Candidata Nº1

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Ayana tinha prestado atenção a todos os detalhes no banquete. Ela decorara o rosto do governador de cada corte. Decorara por onde os guardas saiam e por onde entravam, ela ate prestou atenção em quais criados serviam apenas a rainha. E ainda assim, infelizmente, nada daquilo a ajudava a fugir. Ao seu lado Asmyr atraia atenção como pólen atrai abelhas, ele era engraçado, sedutor e malicioso. Apesar da grande quantidade de comida que cheirava ridiculamente bem, Ayana não comeu. Ela revirou a comida no prato e entornou o vinho em uma planta perto de sua cadeira. Se Asmyr estava esperando que sua mãe não soubesse da presença dela ali, ele ficaria terrivelmente desapontado. Várias vezes o olhar cinzento da rainha cruzou com o de Ayana, os cabelos vermelhos como as granadas que ela usava em torno do pescoço, balançavam a sua volta. E ainda assim ela escolheu permanecer em silêncio.

Quando Asmyr finalmente decidiu que estava pronto para partir, Ayana segurou no braço dele e o seguiu aliviada. Os dois subiram as escadas juntos, sem chamar atenção e foram diretamente para o quarto dele.

—Você não comeu. Ele observou quando ela largou seu braço e foi para perto da janela.

—Não quero ficar presa aqui para sempre. Ele riu baixinho antes de dizer por fim.

—Nem toda comida esta enfeitiçada Ana. A do jantar não estava. Aquilo fazia sentido e ainda assim ela não se arrependia de não ter comido. Seu orgulho não deixava. Ela continuou observando a janela, pensando que se conseguisse ficar sozinha tempo o suficiente ela conseguiria usar as cortinas para descer por ali.

—Não vai funcionar. —Disse Asmyr ao seu lado. —A seda escorrega de mais. E se por algum milagre você conseguir chegar lá em baixo sem cair, os guardas a pegariam antes eu chegasse ao portão. Ayana fez uma carreta de irritação.

—Você não sabe se era nisso que eu estava pensando. Resmungou ela se afastando dele.

—Não sei, mas posso imaginar. Não é difícil chegar a uma conclusão, seu rosto é expressivo de mais.

—Por que estou aqui?

—Por que apesar da repreenda que isso acarretara, eu gosto da sua companhia.

—Não quis dizer aqui no seu quarto, quis dizer aqui na Corte.

—Por que eu te trouxe. Ele disse divertido enquanto bebericava uma taça de vinho que tinha aparecido de lugar nenhum.

—Mas por quê? Por que eu? Os olhos dele se arregalaram, como se ela finalmente tivesse feito uma pergunta certa.

—Por que você é única. É rara. E pela historia, deveria estar extinta. Mas de algum jeito você não esta. Enigmas e mais enigmas. Ela já estava cansada de jogar.

—Eu não quero ser única, não quero ser rara. Ayana disse em tom choroso.

—O que você quer florzinha?

—Quero ir para casa, para Arzua. Quero estar em segurança. Os olhos dele brilharam perigosamente.

—Me responda uma coisa, apenas uma, e te deixarei ir. Te deixarei ir de volta para Arzua. O coração de Ayana se acelerou, ansioso.

—Você quer tanto estar em segurança, no meio dos Naturalis, que arriscaria sua liberdade? Que arriscaria ficar presa na própria ignorância? Ela piscou os olhos sem realmente entender e por fim disse.

—Quero tanto estar em segurança, de volta em casa, que arriscaria qualquer coisa. Inclusive minha liberdade. Asmyr usava uma mascara de indiferença quando fez um movimento sutil com a mão e uma porta se abriu em uma das paredes. Porta não, passagem.

—Siga até o final do túnel e vai chegar a floresta. Não pare para descansar, não durma. Siga sempre para o norte e estará em Arzua em uma semana. Ainda sem acreditar Ayana foi em direção a passagem e entrou antes de Asmyr dizer. —Aproveite sua segurança, Ana. Não é todo dia que concedo essa dádiva.

***

Ayana seguiu ate o final do túnel e como fora prometido, ela chegou a floresta. Seu primeiro pensamento foi que ela deveria ter roubado um casaco. Por que aquela hora da noite na floresta a temperatura era tão baixa que seus dedos estavam azuis. Ela tentou usar as asas para voar sobre a floresta, mas sem a magia de Asmyr elas pareciam não funcionar. E mesmo com as dificuldades Ayana continuou andando, apesar do medo que a espreitava. Ela conseguia ouvir coisas se movendo na floresta, coisas que ela não queria nem pensar no que poderiam ser. Ainda deveria falar três horas para o amanhecer quando suas pernas ficaram dormentes. Ayana imaginou que se nada a tinha atacado ate aquele momento, nada a atacaria se ela parasse por alguns minutos. Aquela foi a escolha errada a se fazer, porque no segundo que parou de andar alguma coisa se aproximou. O corpo escamoso era escuro e parecia ser feito da noite, seus olhos eram chamas sussurrantes e chifres grandes e curvos despontavam de sua cabeça. A criatura não hesitou em avançar na direção de Ayana e ela correu. Magia Naturalis não funcionava bem no território das Cortes, então correr era a única coisa que ela podia fazer. Não que aquilo fosse uma tarefa fácil. Como se estivesse determinada a ajudar a criatura a pegar Ayana a floresta estava lutando contra suas tentativas de fuga. As ervas daninhas e galhos baixos de arvores agarravam seus pés e arranhavam suas pernas. Não foi nenhuma surpresa quando ela caiu. A criatura escura e escamosa já estava sobre ela, os dentes longos e amareles sibilando. A boca da criatura tocou se rosto, os dentes arranhando sua pele, mas do nada o movimento parou. Ayana abriu os olhos quando sentiu a umidade em seu vestido. A criatura tinha sido partida em duas, sangue negro sujava as roupas de Ayana. De pé na frente dela estava Asmyr com um sorriso convencido e uma espada larga e curva.

—Eu te avisei para não parar. Ele disse estendendo a mão. A garota fez um gesto sujo em sua direção, mas pegou sua mão mesmo assim. 

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora