Prólogo

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A música me envolvia e eu dançava como nunca havia feito antes, poderia ser o efeito da bebida que estava em minhas mãos, eu sabia, aliás, só podia ser o efeito da tal bebida azul, mas àquela altura eu não me importava. Sem aguentar mais mexer o meu corpo e rebolar naquela pista, decidi sair em direção ao bar, eu precisava de água.

- Você percebeu que ele não para de olhar? - Minha amiga, Kim, gritou por conta da música e apontou discretamente para atrás de mim.

Peguei a água em cima do balcão e olhei disfarçando para a direção em que ela tinha apontado. Ele era alto, usava um boné com a aba para trás e óculos de grau. Ela estava certa, ele não parava de olhar e por um momento me senti estranha mas dei um sorriso para Kim, que podia ser interpretado como um "é, eu percebi".

- E você não vai falar com ele?! - Gritou ela espantada.

Kim sabia que eu não estava ali a procura de ninguém, eu só queria aproveitar a minha noite, principalmente após ter acabado de sair de um relacionamento com um final desastroso. Balancei a cabeça negando.

- Bom, é uma pena porque ele está vindo.

Olhei rápido para trás observando
o rapaz indo em direção ao barman e voltei a olhar para Kim como quem diz "por favor, não me deixe sozinha aqui", mas ela lançou um sorriso divertido e foi embora prevendo o que viria a seguir.
Acordei pela manhã com a cabeça latejando, eu não sei porque insistia em beber se sempre fui fraca para o álcool. Olhei para o lado e ele ainda estava lá, dormindo. Eu poderia ter sorrido, ou acordado aos beijos. Mas, problema um, eu nem sequer me lembrava de seu nome e, problema dois, aquilo não deveria ter acontecido. Sem querer acordá-lo e disposta a saber pelo menos o nome do cara com quem eu havia dormido na noite passada me levantei com o maior cuidado que consegui reunir ainda sentindo o efeito da bebida sobre mim e fui para o banho com as pontas dos pés, eu tinha a sensação de que estava esquecendo... Droga! O meu primeiro dia de trabalho seria dali a duas horas e eu estava de ressaca com um cara que eu nem mesmo conhecia. Entrei para o banho quente e demorado deixando a água limpar qualquer resquício de bebida e ressaca que poderia ficar em mim, lavando dos pés a cabeça. Desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha preocupada em como eu o acordaria, infelizmente quase quarenta minutos de banho não foram o suficiente para me lembrar de seu nome.

Saí do banheiro cuidadosamente mas a minha cama já estava vazia, não havia nenhum sinal de que ele ainda estava ali, exceto por suas chaves em cima do meu criado mudo. Raiva. Humilhação. Era tudo o que eu sentia, não que eu quisesse manter contato, mas ao meu ver pelo menos um "foi bom passar a noite com você" valia. Peguei as chaves e segui para a sala sentindo o vento gelado bater em meu corpo úmido. E ele estava lá, quase fechando a porta para ninguém vê-lo sair daquela forma. Eu poderia tê-lo deixado ir, mas ele voltaria pelas chaves, então nem minha teimosia e nem meu orgulho me permitiriam isso.

- Ei gênio. - Disse balançando suas chaves no ar - Acho que esqueceu isso.

Joguei as chaves para ele esperando ele falar alguma coisa.

- Me desculpe? - Ele disse com falso arrependimento e em tom de pergunta.

- Guarda suas desculpas para você. O que acha que sou? Acha que eu ficaria no seu pé?!

Eu estava indignada, claro, com qual tipo de mulher ele estava acostumado a lidar? Bom, claramente eu não era uma delas. Cruzei os braços o observando mudar de expressão.

- Bem, me desculpe. Eu estava atrasado, eu ia ligar...

- Ah, sério? Eu acredito muito em você. - Falei deixando claro o meu sarcasmo. - Você nem mesmo me disse o seu nome! E eu certamente não ficaria atrás de alguém que sai de fininho sem nem dizer 'bom dia'!

- Você esqueceu o meu nome?! - Minha expressão mudou de segura para desconfiada, droga, eu não poderia ter dado aquele deslize.

- E isso faria alguma diferença? - Tentei desviar o assunto. - Você não ligaria do mesmo jeito. Você sempre trata as mulheres como um objeto?

Ele pareceu ofendido com a minha acusação.

- Você nem me conhece! Mas você está certa, eu não ligaria de qualquer forma, foi só uma noite. E meu nome é Christopher, aliás.

- Oh, foi um prazer te conhecer, Christopher. E agora que tem suas chaves, pode ir.

- Tudo bem, Emma, a noite foi incrível.

Ele saiu e bateu a porta me deixando sem reação. Mesmo eu não querendo manter o contato eu me senti um objeto na mão dele. Mas quem ele pensava que era? Pior ainda, quem ele pensava que eu era. Mas como eu estava atrasada demais para pensar em algo, resolvi deixar para os meus amigos carma e lei do retorno. Tratei de ocupar minha mente com o que viria a seguir: meu primeiro dia de trabalho.

Depois de me arrumar às pressas e passar numa cafeteria, e eu necessitava da cafeína naquele momento, segui para o endereço do meu trabalho. Eu trabalharia junto com a equipe de uma banda, como uma acessora e fazendo parte da produção. Era como se eu fosse uma espécie de estagiária, em outras palavras. Mas eu realmente precisava daquele emprego. Esperei ansiosa numa sala que dava a vista com a cidade abaixo me perguntando para quem eu trabalharia, quer dizer, eu sabia que era uma banda famosa, mas nem sequer tinha me dado ao trabalho de pesquisar sobre os seus integrantes. Alguém abriu a porta e rapidamente me virei.

- Bom dia, você é a Emma? - Ele perguntou, era um homem com seus aparentes quarenta anos, e eu concordei com a cabeça. - Prazer, sou um dos empresários da banda, vou te dizer o que você deve fazer e apresentá-los a você.

Apertei sua mão firme e depois disso fomos ao mini tour. Ele foi me dizendo tudo o que eu faria, ajudaria a montar os figurinos, marcaria entrevistas, os acompanharia em alguns show e etc. Ele foi me apresentando às pessoas que apareciam, e eles pareciam ser uma equipe legal, o que me deu ânimo para começar a trabalhar. Estava tudo indo certo, até o momento de conhecê-los.

Ele abriu uma porta e nela os cinco integrantes, com mais algumas pessoas. O empresário deles havia anunciado nossa chegada chamando a atenção de todos, tal ato que me deixou tímida. Mas meus olhos encontraram os dele, mentalmente xinguei todos os palavrões em todas as línguas possíveis. Aquilo era brincadeira, não era? Só podia ser, e uma daquelas de mau gosto.

- Você?! - Dissemos ao mesmo tempo causando espanto em todos. Olhei imediatamente para um quadro que havia na parede, infelizmente não era brincadeira.

Eu havia passado a noite com um integrante da banda. Se descobrissem aquilo, eu teria perdido o meu emprego antes mesmo de começá-lo.

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