telefone tocar, não se apressou, quase ninguém ligava para ele, e quando ligavam, eram parceiros de negócios, no atual momento ele era a ovelha negra da família, ainda mais pelo que havia falado ao irmão sobre seu súbito noivado. Sua mãe é claro havia ficado ao lado do filho querido, aquele que seguiu os planos que ela havia feito. Kyle havia herdado o amor pela terra do pai, tanto que este antes de falecer havia dividido os bens de modo que os três filhos tivessem as mesmas oportunidades e quantidade de bens. Kyle havia herdado a fazenda e outras terras.

Ele limpou a terra das botas o mais que pôde, afinal dona Hortênsia mantenha tudo limpo e não ficaria feliz caso ele sujas se seu piso encerado de terra. E se havia alguém a se temer, era aquela mulher, mesmo que ela tivesse muito menos que os seus 1,96cm.

- Menino, você deixou seu celular em casa novamente - Ela chegou ralhando com ele, a cena teria sido hilariante dado o modo como ela tinha as mãos apoiadas na cintura avantajada e ainda assim segurava um colher de pau.

Ele nem se deu ao trabalho de procurar o aparelho pois sabia que o havia deixado sobre a cama, ele não era fã de tecnologia e pronto.

- Algo importante aconteceu? - Ele questionou

- O menino Vitor, ligou algumas vezes. - E dizendo isso ela voltou para a cozinha, de onde vinha um cheiro incrível.

Ele pegou o telefone e discou o número do amigo que atendeu alguns toques mais tarde.

- Vitor.

Kyle riu do jeito como ele atendeu

- Kyle.

Os dois riram, a piada sendo relembrada.

- Você precisa lembrar de andar com seu celular, homem.

- Eu não o esqueci, deixei ele dormindo calmamente quando saí da cama essa manhã. Mas me diga, como anda a cidade grande?

Vitor riu pois sabia que o amigo detestava a vida fora da fazenda. Kyle era apaixonado pelo campo, por sua fazenda, seus bois e seus cavalos.

- Nina e eu vamos para a fazenda semana que vem, e depois de alguns dias o restante da família virá, então eu preciso de sua ajuda...

Kyle então ouviu o amigo dizer toda a história sobre a cunhada, sobre a razão dele estar no hospital quando se viram.

- Então... Você pode ajudar?

Ele ponderou por alguns minutos e então respondeu:

- Sim eu pensarei em algo.

Eles falaram mais alguns minutos e desligaram. Kyle ficou um tempo pensando no que o amigo lhe disse e pegando seu stetson saiu apressado de casa, até o canil, chegando lá, foi até a casinha de Dori sua labrador, e fazendo um carinho em sua barriga, disse:

- Oi mamãe, e como vão esses filhotes? Estão grandes...

De repente um dos filhotes veio cambaleando em sua direção e ele o pegou, diferente dos outros este era completamente negro. Desde o pêlo macio até os olhinhos de peteca.

- Você meu amiguinho, vai ter um novo lar logo, logo.

Dito isso ele faz mais um carinho nos animais e voltou para a sede da fazenda, indo até o escritório, sentou e ficou olhando a foto do pai, relembrando como o câncer o levou devagar.

Enquanto isso Alissa saía do hospital, direto para a casa do pai, mesmo a contragosto, a família havia decidido que estava na hora de intervir e segundo eles a intervenção seria iniciada com uma viagem até o rancho do cunhado. Ela não queria ir mas talvez fosse bom, a decisão havia sido tomada, e sua vontade em nada mais contava.

Olhando a sempre ofuscante Cara, parada em silêncio ao lado da janela, olhando o lado de fora com ar perdido, ela começou a se preocupar, havia ouvido a irmã e César brigarem pelo telefone alguns dias atrás e desde então Cara havia mudado. Ela queria perguntar o que havia, aliás já havia feito, mas recebeu um: Nada. Por experiência própria, ela sabia que esse nada queria dizer tudo. Mas daria a irmã alguns dias e se ela não melhorasse a pressionaria.

Os dias passaram rapidamente e de repente o grande dia chegou, Alissa não sabia se ficava feliz ou desanimada em ver toda a alegria reinante na mesa... Ela olhava cada membro da família e fazia uma prece silenciosa por eles. Ela os amava tanto e o medo de deixá-los era como ácido. Todos falavam ao mesmo tempo, exceto o amigo de Vitor, o homem era uma loucura de bonito. Mas algo nele além da beleza a deixava inquieta. Ele a lembrava algo... Decidida a ignorar a sensação ela voltou a atenção às conversas.

De repente ela sentiu o olhar de alguém sobre ela e viu a fitando. E ela arrumou o cabelo sabendo que não havia nada que pudesse fazer para disfarçar as olheiras e a perda gritante de peso. Para uma mulher que sempre se orgulhara da aparência, sabia que os olhos fundos e cerca de 12 kg a menos gritavam "doença".

Ela o olhou esperando que ele desviasse o olhar como todos faziam, mas ele apenas a olhou ainda mais fixamente e ela viu algo que não era pena ali. Mas não quis imaginar o que poderia ser. Não tinha tempo pra isso.

Assim, terminando de comer o máximo que pôde, ou seja umas cinco colheradas, se levantou e foi para fora. Precisava de ar.

Na varanda observava a paisagem e pensava. Em que? Não sabia.

Apenas desfrutava da beleza da vegetação.

- Porque você fugiu?

Ela se assustou ao ouvir a voz grave e se virando deparou com Kyle.

- Eu não fugi.

Ele se aproximou dela ao ponto em que era possível a ela ver que seus olhos tinham minúsculos pontinhos dourados.

- Sim. Você fugiu e não me parece natural em você. Você me parece uma lutadora, não uma covarde. Estou errado Alissa?

Respirando fundo ela disse:

- Eu não estou no mercado.

Ele se aproximou ainda mais e disse rouco.

- Graças a Deus por isso.

Dando um passo para atrás ela pisou em falso e antes que caísse foi segura e puxada por ele. Que a prendeu no peito solido.

- Kyle. Acho que é esse o seu nome. Eu não estou interessada. Caso não tenha visto, estou morrendo.

Longe de se abalar, ele levantou o Stetson e disse:

- Você só morre quando desiste de lutar. Lembre disso.

E dando um aceno a soltou e descendo as escadas, entrou na sua caminhonete e ligou o motor.

Mas antes que saísse gritou:

- Te vejo no jantar Alissa. Vista algo confortável.

E saiu. A deixando boquiaberta.

Convencido. Mas gostoso

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora