Príncipe Stefan da Tríade do Oeste

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Stefan sentia o desespero corroer lentamente suas veias. Sombras se arrastavam pela campina na forma de imensos escaravelhos do deserto, suas mãos humanoides os impeliam para frente. Cada vez mais próximas dele. Exceto o que atacara Claire, ele estava parado ao lado deles, olhando enquanto veias negras começavam a surgir no peito da garota. Uma de suas garras era afiada e tinha o formato de uma faca que pingava sangue carmim. Medo não era uma emoção que Stefan estava acostumado a sentir, ele fora criado para ser valente, para não temer nada e abraçar a morte como uma velha amiga. No país da sedução medo era uma emoção estrangeira e talvez por isso ele tenha demorado tanto para agir. Ele se levantou com um salto, puxando sua espada da bainha e cortando ao meio a Sombra que estava ao lado de Claire. O príncipe agarrou a garota com uma das mãos e a jogou sobre seu ombro com o máximo de cuidado que pode. Usando apenas uma das mãos a espada se movia de um jeito desajeitado. Mas aquelas não eram Sombras das mais espertas, ele conseguiu cortar seu caminho ate onde os cavalos estavam. Uma das Sombras alcançou Chuva e Tempestade ao mesmo tempo que eles, ela se desdobrou e se ergueu bem em sua frente. A Sombra se transformou em uma mistura estranha de um homem sem rosto que tinhas nas costas a forma do escaravelho, suas mãos terminavam em facas negras que brilhavam contra escuridão. Com um movimento rápido ela cortou a cabeça de Chuva fazendo com que Tempestade ficasse histérica e a atacasse. Aproveitando a distração que a égua criara Stefan cortou a Sombra em suas metades. Ele jogou Claire em cima de Tempestade e subiu logo atrás. A sombra estava começando a se regenerar quando a égua saiu em disparada da campina. O coração de Stefan batia com tanta força que ele podia escutá-lo, e ele estava com medo de mais para sequer olhar para Claire. Ele não queria ver que estava lutando por um cadáver todo esse tempo. Quando eles já estavam longe o suficiente para que a campina desaparecesse de seu campo de visão, Stefan se permitiu virar Claire e encará-la. Seu vestido estava rasgado dos dois lados e ele via claramente ver a abertura redonda e escura que estava aberta nas costas dela. Através da ferida ele podia ver seu coração batendo, cada batida mais de vagar que a próxima. Não demoraria muito para que ele parasse de bater. Stefan não conseguia distinguir o tanto de sangue que ela perdera, o liquido se misturava a cor do vestido tão intensamente que se não fosse pela umidade ele mal notaria que ela estava sangrado. Como se pode molhar o mar? Como é possível o sangue ser colorido de vermelho? O oráculo tinha perguntado a Stefan logo que ele chegara a Arzua, ele não tinha resposta naquele dia, mas tinha uma agora. Com uma ferida de Sombras feita no coração de uma menina. Acima deles a noite caia sem nenhuma piedade, eles nunca chegariam ao palácio antes de escurecer. Tempestade já estava exausta de carregar os dois por tanto tempo. Se ainda estivessem do lado de fora quando a noite chegasse era bem possível que as Sombras os atacassem novamente. Stefan fez com que Tempestade parasse, ele sabia o que precisava fazer. Ele desmontou, pegou Claire no colo e parou de frente para o animal.

—Você precisa voltar para o palácio, precisa fazer com que eles venham nos encontrar. Você precisa me ajudar a salvá-la.

Tempestade podia ser a égua mais aterrorizante do palácio, mas ela amava Claire, qualquer pessoa podia dizer isso. Ela saberia exatamente o que fazer. Stefan nem precisou bater na égua para que ela começasse a correr a toda velocidade para o palácio, Tempestade viria com ajuda em breve só que para isso eles não podiam ficar parados. Uma vez, durante uma caçada em Acaiah em que Stefan tinha se embebedado de mais, ele carregou um javali por vinte e um quilômetros dos campos ate o palácio. Ele conseguiria carregar uma garota de setenta quilos por dez quilômetros. Ele precisava conseguir.

—Fica comigo Claire, você só precisa esperar mais um pouco. Nós já vamos chegar em casa. Ele suplicou com lagrimas se acumulando em seus olhos. Stefan podia enxergar o palácio a distancia, eles não estavam tão longe assim. Um passo atrás do outro o príncipe persistiu, mesmo quando a chuva começou a cair sobre eles, mesmo quando ficou obvio que ele tinha machucado a perna. Suas forças estavam indo embora rápido de mais, sua perna parecia se recusar a dar um passo a mais se quer da maneira que estava e seus braços estavam ficando dormentes. E ainda assim ele não parou. Stefan não deixaria Claire morrer, não agora que eles estavam tão perto, não quando a algumas horas atrás estava claro que ela ia beijá-lo. Que ela queria isso. A ultima vez que a perna de Stefan alcançou o chão mirando o próximo passo eles estavam no arco externo do palácio, pelo menos três quilômetros de distancia da entrada. A chuva se misturou com as lagrimas que escorriam do rosto do príncipe enquanto ele gritava, fraco de mais para se levantar carregando a garota que ele tinha nós braços.

A única garota que ele ousara amar.

A única que quase o enlouqueceu fazendo os mesmos jogos que ele fizera com milhares de garotas antes dela. No fundo de seu coração Stefan sabia que não era digno dela, Claire não era nenhuma dama, nenhuma lady, mas ela sempre deixava suas intenções claras. Stefan era dissimulado e procurava enganar quem podia para ter um pouco de atenção. Ele prometia amor quando não tinha menor intenção de cultivá-lo e esse era o castigo dos deuses por aquilo. O príncipe que passara a vida iludindo as mulheres tinha sido iludido por um único segundo antes de perder a única mulher que amou. Ele abraçou o corpo mole e cada vez mais frio da garota e usou seu ultimo resquício de força em um grito que cortou a alma.

Ao longe mesmo através da chuva, ele ouviu um relincho distinto de um animal que ele conheceria em qualquer lugar. De um animal que o odiava e ainda assim Stefan nunca ficou tão feliz em ver um cavalo. Por que Tempestade estava vindo em sua direção, e atrás dela vinha um esquadrão do exercito. Talvez Claire ainda tivesse uma chance afinal.

Parecia que todos os guardas do palácio estavam sobre eles. Enquanto um deles tirava Claire dos braços de Stefan e começava a correr com ela em direção ao palácio, outro o ajudava. Eles se moveram rápido, como se o guarda soubesse que Stefan não ficaria longe de Claire. Não em um momento como aquele. Não quando cada batida do coração dela podia ser a ultima.

Eles foram diretamente para o quarto de Claire, abrindo caminho entre algumas garotas que estavam nos corredores. O curandeiro e a Primeira Ministra já estavam dentro do quarto, a mulher estava pálida, completamente lívida ao contemplar com horror a garota que foi deitada na cama. O curandeiro foi em sua direção e trabalhou rápido, as mãos envoltas por uma magia amarelada e ofuscante. Lentamente Claire parou de sangrar, os dois lados da feria em seu peito se encontraram e por fim o rasgo se fechou. E ainda assim o peito subia de forma superficial de mais, a respiração era quase um sussurro. Ela estava morrendo.

—O que posso fazer esta feito. —Disse o curandeiro. — Mas o veneno ainda corre no sangue dela. Sinto muito. Não, ele não podia estar dizendo aquilo, não quando isso significava que ela estava realmente partindo. Não quando significava que nada mais poderia ser feito.

—Como assim? Tire o veneno. Arrume um antídoto. Faça isso agora. Stefan não saberia dizer quando Rebecka tinha entrado no quarto, mas ela e Selene estavam paradas, lado a lado encarando o curandeiro. O olhar no rosto delas, dava a entender que o curandeiro enfrentaria as consequências se não as obedecesse.

—O veneno no sangue dela é Veneno das Sombras, criança. Nada no mundo pode salvá-la. O rosto de Rebecka ficou imóvel, como se ela se recusasse a ceder ao desespero.

—Isso não é verdade. Sussurrou a Primeira Ministra em um fio de voz quase imperceptível. —Amor. O amor verdadeiro pode salvá-la.

—Não há veracidade em tal informação. Isso é lenda. —Contradisse o curandeiro, mas Stefan viu a Primeira Ministra segurar com força o braço direito, revelando um pedaço de pele sob a manga longa do vestido. As veias negras saltavam do braço, criando padrões aspiralados exatamente como os que ele vira no peito de Claire.

A vida de Claire estava em jogo e por isso Stefan não podia arriscar, não podia fazer as coisas pela metade. Ele só tinha uma chance de salvar a vida de Claire e ele faria isso. Então ele foi em direção da porta e saiu deixando apenas o silêncio para trás. 

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora