Candidata Nº1

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Ayana estava deliciosamente aquecida pelos braços de Asmyr, ele dormia profundamente como se nada no mundo pudesse acordá-lo. Exatamente como na primeira noite que os dois passaram juntos. Realmente juntos. Com a boca dele sobre a dela, abafando cada um de seus suspiros antes mesmo que eles ousassem existir. Parecia uma boa maneira de encerar aquele conto de fadas macabro, e de alguma forma mágico. Ayana sabia que na manha seguinte ela voltaria para Arzua. Que aulas de protocolo e lições de magia jamais se comparariam com os jantares onde Amox, Asmyr e Virgynia perseguiam o jantar que corria sobre a mesa e as aulas de voo. Aquelas eram as coisas que ela tinha aprendido a amar, eram coisas que faziam parte de um mundo ao qual ela jamais se imaginou pertencer. A candidata a princesa sabia que estava na hora de abandonar vestidos azuis e prateados e voltar a usar lilás. Nas Cortes ela tinha usado uma coroa de espinhos, Ayana tinha sido exposta e sua parte mais selvagem tinha ficado evidente. Em Arzua ela colocaria sua coroa de rosas novamente, trancaria a loucura dentro de si e voltaria a ser a boa garota. A garota que um dia poderia amar Victor. A garota que um dia poderia ser Evangeline Vishous.

E apesar de tudo uma pequena parte dela estava ansiosa para voltar, para investigar mais sobre que ela era. A rainha tinha confidenciado um segredo a Ayana, um segredo que os feéricos tinham guardado por dezesseis anos. Ayana sabia que fora criada como uma Ishad, mas ela não era uma. A rainha tinha chamado de criança trocada e depois de perguntar a Alaznie ela descobriu que aquele era um jogo entre as fadas. Elas costumavam trocar uma criança por outra, colocando uma princesa no subúrbio, uma plebeia em uma casa da realeza. Era divertido para os feéricos ver como as famílias reagiam as diferenças, eles adoravam ver o desespero de um burro tentado se passar por um alazão. Tinha sido engraçado para eles ver Ayana ser criada por uma família rica, que veio a empobrecer. Foi engraçado ver os Ishad acolherem uma garota que não era nem de longe tão engraçada e extrovertida quanto eles. Pelo menos foi engraçado para os feéricos.

Ayana não sabia por onde começar, Asmyr se recusara a falar qualquer coisa sobre o assunto e a rainha, depois de revelar a historia, ficou contente em apenas sorrir enigmaticamente. A garota sabia que havia uma princesa perdida, que ela tinha sido escolhida para treinar para aquele cargo, ela só gostaria de saber se era mesmo ela. Ela queria saber uma infinidade de coisas, mas enquanto estava ali, deitada com Asmyr ela só queria uma coisa.

Ele.

Então quando o feérico se virou com uma luz perigosa e sensual se acendendo em seus olhos Ayana o beijou e deixou que ele a fizesse ver estrelas uma ultima vez antes que ela tivesse que voltar a terra.

****

Ayana estava aguardando do lado de fora com suas malas aos seus pés, Amox a olhava meio divertido, meio irritado. Ele tinha ficado responsável por levá-la de volta a Arzua depois que Asmyr deixou claro que ele não a levaria. A rainha Ehlena tinha ficado irritada, mas Ayana sabia que ela não o obrigaria a ir. Asmyr tinha partido cedo pela manha, a deixando sozinha m meio aos lençóis. A garota tinha arriscado um pequeno voo sobre o palácio para encontrá-lo, como os ventos não tinham colaborado e ela ainda não dominava completamente a arte do voo ela logo desceu. Era ridículo da parte dele não se despedir, principalmente porque ele sabia tão bem quanto ela que não haveria volta, que os dois nunca mais ficariam juntos. Aquela era a ultima chance dos dois. Ela estava quase se virando para dizer a Amox que estava pronta para ir embora quando uma sobra a cobriu. As asas de Asmyr, abertas em sua completa envergadura tinham escondido o sol por um momento. A cor negra suavemente pontilhada de azul tinha absorvido toda luz em volta da garota. Ele posou bem na sua frente, o bater de asas bagunçando seu cabelo perfeitamente trançado. Ayana não ousou dar um passo para trás, apesar de perceber em sua visão periférica que Amox e os guardas tinham se afastado.

Asmyr a olhou e ele tinha os olhos tão intensos que parecia que eles continham uma tempestade, eles brilhavam com aquela luz própria que apenas os feéricos possuíam. Era a marca daquele tipo raro e confuso de magia que ela jamais entenderia. E pelo qual ela se via encantada.

—Você não precisa ir. Começou ele provocando um sorriso em Ayana, ela tinha apostado consigo mesma que ele não pediria para ela ficar.

—Preciso sim. Suas palavras soaram com pouca convicção ate mesmo para seus próprios ouvidos. Se aquilo era um jogo, Ayana estava perdendo. — aqui não é minha casa Asmyr, por mais que você faça parecer que é. Minha presença aqui só causará morte e guerra, para o meu povo e para o seu. Meu trabalho aqui esta feito.

As mãos de Asmyr subiram para rosto dela em um toque tão delicado que parecia o carinho de uma pétala de rosa.

—Você só me disse razões pelas quais deve ficar.

Feéricos se comportavam de um jeito diferente, um jeito que ela estava muito longe de entender, para eles a guerra era uma grande festa e a morte, uma honra. Ayana acariciou os cabelos de Asmyr expondo suas orelhas pontudas, ela refez o percurso de suas mãos ate tocar nos lábios dele que se abriram liberando um halito quente em sua mão.

—Você não esta me ouvindo direito. Eu sinto falta de casa, sinto falta das minhas amigas, sinto falta de... As feições de Asmyr se contraíram endurecendo imediatamente os músculos de seu rosto sob a mão dela.

—Do duque não é? Sua voz era o próprio veneno das roseiras que cresciam ao redor da corte. Ayana segurou suas lagrimas e agarrou o rosto dele com ambas as mãos.

—Você foi a maneira mais rápida que encontrei de conhecer o inferno. — Suas palavras eram apenas um sussurro que não se distinguiam em nada dos ventos que os rodeavam. Ayana não achou que isso fosse possível, mas as feições dele ficaram ainda mais graves, marcadas pela dor que as palavras dela causavam nele. —Mas também foi graças a você que eu descobri o que é o paraíso. O príncipe feérico não disse mais nada, ele apenas a pegou pela cintura, as assas de ambos criando um mundo só deles, e a beijou com paixão o suficiente para fazê-la estremecer.

—Não vá a lugar nenhum. Era um pedido do fundo da alma e ela quis ceder, porque parte de seu coração estava ficando para trás com Asmyr. Uma parte que ela tinha perdido no momento que seu olhar encontrou o dele em seu estúdio de arte a tantos meses atrás.

—Venha me visitar sempre que quiser. Disse ela enquanto se afastava, mesmo sabendo que ele não iria. Ela também não queria que ele fosse. O conto de fadas tinha acabado, ela tinha uma vida real para qual devia voltar.

—Vou sonhar com você todos os dias. Prometeu ele. Ela sorriu do jeito torto e perturbador que aprendera com o próprio Asmyr, começando um novo jogo que ela jamais teria como terminar.

—Eu sei que vai. Ela disse antes de se virar para a saída com as palavras de Asmyr dançando em sua mente.

Sempre dê a ultima palavra.

Sempre sorria.

Nunca deixe que ninguém saiba o que você esta pensando.

Se não puder mentir, seja criativo em suas verdades.

Aquilo era o que ele tinha ensinado para ela, Ayana só estava mostrando para ele como era uma boa aprendiz. No final ela se tornara uma feérica quase tão boa quanto ele. As asas ela já tinha.

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora