Candidata Nº1

21 7 0
                                    

Ayana tinha recebido permissão para vagar pela cidade com tanto que levasse Tina ou Alaznie com ela. Mas ela nunca saia do quarto de Asmyr, onde tinha passado as ultimas semanas. Ele passava as noites ali também. Na mesma cama que ela, mesmo que ela tenha se irritado e dormido no chão nas primeiras noites. O chão na Corte era sempre frio e vez ou outra ela acordava coberta de insetos, dividir a cama com ele não parecia um desafio tão absurdo assim. Asmyr nunca tocava nela, ele dormia de um jeito estranhamente imóvel e a única coisa que fazia constantemente era irritá-la. Tina e Alaznie apareciam todos os dias a vestiam e arrumavam seus cabelos. Em determinado momento, elas também tinham usado nanquim para pintar arabescos rúnicos subindo de seus pés ate suas coxas. Ela não se incomodou, a pintura era bonita e oferecia uma cobertura onde as roupas lhe faltavam. Seus vestidos, na maioria das vezes, tinham grandes fendas nas pernas e eram feito de tecidos finos e suaves. A moda na corte feérica era mais suave e aberta, mas ousada e se precisasse admitir, Ayana gostava.

Asmyr voava pelas janelas do quarto com a frequência que queria, apesar de na maior parte do tempo, ele ficar ocupado com seus deveres. Ayana descobriu por Tina que ele, além de príncipe, também era o governador da Corte Noturna. Não combinava com ele, a Corte. Asmyr era todo dourado e verde. Como o verão, ou talvez a primavera. Foi Alaznie que disse que a Corte se refletia na personalidade do feérico e não em sua aparência.

Ayana conseguia ver lógica naquilo. Asmyr era astuto e sombrio, mas também deslumbrante e orgulhoso. Sempre pregando peças nos mais desatentos. Nas ultimas semanas a candidata a princesa se via constantemente presa aos jogos dele. Uma vez ele mandou seu irmão mais novo, Amox, completamente nu para seu quarto. Ayana ficou chocada e o espantou com uma cadeira. Asmyr, que assistia tudo da janela, riu tanto que quase perdeu o equilíbrio durante o voo.

Ao mesmo tempo que os jogos e as atenções de Asmyr a irritavam, eles também a confundiam. Ela sabia que ele não tinha nenhuma razão para mantê-la em seu quarto, sabia que se dependesse da rainha ela estaria nas masmorras. Ele pedia a Tina que a alimentasse com frequência e ela, sabendo que a comida não estava enfeitiçada, se sentiu obrigada a aceitar. Ate mesmo os vestidos luxuosos e exuberantes que ela usava eram obra dele. Ayana estava se perguntando que tipo de poder ele tinha, para fazer todas aquelas coisas sem que sua mãe o repreendesse. A garota ficou tentada a perguntar, mas mesmo que os dois dividissem o quarto, eles raramente conversavam e quando o faziam, ela saia da conversa mais confusa do que nunca. Enigmas eram a única língua que o príncipe feérico falava e apesar de conhecê-la, Ayana não era fluente naquela língua especifica. Os materias de pintura, que tinham sido entregues a ela na semana anterior, estavam espalhados pelo quarto enquanto ela pintava. As cores sombrias e misteriosas da floresta feérica só eram suavizadas pelo tom de verde brilhante dos olhos de Asmyr. No quadro, ela estava deitada, coberta pelas raízes de arvores e embaixo de uma besta dentuça e escamosa. Asmyr se erguia sobre os dois flamejando em luz como um anjo vingador, portando uma espada afiada.

Sempre que pensava naquela noite, um gosto amargo invadia a boca de Ayana. Aquela tinha sido sua única chance de escapar e ela a desperdiçara com cansaço e estupidez. Se não fosse por Asmyr ela podia muito bem estar morta. Ela não gostava daquilo. Ela já tinha dividas de mais com aquele príncipe e ainda assim sua conta só parecia aumentar. Asmyr tinha brigado com ela por aquela parada, a chamara de imatura e estúpida. Ela tinha argumentado que qualquer pessoa com menos de cem anos eram considerada imatura em relação a ele e um sorriso a contra gosto tinha surgido no rosto do feérico. Ela não tinha rido, apesar de achar graça no próprio comentário. Ela estava irritada de mais com ele e com si mesma para rir.

Ayana estava finalizando as pinceladas no quadro quando Asmyr entrou. As mãos estavam sujas de algo negro e com aparência pegajosa. Como o sangue da criatura que atacara Ayana na floresta. Em seus olhos se viam apenas as pupilas, negras e assustadoras. Seu rosto era uma mascara de ódio mal contido.

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora