A Primeira Ministra

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A carta que cheirava a rosas descansava sobre a mesa da Primeira Ministra enquanto ela olhava a lareira se sentindo satisfeita. Depois de cinco anos de incessantes negociações os feéricos finalmente tinham cedido. Eles estavam dispostos a negociar um acordo de paz entre as Onze Cortes, Arzua e Acaiah. Os feéricos eram criaturas perigosas e cheias de mistério incapazes de mentir, mas também incrivelmente hábeis em manipular a verdade. Entre charadas, jogos macabros e respostas indiretas eles eram de longe o povo mais perigoso daquele lado do mundo. A Primeira Ministra sabia que uma união com eles era de natureza vital, principalmente se ela planejasse ganhar a guerra que estava se aproximando. Os humanos tinham sido derrotados a alguns anos, mas eles não estavam prontos pra desistir. A vingança era um combustível forte de mais para que a chama da guerra se apagasse com apenas um sopro. Os Cavaleiros da Nova Era estava quietos a algum tempo e aquilo só podia significar uma coisa. Eles estavam se preparando para um levante ainda maior do que aquele que derrubara a Rainha e o Rei a dezesseis anos atrás. A aliança com Acaiah se via cada vez mais forte, os dignitários das pequenas províncias tinham sido convencidos a cooperar e aquela trégua com os feéricos era mais do que necessária. A Primeira Ministra não seria pega fora da guarda novamente, quando os Cavaleiros da Nova Era viessem ela estaria esperando por eles, com munição o suficiente para leva-los a extinção. Seu plano inicial era retardar o levante o quanto pudesse, ela estava tentando cortar ao máximo os suprimentos que eles recebiam, com sorte a maioria deles morreria de fome e de frio no inverno. Ainda assim, humanos se reproduziam como pragas e ela sabia que não importava quantos deles pereceriam em alguns anos eles estariam prontos para atacá-la. E era exatamente por isso que ela precisava esconder todos o seu desgosto pelas fadas e organizar uma festa perfeita para agrada-los. Ela ainda estava encarando a lareira quando um ruído fez com que ela se virasse na direção da janela. Parada ali a sua frente, majestosa e incrivelmente real estava a Rainha Catarina III. As conferencias entre as duas eram comuns nós últimos dias, parecia sempre haver algo que precisava ser discutido, mas isso não eliminava o desconforto da situação.
—Espero não estar incomodando Vossa Excelência. A Primeira Ministra sorriu, a rainha era sempre um incomodo, apesar dela não poder dizer isso em voz alta.
—De maneira nenhuma Majestade, eu estava mesmo ansiosa para compartilhar as novidades. As sobrancelhas claras da rainha se ergueram e uma revoada vinda de lugar nenhum balançou seus longos cabelos loiro-avermelhados.
—Ora, confesso que agora Vossa Excelência me deixou curiosa. É algo sobre as entrevistas? Aquelas malditas entrevistas, tinha sido puramente ideia de Catarina. Como se não bastasse a constante enxurrada de atividades que as garotas eram submetidas todos os dias, agora elas também estavam sendo preparadas para entrevistas. Cuja a única utilidade era satisfazer a curiosidade do publico. Já era de conhecimento geral que as vinte e seis garotas que moravam no palácio estavam ali para herdar o trono. Uma nota fora enviada para impressa alegando que a princesa perdida estava entre aquelas garotas e até que se descobrisse quem entre elas era Evangeline Vishous, elas ficariam sobre custodia da monarquia. Desde então as pessoas estavam apostando para ver se descobriam quem era a princesa, a impressa especulava a respeito das garotas, mas tinha poucas respostas o que os deixava inquietos. Catarina tinha achado que seria conveniente dar algo para alimentar a curiosidade das massas. As entrevistas seriam simples, dez minutos com cada uma das garotas, perguntando sobre as aulas e o que elas estavam achando sobre o palácio. Essa parte não era tão ruim, o pior recairá sobre Ayana, Claire e Rebecka e Selene que sairiam nas revistas como interesses amorosos da realeza de Acaiah.
—Não, é nada sobre isso. As entrevistas estão sendo preparadas e provavelmente serão gravadas ainda essa semana. Eu estava me referindo a carta que acabei da Rainha Elena, ao que parece ela esta interessa em negociar uma trégua. Catarina mordeu os lábios pensativa, não parecendo nem contente, nem frustrada.
— E ate onde você acha que podemos confiar em suas intenções? Rodeando sua mesa a Primeira Ministra pensava em uma resposta.
—Não muito além da própria necessidade deles de sobreviver. Ouvi dizer que as tropas humanas estão se aproximando cada vez mais do território das cortes.
—Mesmo que os humanos os encontrem você não pode achar que eles realmente conseguiram passar pelas muralhas. As cortes estão cercadas por venenos, ninguém entra no território das fadas sem que elas queiram.
—Independente de qual seja a razão, se eles estão interessados em uma aliança acredito que é de nosso melhor interesse aceitá-la. A rainha concordou taciturna, como se milhares de possibilidades percorressem sua cabeça.
—Nisso você tem razão, acredito que você saiba como proceder. Irritada pelo questionamento de suas habilidades a Primeira Ministra se limitou a encarar a rainha, a mulher sorriu um pouco.
—Sua Majestade aparecera para as negociações? Sem nem ao menos se dar ao trabalho de considerar a hipótese a rainha negou com a cabeça.
—Meu reino precisa de mim exatamente onde estou. Meus filhos são mais do que capazes de agir visando os interesses de Acaiah. A Primeira Ministra estava tentada a rir, apesar de saber que acordar o temperamento da rainha não traria nenhum bem.
—Se é assim que Sua Majestade deseja... A rainha olhou no fundo dos olhos da Ministra e disse.
—Eu sei que é fácil subestimá-los, mas se postos em prova aquelas crianças são realmente capazes de provar seu valor. Sabendo o sangue corria nas veias dos príncipes era bem possível que aquilo fosse verdade. —Você verá em breve. A rainha resmungou antes de desaparecer. Deixando a Primeira Ministra com uma festa feérica para planejar.

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