Candidata Nº3

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A Primeira Ministra e o conselho não tinham ficado felizes com a decisão delas de não oferecer o sacrifício as Sombras. Então no geral o clima no palácio era bastante desagradável. As garotas estavam tendo mais aulas, mais deveres e menos responsabilidades. Como se a historia com as Sombras fossem um teste e elas tivessem reprovado. A única boa noticia que os cercava nos últimos dias era que as negociações do retorno de Ayana seriam concluídas naquele final de semana. O baile de mascaras era uma tradição dos Naturalis, a comemoração do Ksarys, a festa dos deuses. Naquela noite os deuses caminhavam entre eles e distribuíam favores sobre a terra. Claire não acreditava nós deuses, mas adorava o clima de mistério da festa. Naquele dia, depois de provar o seu vestido para festa, ela estava se preparando para sair. Ela vestiu uma camisa confortável de algodão vermelho vivo, tomando cuidado para manter todos os botões do decote fechados, junto com sua calça marrom de montaria e se dirigiu aos estábulos. Ela estava ansiosa para voltar a cavalgar depois de ficar tanto tempo em recuperação. Sua cicatriz ainda pulsava de tempos em tempos e os pesadelos a acordavam todas as noites, mas ela se sentia bem. Como o curandeiro tinha assinado sua liberação naquela manha ela pediu para tirar o dia de folga de suas atividades habituais para fazer o que realmente gostava. Nos estábulos os cavalariços a cumprimentaram com empolgação e lhe garantiram que tinham cuidado muito bem de Tempestade no tempo que ela estivera doente. Claire agradeceu humildemente e se dirigiu a baia em que o animal era mantido. Tempestade ergueu a cabeça assim que Claire entrou, soltando um relincho fraco e tristonho.

—Eu sei, sinto falta da Chuva também. Sua voz saiu embargada e em um sussurro, era difícil lembrar que um animal que ela tinha se afeiçoado tanto tinha partido, principalmente de uma maneira tão trágica.

—Claire? Sua cabeça se virou automaticamente na direção da voz, apesar de seu coração só tê-la reconhecido segundo depois, o que fez com que ele se acelerasse.

—Stefan? —O ofego de surpresa a fez soar mais vulnerável do que ela gostaria. — Nós temos alguma coisa arcada hoje que eu não saiba?

Ela tentou parecer o mais neutra possível, mas não teve muito sucesso. Desde o dia do campo de beija-flores os dois não se viam e se naquela época os sentimentos dela estavam confusos, agora eles eram um caos.

—Na verdade não, só fiquei surpreso em ver você por aqui. Ela riu de leve para disfarçar o desconforto.

—E eu achando que você me conhecia bem. Brincou ela de leve e o príncipe assentiu com um sorriso torto que ela adorava.

—O que eu quis dizer é que não sabia que o medico tinha te liberado para atividades ao ar livre, mas fico feliz que você esteja se recuperando. Ele se virou para sair e antes que pudesse se parar Claire o chamou.

—Stefan? —O príncipe se virou curioso. —Nós podemos conversar por um momento? Ele franziu as sobrancelhas e acabou assentindo.

—Claro, do que você precisa?

—Eu nunca tive a chance de agradecer você, por ter salvo minha vida e tudo.

—Foi Bree quem salvou você. Corrigiu ele envergonhado.

—Bem, se você não tivesse mandado Tempestade buscar ajuda e me carregado ate aqui, não teria nada que ela pudesse fazer.

—Não precisa me agradecer Claire, de verdade. O silêncio ficou desconfortável entre eles por um segundo.

—Stefan, eu sei que você disse que pararia de insistir em mim, que começaria a ver outras garotas, mas...Os impressionantes olhos azuis dele se voltaram para ela curiosos e intensos. —Quer dizer eu sei que se passou muito tempo... e você provavelmente esta saindo com alguém e tudo... é só que... eu estava pensando...

—Claire nenhuma das outras garotas é você. Se você estivesse disposta a tentar... se você quiser isso... pelos deuses! —Ele riu em tom sonhador. — Nada mais importaria.

Um sorriso leve brincou nos lábios dela, uma esperança nascendo como o primeiro dente de leão que floresce depois de um longo inverno.

—Eu não sei o que eu quero, eu já não tenho certeza de mais nada. Tudo o que eu sei é que naquele dia houve um segundo em que eu senti algo que nunca tinha sentido antes, algo que eu não faço ideia do que é. Mas eu gostaria muito de descobrir.

—Somos dois então. Ele se próximo dela, pronto para um beijo e Claire o parou colocando suavemente a palma de sua mão sobre o peito dele.

—Eu sempre apressei tudo na minha vida, minhas paixões, meus sonhos, meus desafios e nada disso nunca deu certo. Se dessa vez é para ser diferente eu não posso apressar isso. —Balbuciou ela. —Então você vai conseguir esperar por mim? Stefan pareceu muito serio por um momento e as esperanças de Claire se esvaíram lentamente ate que finalmente ele disse.

—Esperar por você... Não é isso que eu faço de melhor? Claire reprimiu seu riso e por fim disse.

—Acho que sim Sua Alteza, só espero ser digna da espera.

—Não se preocupe Lady Labonair, eu tenho certeza que você é.

***

Depois do dia nos estábulos, Claire tinha se encontrado com Stefan uma outra vez. Os dois tinham saído para praticar um pouco de arco e flecha. O encontro tinha sido tímido, desastrado. Como se fosse o primeiro. De certa forma ela supôs que fosse. Era o primeiro encontro em que nenhum dos dois sabia o que fazer. O primeiro em que Claire estava disposta a dar uma chance ao que sentiu naquele dia na clareira. Quando eles voltaram para o interior do palácio, Stefan tinha beijado suavemente sua bochecha despertando todo tipo de aflição em seu estomago. Claire tinha sorrido de leve para ele e se trancado em seu quarto. Bree estava lá, esperando por ela com um sorriso malicioso. Claire revirou os olhos e contou a ela sobre Stefan.

Contou tudo.

Bree tinha contado sua própria historia também, sobre como a aventura dela e de Matthew com o Cavaleiro da Nova Era tinha acabado. Claire sorriu para a amiga, sinceramente feliz por ela e Matthew, apesar deles ainda não terem conversado sobre o assunto. Ver como as coisas entre eles se acertavam aos pouco, Claire começou a pensar que aquilo poderia funcionar para ela também. Enquanto ela remoía tudo o que tinha acontecido naquela semana seus criados circulavam ao seu redor dando os últimos detalhes em seu vestido.

Uma única olhada na frente do espelho disse a Claire tudo o que ela precisava saber. Ela estava magnífica. Seu vestido daquela noite tinha um corpete preto, sem bordados e com mangas curtas e vermelhas, sua saia de seda também preta, reluzia aqui e ali com tons fortes de vermelho. Seus cabelos estavam soltos e muito cacheados se espiralando a sua volta, resautados aqui e ali por fios de ouro. Sua boca tinha sido pintada com um tom de vermelho escuro e seus olhos reluziam ainda mais claros do que o normal. A mascara que cobria seu rosto era pequena e elegante, vermelho sangue com uma pena negra e longa coroando seu topo. Ate mesmo os sapatos de veludo negro eram lindos. Claire suspeitava secretamente que seus estilistas estavam tentando impressionar Stefan. Noticias corriam rápido pelo palácio e era cada vez mais frequente que Claire ouvisse os criados murmurando a respeito da mudança de atitude dela em relação ao príncipe. A garota fica irritada com tantas fofocas a seu respeito, apesar de não ser nenhum pouco tímida, ela era bem reservada a respeito da maneira como se sentia. E o que quer que fosse que ela sentisse por Stefan ainda era confuso de mais ate para que ela mesma entendesse. Aquela noite era dos deuses, mas também era dela.

Já era a hora dela descobrir o que aqueles sentimentos pelo príncipe arzuano significavam e enfrentar suas consequências. 

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora