Capítulo Catorze - Desculpas

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Eles passaram o restante do dia juntos, Kyle sempre cuidadoso e amoroso, mesmo quando ela comeu e passou mal, ou quando penteou o cabelo e mais alguns fios caíram, Alissa não se sentiu estranha, ele não permitiu. Agora que a tarde chegava ao fim, ele a levava de volta a fazenda, um silêncio confortável no carro.

— Gostaria que você voltasse comigo…

Ela sorriu, pois, também era o que queria, ficar mais aquela noite com ele. E outras se possível.

— Eu adoraria. Mas antes preciso falar com papai e depois deixar minha irmã viúva.

Kyle se lembrou de ter falado sobre Vitor e fez uma prece silenciosa pela alma do amigo. Se aqueles cabelos fossem indícios do gênio de sua “mulher”, sim, pois ela era isso e se tudo corresse bem, seria bem mais do que nos sentimentos, seria também no papel, na união e tudo o mais que ela lhe permitisse.

— Deus tenha piedade dele. — e riu.

Alissa o acompanhou na risada.

— É, talvez eu não o mate, até porque no lugar dele talvez fizesse o mesmo, mas ele vai me ouvir e muito bem.

Eles se aproximaram da entrada e ela se sentiu nervosa.

Colocando a mão por cima da dela, ele questionou baixinho:

— Isso é pelo Vitor?

Ela balançou a cabeça que não.

— Pelo meu pai, eu não quero falar agora, mais tarde talvez, mas fui uma cadela com ele, joguei nele meus medos e minha raiva por estar doente.

Kyle a fez se virar e olhando nos olhos dela disse:

— Tenho certeza que ele entendeu, que não levou muito a sério o que você disse, Carlo ama os filhos demais para guardar mágoas. Mas se vai fazer bem aos dois, se desculpe, deixe-o saber que você estava com medo. Escute o que ele precisa dizer amor, o seu medo é infinitamente maior nele. Ele é o pai, e não pode te fazer ficar bem, não pode tomar para ele a tua dor. Se em mim isso dói, imagine nele, que ama você a muito mais tempo que eu.

Pela primeira vez, ela percebeu que o pai também devia estar assustado, Carlo tinha sido ausente, mas todos sabiam o quanto ele os amava e o quanto lhe doía as suas dores, ela vira como foi com Javier, como foi com Nina, como havia sido com Rissa, e com um calafrio, recordou como havia sido com Cara, tão pequena e quase dividida em duas. Carlo havia quase enlouquecido.

— Vou fazer isso, irei ouvir e me assegurar que não tenham mais mal-entendido algum.

Ele estacionou e desceu para abrir a porta do carro para ela. Segurando a mão gelada dela, ambos subiram as escadas até a varanda e entraram na sala. A cena a frente deles era no mínimo hilariante. Vitor, Javier, Cara e Milana jogavam no chão, um jogo que ele não recordava o nome, mas os mantinham em posições estranhas tentando alcançar a bolinhas de cores diferentes. Javier ele tinha certeza não aguentaria muito tempo, não naquela posição.

Nina e Rissa comiam amendoins jogando nos homens apenas para velos perder o equilíbrio. César, Kane e Carlo jogavam baralho e Rosa bordava algo. Alissa colocou Moon no chão e o cãozinho correu para o jogo, fazendo todos perderem o equilíbrio e caírem uns por cima dos outros. Em risos.

Alissa riu junto, e Kyle e os outros suspiraram, era ótimo ver e ouvir aquele riso. Carlo olhou a filha e viu algo que deu a seu coração um alento: Esperança. Alissa estava recuperando a sua esperança.

Alissa esperou Vitor se levantar e assim que ele o fez, ela o puxou pela camisa dizendo:

— Vamos ali conversar. E Nina, se eu fosse você procurar um vestido preto.

MEU TORMENTO 04 - confiar e perdoar Onde histórias criam vida. Descubra agora