Candidata Nº2

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Bree acordou de súbito com a porta de seu quarto sendo aberta violentamente. Ao lado dela Matthew deu um pulo e se sentou rapidamente. Parado enfrente a porta estava Stefan. Sangue manchava toda a roupa do príncipe, seu rosto era uma mascara de sofrimentos e os olhos azuis pareciam vítreos. Bree não precisava perguntar por que ele estava ali, ela sabia que apenas uma pessoa poderia causar aquele efeito no príncipe. Ela quase se levantou, antes de perceber que não estava usando nenhuma roupa. Ao invés disso ela se enrolou nos cobertores e perguntou.

—O que aconteceu com ela? A própria voz de Bree era baixa e rouca, temendo no fundo da alma a resposta dele. Se Stefan estava surpreso pela presença de Matthew ali ele não aparentou.

—Um ataque. Das Sombras. Ela precisa de você. Bree assentiu e esperou ate que o príncipe saísse para levantar da cama. Matthew observou silencioso enquanto ela se vestia com o primeiro par de roupa que encontrou. Os dois tinham muito a discutir, tanta coisa para esclarecer, mas ela não podia lidar com aquilo agora. Claire precisava dela.

—Preciso ir. Ela disse ao se sentar na cama e calçar os sapatos, sem realmente olhar na direção dele.

—Eu sei que precisa. Me avise quando... quiser conversar. Bree se levantou com um salto e assentiu. Stefan estava no corredor esperando com ela, ainda com aquela mesma expressão sem vida.

—Me conte o que aconteceu. Bree pediu em um sussurro enquanto eles caminhavam a passos rápidos para o quarto de Claire. Ele contou em detalhes. Não deixando de lado o próprio desespero quando percebeu o que os atacara.

—O curandeiro disse que não há nada que possa ser feito por ela, mas a Primeira Ministra disse que amor... amor verdadeiro cura a ferida das Sombras.

Todos já tinham ouvido aquela historia. A historia de como o amor de um príncipe Phury fora capaz de salvar Despherya Vishous da morte pelo veneno das Sombras. Mas aquilo era apenas uma historia, era um mito.

—Stefan isso é lenda.

—É a única chance dela Bree. A garota conseguia ver que seu próprio desespero era um eco fraco do que o príncipe estava sentindo.

—Mas por que eu?

—A família dela esta longe de mais, poderia funcionar com Rebecka ou Selene, mas com você... Com você eu tenho certeza. Bree sabia por que. Ayana, Rebecka e Selene eram como sua família. Desde o ataque a Ayana elas tinham se tornado próximas. Quase inseparáveis, defendendo umas as outras com unhas e dentes. Protegendo umas as outras sempre.

Mas Claire,era diferente. Claire era sua irmã. Desde dia em que chegaram ao palácio elas estavam sempre juntas. Claire sabia tudo sobre Bree e Bree sabia tudo sobre Claire. Coisas que elas jamais contaram para ninguém. Coisas que jamais contariam. O sangue que corria nas veias delas era diferente, entretanto algo mais poderoso as unia. O amor. Era storge.

—Por que não você? Bree quis saber com um sussurro. Stefan amava Claire. Era uma verdade inegável que qualquer um podia ver. E ainda assim, quando o amor era a única chance dela de sobreviver, aqui estava ele, pedindo que Bree fosse a cura.

—E se meu amor não for forte o bastante? E se eu não amá-la de verdade? O que eu e Claire temos é confuso de mais... arriscado de mais. Não posso correr esse risco. Não posso. Bree respirou fundo e assentiu enquanto os dois entraram no quarto.

Rebecka e Selene já estavam lá, ambas pálidas e aparentemente sem palavras. A Primeira Ministra estampava um rosto inexpressivo e lívido. Stefan entrou e foi diretamente para cama ao lado de Claire.

Ninguém tinha se dado ao trabalho de trocar as roupas dela. O vestido estava de uma feia cor de ferrugem sobre o carmim, sangue seco. O rasgo era amplo o suficiente para que a pele abaixo dele ficasse exposta. Pele que estava anormalmente pálida o que ressaltava as veias cheias de veneno. Seu rosto era a própria imagem da agonia, coberto de suor e sangue. Sua boca estava comprimida, como se ela tentasse desesperadamente não gritar.

—Não posso perder você de vista por um dia que você já se mete em confusão. Resmungou Bree com lagrimas se acumulando nos olhos em quanto via a vida se escorrer do corpo da amiga a cada suspiro. Seu coração foi esmagado por um punho invisível enquanto ela tentava desesperadamente não pesar no tipo de dor que a morte de Claire desencadearia. Na ferida que se abriria em seu coração e jamais se fecharia. Por que Bree sabia que poderia viver muitos anos, e amar muitas outras pessoas e ainda assim ninguém voltaria a preencher o espaço que era de Claire.

—Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso. —Resmungou Bree quando as lagrimas começaram a escorrer de seu rosto. —Me dê sua adaga. Ela pediu a Stefan sem olhá-lo, metal frio beijou sua pele. Bree fechou a mão ao redor da faca e não parou de apertar ate sentir a mordida da lamina. Quando voltou a abrir a mão, sangue carmim brilhava na palma. Ela segurou na mão de Claire e fez um talho sangrento na palma. O sangue parecia estranho, quase negro. Ate o fluxo era diferente. Bree colocou a própria palma contra a de Claire e disse.

—Pelo que você deu, eu te dou a vida. — Com um suspiro ela sentiu sua magia fluir antes de dizer. — Quod potentia amoris, sanguinem meum, sanat te.

O feitiço era uma simples modificação do que elas tinham feito para Ayana. Pouca coisa mudava. O agente de ligação mudava. Sangue era poder, era vital, e a união do sangue alimentava o feitiço. Um vento forte entrou pela janela, agitando os cabelos de Bree com força enquanto ela repetia o as palavras varias vezes. Ate que sangue começou a escorrer de seu nariz. Ate que não lhe restasse mais forças.

O corpo de Claire se ergueu em um arco, seus olhos grandes e azuis se abriram e de sua boca saiu um grito tão potente que a magia ondulou por ele. A mão de Bree foi arrancada da dela e o corpo voltou a cair sobre a cama. As veias negras sobre a pele pararam de se mover. A respiração, antes superficial e rasa, se tornara profunda e eficiente. As batidas do coração se tornaram rítmicas e poderosas. E só ai Bree se deixou descansar com a cabeça em cima do peito que guardava o coração pulsante de sua irmã.


A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora