A Herdeira Do Trono

Candidata N°19

Selene tinha visto Dimitri no momento que despontara da escada. Ela evitou olhar para ele, sempre desviando os olhos quando sentia que ele a olhava. Só porque os dois tiveram uma conversa agradável nas cozinhas não queria dizer que ele estava interessado nela. Além do mais Selene tinha coisas muito mais importantes para fazer naquela festa, ela tinha o que elas chamavam entre si de deveres reais. Não era nenhum segredo que Arzua estava por um fio política e economicamente, a falta de realeza tinha diminuído e muito a credibilidade do país frente as nações vizinhas. A função de Selene e das outras vinte e cinco garotas nisso? Diplomacia. Não era nem de longe a matéria preferida de Selene, envolvia sorrir e flertar, insinuar coisas que não tinha a menor intenção de fazer. Exigia sutileza e Selene não era nada sutil. Cada uma delas tinha o dever de conversar e interceder por Arzua com dois dignitários, varias áreas estavam em jogo e Selene tinha que negociar tecidos com o Condessa Alyssa de Paviama e a mineração de hematita com Dom Perro Carlos de Lasdovyer. Os Naturalis conseguiam cultivar a própria comida, muitos deles podiam ate mesmo fazer as coisas crescerem bem diante de seus olhos, mas não se podia fazer que tecidos crescerem da terra, muito menos que um dos metais necessários para fazer armas simplesmente brotassem do solo, alguns reinos simplesmente eram mais ricos em alguns aspectos. Tanto Paviama como Lasdovyer eram Reinos Menores, eles estavam sobre o completo domínio de Arzua, pelo menos ate a queda da rainha. Sem ninguém a quem devessem jurar lealdade eles construíram um conselho e começaram a tomar decisões sem consultar Arzua. Aquelas terras pertenciam ao país de Selene por direito, mas nada disso importava naquele momento, aquelas eram pessoas orgulhosas e ela precisa deles. Seu reino precisava. Deveres reais era um nome justamente certo para aquela tarefa. Ela encontrou a Condessa primeiro, apesar de já ter visto fotos da Condessa, ela a identificou mesmo pelo vestido. Era um corte exuberante, justo e sem anáguas. O veludo negro e vinho era luxuoso, não era a toa que ela comandava um império de tecidos em seu país. Ela era mais velha que Selene, mas ainda deveria estar na casa dos vinte, pelo que Selene sabia ela tinha herdado o império depois que seus pais morreram em um acidente e que seus dois irmãos morreram envenenados em um banquete. Segundo as más línguas ela mesma tinha orquestrado todas as mortes para herdar sozinha a fortuna da família. Aquele era um terreno perigoso. Como era comum na maioria dos Reinos Menores, Paviama não tinha muita magia, eles podiam fazer um feitiço ou outro mais nada como alguém nascido em Arzua faria com apenas um estalar dos dedos. A alguns anos atrás os países dos Reinos Menores sugeriram que os Reinos Maiores fizessem uma magia de transferência para que todos tivessem o mesmo domínio de magia, a proposta foi a votação publica, mas foi negada pela maioria esmagadora tanto em Arzua como Acaiah. Ninguém abriria mão de seu poder, principalmente para favorecer pessoas que poderiam facilmente se voltar contra eles no futuro. Como consequência da negativa, os Reinos Menores ficaram mais reticentes a acordos e como eram um povo orgulhoso era difícil arrancar qualquer coisa deles. Selene sabia que sorrir não era uma boa estratégia, alguém que planeja o assassinato da própria família não se deixa levar por sorrisos, mas ela sabia de algo que a condessa queria. Algo que a Primeira Ministra em pessoa tinha autorizado Selene a dar. Além de sua fama inerente de familicida, Alyssa de Boglé, também era conhecida por seus casos tórridos com a criadagem. Desses casos surgiram três crianças. Segundo as leis de Acaiah essas crianças eram bastardas e por isso não tinham direito as posses da mãe, mas em Arzua não existiam bastardos. Se alguém era seu filho, dentro ou fora de um casamento, ele tinha direito a qualquer coisa que fosse sua depois de sua morte. Nos Reinos Menores essas questões eram postas em votação, algumas crianças tinham direito, outras não. Dependia do quanto que você agradava o conselho. Conselho esse que era composto da Primeira Ministra e o Primeiro Conselheiro de Arzua e da rainha de Acaiah. Como Arzua tinha um poder de votação maior, agradar ao país deveria ser do interesse da condessa, pelo menos era isso que Selene esperava.

-Condessa. Cumprimentou Selene o mais polidamente que podia, a mulher se virou para ela com interesse e depois sorriu. Era um gesto perturbador, apesar de amistoso. Selene não podia deixar de pensar que ela tinha assassinado toda sua família por dinheiro. É claro que a garota já tinha considerado uma ou duas vezes matar suas irmãs, mas ela nunca teria coragem de realmente dar cabo aos planos. Geralmente a raiva
por ter seu cabelo cortado enquanto dormia, passava muito mais rápido do que a ambição de herdar o império de sua família.