Capítulo 7

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      Estava muito nervosa, tinha muita gente ali participando da entrevista, era uma empresa grande, muito bem conceituada, minhas chances de conseguir um emprego ali era de 000,01 porcento, nem sei o por fui perder meu tempo, eu devia ir embora. Me levantei pra sair quando me chamaram.

      - Bom dia - um dos senhores que estavam na sala falou.

      - Bom dia - respondi nervosa. Se meu estado de nervo estava no aplice antes quando achei que seria entrevistada por alguém do rh, imagina agora que descobri que seria entrevistada por três homens que aparentemente eram os donos.

      - Bom dia - um homem negro e que parecia ter dois metros falou, se levantou e puxou uma cadeira pra mim - sente-se, sou Joseph, trabalho na administração da empresa. Na verdade sou um faz tudo - sorri, pelo menos ele parecia legal.

      - Bom, vamos ao que interessa - o mais bonito deles pegou um papel que sua secretária tinha lhe dado e leu - pelo que diz no seu currículo você não tem experiência na área, somente um curso - agora eu tinha certeza que não devia estar aqui.

      O resto da entrevista foi ladeira abaixo, eu gaguejava demais, me enrolava com as respostas e várias perguntas eu não soube responder. Estava com tanta vergonha que a cada minuto que passava meus olhos se enchiam de lágrimas.

      - A entrevista está encerrada, caso seja selecionada para próxima etapa a empresa entra em contato com você - o moço chamado Joseph falou - muito obrigado por ter vindo.

      Me levantei e tentei sair de lá o mais rápido que pude, quando passei pela sala onde os candidatos ainda não entrevistados aguardavam notei que tinha mulheres lindas, aparentemente sofisticadas e bem qualificadas pra trabalharem ali, igualmente os homens que ali estavam, todos pareciam sabem o que esperavam deles, pareciam saber o que fazer.

      - Senhorita Johnson me acompanhe por favor - o senhor que parecia ser o mais velho falou aparecendo do nada atrás de mim.

      O acompanhei de volta e ao passar pela sala de espera percebi que todos se levantavam e ia na direção de onde ficava o elevador. O que será que ele queria comigo? Será que ia querer que eu dormisse com ele em troca de uma vaga? Não foi só uma pessoa que me contou que isso acontece muito em grandes empresas, aliás em pequenas também.

      - Sente-se - ele disse interrompendo meus pensamentos - sei que deve estar se perguntando o porquê de ter sido chamada novamente.

      - O senhor está completamente certo.

      - Eu fiquei curioso pra saber o que te motivou a tentar uma vaga aqui. Não querendo insulta-lá, mas, você deve imaginar que seu currículo não é muito bom considerando o trabalho que foi oferecido.

      - Sei sim, senhor.

      - No entanto não pude deixar de notar que são empregos bastante complexos pra uma adolescente. Trabalhar como repositora em uma loja chamada Taiwan durante o dia todo, depois como balconista durante a noite, um serviço ilegal pra uma de menor e pela sua idade presumo que estudava nessa época - concordei com a cabeça - o que te levou a aceitar esses trabalhos? Porque imagino que não era pra poder se ocupar além da escola.

      - Eu precisava.

      - Quero uma resposta mais completa. Por que você precisava?

      - Minha irmã nasceu com problemas e precisou de uma cirurgia e depois tem os tratamentos que ela faz até hoje, minha mãe adoeceu também, meu pai ficou desempregado e meu irmão o único que nós ajudava foi preso.

      - Seu irmão tinha envolvimento com alguma coisa errada? - ele perguntou mas não parecia estar julgando meu irmão, ele parecia interessado.

      - Não! - falei encarando minhas unhas - ele só estava tentando me ajudar.

      - E sua mãe? Você disse que ela adoeceu - ele pareceu perceber que eu não queria falar sobre o que levou meu irmão a ser preso e mudou de assunto - ela trabalhava antes?

      - Sim! Apesar de fazer alguns bons anos que ela tinha adoecido, nunca descobrimos o que é. Há um tempo atrás o médico que tratava ela nos deu um diagnóstico errado, nós ficamos tão animados com a descoberta do que era que usei quase todo o dinheiro que tinha recebido de uma indenização e internamos ela em um hospital particular pra fazer o tratamento, mas era muito caro, acabei tendo que trancar a faculdade que tinha começado a fazer há um mês só pra depois descobrir que o diagnóstico do médico estava errado.

      - Não processou o hospital pelo diagnóstico errado?

      - Eu e meu pai até queríamos fazer isso, mas esses processos podem levar anos e não tínhamos dinheiro o suficiente pra contratar um bom advogado.

      - Entendo. E sua irmã, o que ela tem?

      - Eu não me lembro o que ela tinha, eu tinha onze ou doze anos quando ela nasceu. A única coisa que me lembro dos meus pais me dizendo é que ela precisaria de fazer um transplante de medula, eu doei pra ela, mas até hoje ela faz tratamento, apesar de estar bem a saúde dela é bem sensível.

      - Estou vendo aqui que você fez o final do ensino fundamental e parte do ensino médio em um colégio militar.

      - Sim, estudei lá graças ao meu irmão.

      - Pai - o moço mais bonito e aparentemente mais sério chamou o senhor com quem eu conversava - estava procurando o senhor. Os investidores já chegaram e te aguardam na sala de reuniões sete.

      - Só um instante - o moço que agora reparei ser mais novo do que na primeira vez que o vi concordou e fechou a porta - me desculpe por interromper nossa conversa mas preciso ir.

      - Tudo bem - me levantei também e apertei sua mão.

....

      Ao chegar em casa ainda me perguntava o que tinha acontecido, por que aquele senhor tinha me chamado pra conversar? Isso não saia da minha cabeça.

      - Pai o que houve? - perguntei quando vi meu pai cabisbaixo sentado no portão.

      - Não sei mais o que fazer - ele suspirou cansado - o médico da sua mãe disse que é pra ela começar a fazer o tratamento quatro dias por semana e que é pra evitar se esforçar demais, disse pra mim evitar de fazê-la andar o máximo que puder e principalmente, não ficar subindo escadas - ele olhou pra escada enorme da nossa nossa casa - agora me diz como eu vou fazer isso? Não dou conta de ficar carregando ela por conta do desgaste na coluna - ele estava aflito só de pensar na possibilidade de não conseguir ajudar minha mãe a seguir as instruções do médico.

      - Pai calma. Olha eu fui bem na entrevista hoje - menti - eles disseram que vão me ligar - essa parte não era totalmente mentira - podemos comprar uma casa melhor.

      - É melhor não minha filha. Você já gasta seu dinheiro com os medicamentos, tratamento, não vai gastar mais. Além disso meu dinheiro já está quase acabando também.

       - Mas a casa tecnicamente faz parte do tratamento, já que o médico pediu pra ela não fazer muito esforço. Pensa comigo, se nós comprarmos uma casa sem escada vai ajudar na melhora dela, e foi o que o médico disse, sem escadas lembra?! Eu ainda tenho um pouco do dinheiro da indenização.

      - Você é muito esperta.

Aguardando a FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora