Príncipe Stefan da Tríade do Oeste

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Se Arzua cheirava como campos floridos e chuva, Acaiah cheirava a metais e minério. O tempo estava nublado quando Stefan chegará a dois meses atrás e tinha se mantido assim. Com nuvens densas e cinzentas, sendo clareadas por um ou outro relâmpago. Não que o príncipe tivesse se importado. Ele não saia de dentro do palácio, na verdade ele raramente saia do escritório de seu pai. Com o rei ocupado na guerra sobrava muito trabalho burocrático para ser realizado e Stefan se ofereceu para fazê-lo. Sua mãe tinha ficado surpresa, mas ela jamais falaria alguma coisa. Então Stefan ficava no escritório, lia solicitações de súditos sobre posses de terras, títulos roubados e legitimação de bastardos e decidia como proceder. Ele só ia para seu quarto no meio da noite e voltava antes do nascer do sol. Aquele era a maneira que o príncipe tinha encontrado de sufocar seus sentimentos. Stefan se sufocava em trabalho e mais trabalho e jamais pensava em Arzua, jamais pensava em Claire. Ele tinha ordenado que todos os itens vermelhos do escritório e de seu quarto fossem retirados. A cor remetia de mais a ela.

Para evitar vislumbrar a cor pelo palácio ele pedia que suas refeições fossem entregues em um dos cômodos. Não que ele comesse muito. Durante os meses que Stefan tinha ficado fora novas criadas tinham sido contratadas e vez ou outra elas lançavam olhares tímidos na direção de Stefan que ele fingia não ver. E por isso elas começaram a fofocar entre si. Aquela altura Stefan já conhecia bem a historia. As pessoas diziam que uma dama em carmim tinha usado magia para arrancar o coração de Stefan de seu peito. Ela guardara o coração dele dentro de uma caixa dourada e por isso, ele não era mais capaz de sentir nada. Nem sequer um pingo de atração por qualquer mulher. As pessoas podiam acreditar no que quisessem contanto que o deixassem em paz. Ele não podia se importar menos com o que era falado dele.

Stefan estava lendo a petição de um de seus súditos para receber um antigo titulo de sua família quando a criada entrou. O príncipe ergueu o olhar esperando sua comida, mas na bandeja que ela trazia havia apenas um pedaço de papel dobrado.

—De sua mãe. Ela disse polidamente quando Stefan pegou a nota.

—Obrigada. Resmungou ele a dispensando.

" Stefan querido,

Eu adoraria que você se juntasse a mim para o almoço.

Com amor, mamãe. "

O príncipe fez uma careta, sabendo muito bem que apesar da nota parecer um convite inocente, sua mãe não aceitaria recusas.

***

Como na maior parte de sua infância, Stefan estava tendo um jantar silencioso onde era possível ouvir ate o mais discreto arranhar dos talheres na porcelana. Ele estava tentando imaginar o que levara sua mãe a chamá-lo quando ela ergueu os olhos e o encarou. Catarina III, a Temida, era bela. Como todos os Naturalis ela envelhecia lentamente e por isso apesar de já ter quase sessenta anos ela mal parecia estar no final dos vinte. Sua pele era dourada pontilhada de sardas aqui e ali, seus olhos eram azuis, apesar de se recusarem a serem de um único tom. Os cabelos eram loiros e levemente avermelhados caindo em ondas delicadas e harmoniosas. Ela não tinha mais de um metro e sessenta de altura e suas mãos com dedos finos pareciam feitas para criar obras de arte. E ainda assim, quando a olhava, Stefan não conseguia ver beleza ou delicadeza, ele sabia quem sua mãe era. Impiedosa em campo de batalha, portadora de uma mente afiada, uma língua maldosa e rápida com as palavras sua mãe era tudo, menos delicada.

—Não vejo você a dias. —Começou ela quando os pratos de jantar foram retirados. —O que é irônico já que você insistiu tanto para voltar.

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora