Stuck

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Passei todo o resto do dia tentando esquecer o que havia acontecido, Christopher tinha o poder de me tirar do sério quase sem esforço. Se fosse verdade aquele ditado de que arrependimento mata, eu provavelmente não estaria mais nesse mundo para contar história. Dei graças a Deus quando chegou a hora de ir para casa, ficar no mesmo ambiente que o repugnante do Vélez já estava me fazendo mal, embora eu duvidasse que ele voltaria a falar mais alguma coisa ruim por um bom tempo. Zabdiel me levou para casa, como sempre, mas dessa vez ele não poderia ficar para dormir.

Eu tinha ficado meio calada desde o acontecido, talvez eu estivesse começando a me sentir mal por omitir isso de Zabdiel, mas agora eu sentia que não podia contar, afinal, uma confissão do tipo "ei, já dormi com um dos seus melhores amigos e agora eu namoro com você e aliás é por isso que nós nos odiamos" não seria algo do tipo fácil de aceitar, nem em um milhão de anos.

- Você está tão calada. - Zabdi disse enquanto eu preparava algo para comermos, sorri fraco e mordi o lábio.

- Eu só estou com dor de cabeça. - Falei para ele e voltei minha cabeça para o simples macarrão que eu preparava.

Eu estava vestida apenas com uma blusa dele que ele havia deixado em alguma das vezes que ele tinha passado a noite em minha casa e que ficava quase o dobro do meu tamanho e por um short de moletom. Senti seus braços ao redor de minha cintura e sua respiração em meu pescoço e ele me deu um beijo na bochecha.

- Você fica linda quando veste roupas minhas. - Eu ri jogando a cabeça para trás.

Terminei o macarrão e comemos. Depois ficamos deitados no sofá trocando beijos e conversando, até dar a hora para ele ir embora. Não demorou muito para eu ir dormir.

Acordei no outro dia com mensagens de Zabdiel, automaticamente eu sorri e respondi as mensagens, e na seguida me levantei para ir trabalhar. Os meninos estavam terminando o novo álbum, então não teria muito o que eu fazer a não ser auxiliar na gestão.

Cheguei até o prédio do estúdio e como habitual peguei o elevador. Para o meu desagrado, a primeira pessoa que eu teria que ver era exatamente Christopher. Pensei em recusar e pegar o próximo, mas não dava para eu fugir dele todo o tempo,  relutante eu entrei no elevador.

- Bom dia. - Ele disse com o mesmo tom sarcástico e eu respondi apenas por educação, qualquer diálogo que viesse dele poderia ser um teste para me irritar.

De repente, num baque sentimos o elevador parar e as luzes serem substituídas por luzes fracas de emergência. Demorei um pouco até assimilar o que tinha acontecido.

- O que você fez?! - Perguntei quase gritando e ele me olhou confuso.

- Você acha que eu fiz o elevador parar? É sério?!

- Eu não sei, Vélez! Você seria capaz de qualquer coisa.

Ele não respondeu, eu estava nervosa, odiava lugares apertados enquanto ele tentava o botão de emergência eu tentava ligar para alguém, mas estava sem sinal. Chris também não tinha conseguido contato com ninguém. Entrei em desespero, de todas as coisas que poderiam me ocorrer aquela teria sido a última que eu imaginaria um dia acontecer. Vi Chris rindo baixo, ao contrário de mim ele parecia estar calmo, o que me irritou mais ainda.

- Do que você está rindo, Vélez?! Isso não é engraçado, estamos trancados aqui.

- Eu tô rindo do seu desespero. - Ele continuou rindo.

- Isso não tem graça! - Bufei me irritando com a gracinha dele. - Era pra você estar nervoso, pra você estar arranjando um jeito de sairmos daqui!

- Primeiro, você já está nervosa por nós dois, e segundo, eu não tenho como fazer nada, o que nos resta é esperar alguém. - Ele disse parando de rir se sentando no chão.

- Que droga! - Fiz o mesmo que ele e me sentei no chão. - Já é horrível ficar presa num elevador, é pior ainda ficar presa com você.

- Agradeço a gentileza querida, Emma. - Ele olhou pra mim dando um sorriso sarcástico. - Também não estou feliz de estar preso num elevador com você, mas não fico dando ataque.

- Eu não estou dando ataque, Christopher! - Dei uma respirada funda tentando me acalmar- Só não gosto de ficar trancada em lugares pequenos...

- É claustrofóbica? - Ele olhava pra mim. - Erick também é, teve uma vez que ficamos presos no elevador, isso foi quando estávamos no caminho pra um show.

- E o que aconteceu...?

- Bom, se é ruim ficar preso com uma pessoa, imagina com uma equipe inteira e mais nós cinco? - Ele riu balançado a cabeça. - Mas foi "tranquilo", logo consertaram o problema e saímos.

- Oh... Bom, só me dá agonia, sabe... Apesar da Kim me considerar uma pessoa preguiçosa, eu não consigo ficar muito tempo parada. - Ri baixo.

- Kim? É a sua gata?

- O que? - Eu ri de sua pergunta. - Não, eu não tenho gatos. - Rindo. - A Kim, ela é minha melhor amiga e... Por que você achou que eu teria uma gata?

- Ué. - Ele riu se aproximando um pouco. - Achei que você gostasse.

- Eu gosto, acho fofos, porém eu tenho alergia, então... Mas eu não tenho nenhum animal de estimação, eu tinha um peixe quando criança, mas ele morreu.

- Sua assassina de peixes.

- Ei! Ele morreu por estar velhinho, ok? - Eu acompanhava ele na risada. - Eu cuidei muito bem dele.

- Ok, ok, eu acredito. - Riu.

Eu ri junto com ele, os próximos minutos foram de um silêncio total. Eu checava meu celular a todo momento na falsa esperança de haver alguma rede de sinal, estava começando a ficar quente e abafado lá dentro, então tirei o meu casaco e coloquei do meu lado, sentindo o olhar de Christopher sobre mim, era menos assustador quando não estávamos presos sozinhos em alguns poucos metros quadrados. Ele sorriu sozinho e desviou o ollhar, me deixando confusa.

- Do que está rindo? - Perguntei, mas ele balançou a cabeça.

- Nada.

O olhei em seus olhos para ter certeza, não parecia ser um simples nada mas eu também não insistiria. Franzi as sobrancelhas desviando o olhar para meu celular novamente.

- Posso perguntar uma coisa?

O olhei novamente intrigada, Christopher não era do tipo que fazia essa pergunta antes de querer saber de algo, pelo menos não comigo. Mas estávamos trancados sozinhos num elevador, que mal teria? Balancei a cabeça afirmando e pedindo para ele continuar, ele abriu a boca algumas vezes tentando talvez decidir se deveria ou não falar.

- Na noite em que nos conhecemos... Você realmente não sabia quem eu era, não é? - Estranhei a pergunta mas respondi.

- Não... Na verdade, nenhum de vocês.

Ele levantou as sobrancelhas murmurando um "hum" em seguida.

- Por que a pergunta?

Ele respondeu o mesmo nada de antes, o nada que na verdade era cheio de tudo. O mesmo silêncio de antes tomou conta de nós novamente, ele desabotoou os primeiros botões de sua camisa, me lembrei da noite em que nos conhecemos, ele estava com uma blusa parecida. Pela milésima vez eu checava meu celular, mas já tinha aceitado o fato de que não haveria nenhum sinal. Levantei e tentei os botões de emergência novamente, havia pouco mais de meia hora que estávamos ali dentro. Me encostei e suspirei derrotada na parede metálica do elevador. Até Chris começar a me olhar de novo.

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