Candidata N°18

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Com um longo suspiro Rebecka descansou o arco do violoncelo pela primeira vez aquele dia. Ela estava tentando extravasar suas frustrações da melhor maneira que podia, mas tocar não perecia ter nenhum efeito em tirar Antony de seus pensamentos. Ela sabia, no momento em que o convidara para ouvi-la tocar pela primeira vez, que estava entrando em um caminho sem volta. Ela queria ter sabido como aquilo seria frustrante. Depois de ter implicado que as intenções de Rebecka com ele não eram honestas, Antony pareceu tremendamente arrependido e se desculpou por dias. Com flores, presentes e joias, que Rebecka fez questão de devolver, ela não queria nada dele. Mas quando o príncipe finalmente apareceu em sua porta com aqueles grandes e sinceros olhos azuis tentando tão arduamente não desviar o olhar, a garota tinha cedido. Afinal ela conseguia entender o lado dele, não era fácil gostar de Antony, ele não era uma das pessoas mais normais que Rebecka conhecia. Ele era sempre quieto e a maneira como ele evitava qualquer tipo de contato visual era inquietante, mas ainda sim, por algum motivo, ela não pode se evitar de começar a nutrir sentimentos por ele. Rebecka era acostumada a receber atenção de garotos e vez ou outra ela se via interessada neles, como fora com Eric Desmond no ultimo verão, e ainda assim seus sentimentos por Antony não era nada como aquilo. Antony era uma constante fonte de frustração, seus olhos raramente encontravam os dela, suas mãos estavam sempre cuidadosamente apertadas próximo a eles e seus pensamentos era um segredo que apenas ele conhecia. O que levava a garota a horas inquietas e irritantes em que ela tentava entender o que ele estava pensando. Em outras situações a timidez do príncipe não seria nenhum empecilho para ela, talvez fosse ate algo que a instigasse, mas algo a dizia que se ela fosse longe de mais com Antony ele a afastaria completamente. E apesar de toda a irritação que Antony provocava nela, Rebecka não queria abrir mão do que tinha com ele. Então ela se resignava a passear com Antony pelo palácio, sempre a uma distancia educada, tocar para ele em suas horas vagas e as vezes acompanhá-lo em alguma programação na cidade. Na opinião dela, se aquele relacionamento fosse mais de vagar, eles estariam parados, apesar que de acordo com as informações que Selene tinha conseguido de Dimitri, para Antony aquilo era ir muito rápido.


Rebecka pousou o arco de lado e encostou o violoncelo no banco, já era tarde da noite e ela tinha aulas pela manha. Depois de se espreguiçar e ter o prazer secreto de ouvir suas costas estalarem ela se levantou e saiu em direção ao seu quarto. Os corredores estavam mal iluminados e frios, as lamparinas que ficavam penduradas na parede pareciam estar perdendo lentamente a força. Rebecka mordeu os lábios intrigada, aquilo não era nenhum pouco comum. Os corredores do palácio sempre estavam muito bem iluminados e aquecidos independente da hora. A medida que percorria o caminho que levava a ala dos dormitórios uma sensação desconfortável começou a se abater sobre Rebecka. Os pelos de sua nuca estavam arrepiados em alerta, apesar de medo não ser exatamente o que ela estava sentindo, era uma apreensão. Como quando ela pega pelos pais fazendo algo que não deveria. A garota gostaria de dizer que os pelos de seu braços que ficaram arrepiados a seguir, se devia ao frio que estava fazendo nos corredores, mas a medida que se aproximava das escadas que levavam para o terceiro andar do palácio as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas. Uma trilha escura e brilhante estava marcada no chão, apesar da iluminação fraca a trilha parecia levemente avermelhada e imprecisa. Como se alguém com as mãos sujas tivesse sido arrastado por aquele caminho e estivesse tentando se segurar em alguma coisa. Pensando mais sobre aquilo, ela viu que as manchas era exatamente no formato que os dedos teriam naquele caso e que o liquido vermelho que formava a trilha poderia muito bem ser sangue. Rebecka sentiu sua boca ficar seca com um pavor doentio que estava chegando ao seu coração e fazendo com que ele batesse mais rápido. Ela sabia que deveria correr ou gritar, principalmente depois de ver que a mancha de sangue se transformava em uma poça logo a baixo de uma pintura da família real. Porém, mesmo com seus instintos gritando ao contrario, Rebecka se aproximou da pintura, ela parecia ter sido empurrada para frente. Se Rebecka se inclinasse um pouco para frente, ela podia ver com clareza que havia uma passagem atrás do quadro. A garota respirou fundo, pegando o ar que saia da passagem e sentiu um aroma forte de enxofre e decomposição. Ela se afastou do cheiro forte tossindo e correu em busca da única pessoa no palácio que amava um mistério tanto quanto ela.

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora