Capítulo Um

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Javier havia saído do hospital há algumas semanas, e todos estavam felizes por isso, sua família merecia toda a paz do mundo. E felicidade.
Ela ainda não havia contado a eles sobre sua doença, aliás, a estava ignorando por completo.

Dia após dia ela ia trabalhar, ia aos jantares familiares, saía com os amigos. Se recusava a pensar que estava doente. Alissa sabia que mais cedo ou tarde, teria que procurar o especialista indicado pela doutora May. Porém não tinha vontade.

Naquela noite, ela se sentia mais cansada que o normal, mas iria a uma festa com algumas amigas. A cabeça pesava e o corpo pedia cama, no entanto ela não cederia.

Horas mais tarde Alissa imaginava que estar ali, naquele ambiente barulhento, com cheiro de fumaça e luzes negras não fosse a decisão certa, não havia bebido nada, mas sentia como se tivesse bebido uma garrafa toda de álcool. A cabeça girava, o corpo não obedecia aos comandos certos e ela sentia dificuldade até para pensar, quanto mais falar.

Se levantando com esforço ela tentou encontrar a saída, mas nada ajudava, cada passo trôpego era uma agonia e ela esbarrava em todos. Sem conseguir se desculpar.

Até que esbarrou nele. Alto, moreno, ou assim parecia, ela não poderia avaliar.

— Desculpe… — Ela disse e então caiu para a frente.

Ele a segurou antes que fosse ao chão. E a levou para fora. Alissa ainda tentou se afastar, mas suas forças haviam acabado. Ela queria apenas ir para casa.

Eduardo ajudou a garota a sair e só então pôde olhar realmente para ela. Ela parecia completamente bêbada, embora não houvesse nenhum indício de álcool em seu hálito. Mas ela apresentava pupilas dilatadas, movimentos desconexos, fala arrastada. Ele estava para lhe perguntar se havia algo errado com ela quando seu rosto realmente entrou na luz e ele a reconheceu. Aquela era Alissa Sandoval, a paciente que May havia lhe dito que iria contata-lo. E ela estava doente, muito doente.

Quando ela começou a vomitar, ele decidiu por ela.

Alissa se sentia flutuar, ainda mais com alguns barulhos irritantes ao seu redor, talvez seu despertador tivesse com problemas. Ela estendeu a mão, mas uma ardência nela a fez parar. E abrir os olhos.

Estava em um quarto de hospital e conectado a ela, vários fios e alguns aparelhos. E para piorar, sentada em uma cadeira, Cara.

Ela lembrou da noite passada, de se sentir mal e do encontro com o homem que a ajudou. Lembrava muito pouco depois disso, mas ele devia tê-la trazido ao hospital. Maldito.

— Alissa… — Cara havia aberto os olhos — Como você está se sentindo?

Ela quis brincar e dizer que estava ótima, mas o olhar da irmã não era para brincadeiras.

— Onde estão minhas roupas, preciso ir para casa.

A porta se abriu e ela viu com espanto o homem da noite anterior, e ele trajava roupas do hospital.

— Infelizmente você não poderá ter alta e ir para casa Alissa. Você está com anemia profunda, fora que seus glóbulos brancos estão muito acima do que seria considerado aceitável no seu caso.

Antes que Alissa pudesse dizer algo, Cara interrompeu o médico e perguntou:

— Que caso?

Ele respondeu ainda olhando os papéis, o que o impediu de ver o desespero nos olhos de Alissa.

— O Câncer. Sabemos que os glóbulos brancos mudam nesses casos, mas mesmo assim os dela estão muito acima do esperado.

Cara deu um grito — Câncer Alissa? Você está doente? Como? Quando? Porque não nos contou?

Eduardo olhou para ela e viu desespero em seus olhos, só então percebeu o erro que havia cometido.

— Eu não queria preocupar vocês, havia tanto acontecendo, Javier, Rissa, Nina… Que de repente minha doença pareceu sem importância!

Cara chorava quando a abraçou!

— Como você poderia não ser importante.

Alissa não tinha o que falar e virou o rosto. Cara então fez um sinal para o médico, Eduardo, e saiu do quarto. Sendo seguida por ele.

— Quão ruim? — Ela perguntou

Eduardo não se fez de desentendido e começou a explicar a situação para a pequena loira.

— Ela tem Leucemia. — E começou a explicar, e viu com assombro ela começar a digitar no celular enquanto ele falava.
Só depois de algum tempo ele percebeu dadas as perguntas dela, que ela havia buscado informações a partir do que ele falava.

Alissa ainda dormia quando Cara voltou ao quarto, logo sua família chegaria.

Cara passou um longo momento olhando a irmã dormir e prometeu a si, que não a deixaria desistir. Alissa era a teimosia em vida, mas ela Cara, tinha PHD em persistência. Prova disso era seu relacionamento com César.

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora