Candidata Nº1

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O gotejar da água na cela era o único som que Ayana ouvia desde que tinha sido colocada ali. As refeições apareciam sempre nos mesmos horários, não que ela as comesse. A candidata a princesa sabia muito bem quais os riscos de comer comida de fada. Ela ficaria presa ali. Pela eternidade. Então ela geralmente recorria aos brotos roxos que nasciam em sua cela. Eles ainda eram alimentos nascidos das Cortes, mas pelo menos ninguém tinha tido a chance de enfeitiçá-los.

Como não estava acostumada a nenhum som, ele ficou surpresa ao ouvir um par de passos ecoando pelas pedras. Depois de alguns minutos duas feéricas apareceram na frente de sua cela. Elas eram opostas de todas as maneiras possíveis. A primeira era baixinha, com a pele negra, cabelos crespos e escuros, olhos vermelhos e asas brancas e peluciadas, seu rosto parecia amistoso e meigo. A segunda era alta, tinha a pele branca e corada, seu cabelo era do mesmo tom de loiro do que o de Selene e suas asas eram negras como a escuridão, lisas como vidro.

—Quem são vocês? A voz de Ayana soou rouca ate para os próprios ouvidos, ela não tinha a usado muito nos últimos dias.

—Eu sou Alaznie. —Disse a primeira. —Ela é Tina. Surpresa pela resposta, que não esperava receber, Ayana se levantou.

—E o que vocês estão fazendo aqui? Tina deu um passo na direção da cela dela e com um movimento de mão a abriu. Visco não alterava a magia dos feéricos, para eles apenas o freixo tinha algum efeito.

—Sua Alteza, príncipe Asmyr solicitou sua presença no banquete de hoje. Príncipe. Asmyr era um príncipe. Por essa Ayana não estava esperando, durante o breve período de tempo que os dois passaram juntos ela tinha descoberto poucas coisas sobre ele. O fato de ele ser um príncipe mudava completamente a presença dela ali.

—E por que ele faria isso? Tina que ainda não tinha dito uma palavra se quer olhou para Ayana com desprezo e disse.

—Sua Alteza não se explica para nos. E nós certamente não respondemos a você. Ayana fez questão de revirar os olhos onde Tina pudesse ver antes de seguir ela e Alaznie pelo corredor escuro e úmido em direção a cortina que parecia ser feita de luz do sol.

***

As Cortes Feéricas eram divididas em onze grandes territórios, no centro de todos eles ficava a capital. Aphelis. A cidade era uma mistura de todas as onze Cortes e era governada pela bela e traiçoeira rainha Ehlena. Isso era tudo o que Ayana sabia sobre a política das cortes. Enquanto subia pelas escadas em aspirais, tão brancas que pareciam feitas de ossos, a garota aproveitou para olhar ao redor. Ela devia estar dentro da residência da rainha, por que por mais que as Cortes fossem ricas, ela não podia imaginar que aquele tipo de luxo estaria por toda parte. Flores de todos os tipos e cores decoravam não apenas vasos, mas os próprios móveis eram feitos com elas, as cadeiras eram de margaridas. Os tapetes de pequenas flores rasteiras e as estantes que guardavam os livros eram grandes cerejeiras das quais os galhos se dispunham de maneira a criar espaços para os livros. Aquela era sem duvida uma característica da Corte Primaveril. No segundo andar, rubis, granadas, citrinos e topázios do tamanho de ovos de pata incrustavam uma passarela no chão. Ao caminhar sobre ela, Ayana achou que podia estar muito bem andando sobre o fogo. Corte Outonal. Ela supôs que se estivesse disposta a olhar com mais atenção, ela veria os detalhes de cada uma das cortes ali. Mas com medo do que viria, ela apenas se focou em não demonstrar nenhuma fagulha de medo, nada que pudessem usar contra ela. Alaznie abriu a porta de um dos quarto e deu um empurrãozinho em Ayana para que ela entrasse. O quarto poderia muito bem ser a própria noite. As paredes foram todas pintadas de negro, mas estrelas tremeluziam por todos os lados. A lua crescente fora pintada em uma das paredes, com tantos detalhes e luminescência que a pintora em Ayana se perguntou que tipo de técnica fora necessária. Os lençóis na cama eram da cor de ametistas, escuros e ainda assim, estranhamente reconfortantes. E os demais moveis eram todos brancos e translúcidos, como se tivessem sido esculpidos em estrelas.

—De quem é esse quarto? Ela quis saber ainda espantada pela beleza dos detalhes.

—Do príncipe Asmyr. Ayana sibilou baixinho em indignação, atraindo o olhar das duas feéricas.

—E o que eu estou fazendo aqui? Tina lhe lançou um sorriso debochado antes de dizer.

—Você acha mesmo que o príncipe estaria interessando em você? Alaznie fez uma careta para amiga e disse.

—Nós vamos apenas arrumá-la para o banquete aqui. Ayana respirou fundo e se acalmou, ela podia lidar com aquilo.

As duas feéricas prepararam um banho para Ayana e não se importaram com sua modéstia enquanto ela o tomava. Elas pentearam seus cabelos e lhe estenderam um vestido azul escuro e ametista. Feito de seda que reluzia a cada movimento. Seus sapatos eram de veludo negro, simples e confortáveis. Não foi sem surpresa que Ayana percebeu que o vestido comportava perfeitamente as asas que ela ainda carregava. O peso do acessório tinha incomodado na cela durante algum tempo, mas aquela altura a garota já tinha se habituado a ele. Apesar de dar tudo para que alguém removesse o feitiço que as mantinha ali. Foi só quando se olhou no espelho que Ayana reparou que as asas que se penduravam de suas costas não eram as mesmas que ela usara na festa dias antes. Elas eram como asas de borboletas, mas transparentes, exceto pelos detalhes em roxo e lilás. A maquiagem em seu rosto se estendia a baixo dos olhos com linhas e espirais negros que saiam de suas pálpebras.

—Você quase parece feérica, borboletinha. Ao ouvir aquela voz Ayana sentiu cada pelo do seu corpo se arrepiar. Ela se virou em um movimento lento e letal para encará-lo. —É melhor assim, desse jeito minha mãe não vai reparar em sua presença. Ayana franziu o cenho, ate onde sabia a estadia dela ali era puramente por vontade da rainha.

—Sua mãe não sabe que você me trouxe para cá? Asmyr fez uma cara de tédio e por fim disse.

—Ela sabe que você esta aqui no palácio, mas talvez eu tenha esquecido de mencionar que a levarei ao banquete.

—E por que você faria isso? O príncipe se aproximou dela ignorando as feéricas e sussurrou em seu ouvido antes de tomar seu braço.

—Achei que você já estaria cansada da sua cela.


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