Candidata Nº19

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Obarco de Selene tinha muitas flores, tantas que algumas caíram logo que ele deixou a margem do rio. Apesar de não ser exatamente talentosa com os arranjos como Rebecka e Bree, ela conseguiu deixar seu barco bastante bonito e seu coração se acendeu um pouco ao vê-lo partir. Ao seu lado Dimitri aguardava calado, enquanto ela se decidia se queria ou não continuar a conversar com ele. Seu coração idiota e inconstante estava inquieto em seu peito, exigindo que ela se virasse e sorrisse para o príncipe, mas como qualquer pessoa com o mínimo de Inteligência ela sabia que não podia confiar nele. Por que naquele momento Dimitri estava pedindo que ela abrisse mão de uma de suas amigas, mas talvez no futuro ele pediria para ela parar de escrever seus livros e em um ou dois anos ela não poderia nem sair de casa. Não era esse o tipo de relacionamento que Selene queria, se Dimitri quisesse ficar com ela o mínimo que ele teria que fazer era aceitar e conviver com as escolhas dela. A alguns meses atrás a historia poderia ser diferente, mas ela já não era mais aquela garotinha carente e que não acreditava que poderia ser amada. Ela era uma Lady agora, uma possível princesa e acima de tudo ela descendia do povo de Vishousa. Uma mulher que sabia como ninguém o poder que todas as mulheres têm o poder de controlar o próprio destino, fazer as próprias regras e caso alguém se opusesse a isso ela poderia facilmente esmagá-los.

— Acho que vou sozinha. Ela pensou alto a medida que a fila de embarque se formava no cais, Dimitri suspirou.

—Olha Selene eu sinto muito. Sinto por tudo, mas eu não consigo evitar. Não posso não odiá-la pelo que ela fez com meu irmão. Com uma paciência que ela não sabia da onde vinha a garota se virou para ele e respondeu.

—Eu gosto de escrever, mas também gosto de ver Ayana pintar. Adoro ouvir quando Rebecka toca e posso falar sobre livros com Bree durante um dia inteiro sem nem ver o tempo passar. Não faço isso por que gosto delas, faço isso por que eu gosto. Da musica, da arte e dos livros.

—Não entendi.

—Sabe quando Antony começa a falar sobre mapas? Você escuta certo? Mas por que você faz isso? Ele franziu a testa sem entender.

—Por que Antony quer falar sobre mapas e eu quero falar com ele.

—Mas você gosta de mapas? Ele negou com a cabeça.

—Você sabe que não.

—Essa é a diferença, você não escolheu Antony para ser seu irmão. Vocês nasceram na mesma família e por isso você o ama e conversa com ele sobre as coisas que ele gosta. Assim como eu quando estou em casa converso com minhas irmãs sobre moda e desfiles mesmo que odeie isso, por que as amo.

—E o que isso tem haver com Claire? Ela sorriu de leve.

—A pintura, a musica, os livros das meninas são partes de mim. Eu gosto disso, e sou amiga delas por que gosto disso. Foi uma escolha minha, nós não nascemos na mesma família e ainda sim elas são partes de mim. A audácia de Claire, o jeito que ela tem com os cavalos eu adoro isso nela. Há uma parte de mim que deseja de ser sensível como a Ayana, esperta como a Rebecka, inteligente como Bree e audaciosa como a Claire. Toda vez que você a machuca você machuca essa parte de mim e se você a odeia, você odeia uma parte de mim também e eu não quero ficar com uma pessoa que me odeie.

—Eu... Não sei o que dizer sobre isso, eu nunca entendi por que vocês duas são amigas, vocês não tem nada em comum.

—Você não a conhece, não de verdade. Você sabe apenas o que seu irmão te contou e é por isso que você a odeia agora, por que Stefan se sente assim e você não sabe como se sentir. Se você apenas pudesse dar uma chance a ela... Eu acho que as coisas seriam diferentes.

Um silêncio se estendeu entre eles por um longo momento enquanto o príncipe considerava as palavras dela.

—E o que ela pensa sobre isso?

—Eu estaria disposta a tentar se você estivesse, mas não prometo nada. Disse Claire ao passar por eles acompanhada de uma garota de cabelos dourados como a luz do sol.

—Quem é sua amiga? Quis saber Selene. Claire olhou para a garota e as duas sorriram uma para a outra.

—Essa é a princesa Virgynia da corte feérica, aparentemente Amox falou bem de mim para ela.

—Meu irmão não pode vir as festividades, mas para honrar a paz minha mãe solicitou que eu viesse. Lady Labonair foi muito recomendada por meu irmão, uma excelente companhia ele disse. Soa bem para mim. A princesa era incrivelmente bela, uma mistura do olhar sexy e provocante da própria Claire e da beleza clássica de Ayana apesar dos olhos ametistas acrescentaram um toque só dela. Com uma despedida polida as duas entraram em seu barco e Selene e Dimitri foram conduzidos a outro barco logo depois. As flores no barco deles eram dálias azuis escuras como o céu noturno e lanternas de todas as cores e com desenhos de todos os tipos aguardavam para serem soltas, assim que os sinos tocassem.

—Prometo que vou tentar, vou fazer tudo o que for preciso. Sussurrou ele assim que o barco começou a se mover.

—Não estou pedindo que você me dê a lua ou o brilho das estrelas, só quero que você tente conhecê-la melhor, tente não julga-la com as lentes de Stefan.

—Mesmo que fosse a lua ou o brilho das estrelas, mesmo que fosse algo impossível eu faria. O estúpido e perturbado coração dela deu um salto, ele se aproximava dela de vagar, o azul dos olhos dele se tornando a única coisa que ela podia ver. Olhos doces e ternos, cheios de promessas para uma vida inteira. Eles estavam tão próximos que Selene podia ouvir o coração do príncipe batendo, um martelar nas costelas, rítmico, mas descompassado tal como o dela. O barulho era tão alto que os dois quase não ouviram o som resonante dos sinos de toda a capital que tilintavam ao mesmo tempo, tocando a mesma canção, chamando uma primavera farta e cheia de vida.

—Incendia. Dimitri chamou e de repente todas as lanternas se acenderam, minúsculas chamas brilhando dentro de cada uma delas e com um movimento de mão de Selene elas começaram a flutuar, cada uma seguindo seu próprio caminho, queimando o inverno gelado e trazendo novas esperanças. Ao redor deles havia tantas lanternas flutuantes que os outros barcos tinham desaparecido e no por do sol róseo e violáceo as lanternas eram as únicas coisas que eles viam.

—Quando eu cheguei aqui eu fiquei surpreso. Meus irmãos tão pouco suscetíveis ao amor, estavam apaixonados. Fiquei me perguntando se haveria alguém para mim, se os deuses concederiam essa graça a todos nós. Achei que fosse pouco provável, eu não sou o filho preferido da minha mãe nem do meu pai, não sou o mais inteligente ou o mais bonito. Nunca fui, eu achei que merecia pouca coisa, que qualquer garota serviria. Mas ai eu encontrei você nas cozinhas, não só um rosto bonito, mas um espírito vivo, um humor mordaz e uma capacidade de amar incondicionalmente. Você é muito mais do que eu mereço Selene, mais do que qualquer um merece, então se você quiser o sol, a lua ou as estrelas eu os darei a você, por que tudo isso ainda seria pouco em relação ao que você merece. Os olhos dela estavam a ponto de deixar escapar suas lagrimas e pela primeira vez seu coração estava tranquilo, ela também não era a preferida dos pais, não era a garota mais bonita do mundo ou a mais inteligente. Naquele momento ela percebeu que os dois não eram metades a serem completadas, eles eram um todo. Separados eles eram perfeitos, complexos e indispensáveis, mas juntos eles se permitiam transbordar.

Então ela o beijou, porque soube naquele momento que o amava, que assim como havia partes suas que eram compostas por suas amigas, havia também uma parte que vivia nele e ela jamais abriria mão daquela parte de si mesma. Os lábios dele eram como fogo e gelo contra os dela, suaves e cálidos, mas também sedutores e insistentes e ela achou que se o mundo acabasse naquele momento, ela nem se daria conta. 

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora