Candidata Nº2

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Amedida que Bree e Matthew se aproximavam das docas ela sentiu os olhares ficando penetrantes. Ela evitava encará-los de volta como fora instruída e ainda assim a sensação de ser observada não a deixava. As docas foram construídas sobre palafitas e a madeira embaixo dos pés da garota era podre e parecia que cederia a qualquer momento. Os barcos não eram nada como os navios de guerra que ela já vira no passado, feitos de carvalho branco e pintados com esmero. Eram coisas destruídas pelo descaso, cobertas de musgo e lodo. Dentro deles pescadores e piratas e marinheiros tinham a morte no olhar, lhes faltavam dentes e cabelos, e suas roupas eram sujas e rasgadas. Seus rostos foram queimados pelo vento e sol e eles gritavam uns para os outros palavras que Bree nem sonhava em entender. Ela achou que seria fácil reconhecer um ex Cavaleiro da Rainha em meio a uma montanha de pescadores e piratas, ela não poderia estar mais errada. Todos eles eram os mesmos, as cores da pele, dos olhos, das roupas mudavam, mas a postura cansada, os olhos sem vida eram exatamente os mesmos. E ainda assim ela foi capaz de reconhecer Tominus, não pela postura de um cavaleiro ou pelo barco que sua mulher descrevera e sim pelos olhos. Os mesmos olhos azuis da menininha na casa. Tominus era calvo, sujo e alto, ele gritava com os companheiros de pesca enquanto descarregava o que parecia ser uma boa pesca de robalo. Matthew e Bree estavam se aproximando, se movendo perto da água quando que por um capricho do sol a garota viu um reflexo. Seu rosto se virou automaticamente e ela viu a armadura, prateada e reluzente, poderia ser um dos soldados do reino, mas a marca vermelha impressa na armadura não deixava duvidas.

Ele era um Cavaleiro da Nova Era.

Cada pelo do corpo dela se arrepiou, porque ela sabia que ele era exatamente o tipo de perigo que ela estava temendo o dia inteiro.

—Espere. Ela sussurrou e Matthew parou imediatamente. —Ali. Ela mostrou e ele rapidamente a empurrou para baixo, os dois caíram no chão úmido de um dos barcos, ele por cima dela e uma de suas mãos tampando sua boca.

—Não podemos ser vistos. Ele disse no ouvido dela em uma voz tão baixa que parecia não existir ela assentiu e lentamente ele destampou sua boca. Da maneira como estavam ela só podia ouvir e, pelo que percebeu, Matthew conseguia ver um pouco. O coração dela estava disparado, quase explodindo para fora de seu peito, se por causa do Cavaleiro da Nova Era ou por causa da proximidade entre ela e Matthew ela não tinha certeza.

—Era de se esperar que alguém que teve tanto trabalho para desertar fosse se esconder melhor.

A voz que Bree ouviu era suave, cálida ate. Ela supôs que ela pertencesse ao Cavaleiro da Nova Era, Bree duvidava que qualquer outra pessoa das docas soubesse do passado de Tominus. Por um longo momento houve apenas silencio, ninguém disse uma palavra se quer e ate o mar parecia ter diminuído a força de suas ondas para poder ouvir a conversa. Uma garoa fina e gelada começou a cair fazendo com que o ar denso começasse a se dissolver.

—Senhor, eu não faço ideia do que você esta falando. Eu sou apenas um pescador. A voz de Tominus era áspera e inflexível, como a de alguém que fumou muitos cigarros durante a vida. Ela não deixava transparecer nenhum medo e tão pouco parecia pertencer a um simples pescador. Para Bree aquele era uma voz de contadores de historias de terror em acampamentos, não a voz de um Cavaleiro com habilidades mortais.

—Para qualquer um aqui que não se chama Tominus Cavaleiro da Alvorada eu sugiro que saia, ou perdera muito mais do que um dia de pesca. Bree percebeu um minuto de hesitação. Um momento em que os pescadores se compadeceram de seu amigo, mas o minuto se acabou depressa e ela ouviu, passo após passo enquanto eles se afastavam. Nas historias os Cavaleiros da Nova Era pareciam ridículos, sem magia e sem deuses que os atendessem e apesar disso as próprias historias avisavam que eles representavam um perigo. O mundo podia não ser justo, mas a natureza era. Tudo tem um equilíbrio. Quando os Naturalis chegaram Desse Lado do Mundo eles eram como deuses, imponentes e poderosos. Sedentos por poder e riqueza. Eles exploravam os frágeis povos locais em trocas de pequenas graças, migalhas, e como eles gostavam de chamar.

A Herdeira Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora