13. Café amargo ou docinho?

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Algumas horas antes

Sakura entrou no elevador e concentrou-se nos números, apertando o de seu andar com lentidão. Permaneceu de costas para Sasori por um tempo, sentindo o corpo gritar por um tempo de descanso. Virou-se de perfil, o olhando por cima do ombro, e deu-lhe um sorriso pequeno ao vê-lo olhando de volta.

— Chegou há muito tempo? — Sakura perguntou por pura educação.

Os dedos cruzavam-se em frente ao corpo, movendo uns contra os outros num tique que antes não tinha percebido ter. A música do elevador soava baixa, lenta e calma demais para ser trilha daquela cena. Sakura sentia-se presa nos olhos dele, e não era uma prisão bem vinda.

— Quase uma hora te esperando. — Sasori respondeu ainda a olhando. Era um olhar intenso, que passava por todo seu rosto como se procurasse respostas para o comportamento esquivo dela.

— Sinto muito. Ainda arrumam alguns detalhes depois que o programa acaba. — Calou-se percebendo a inutilidade e a falta de necessidade de se justificar.

— Que tipo de detalhes?

— Organização de tempo de treinamento, agendamento de gravação... — Soltou o ar com alívio ao escutar a porta do elevador se abrindo. Não se lembrava quando havia mentido assim para Sasori.

Silenciosos, andaram até metade do corredor. Não achava ser de propósito, mas ela andava a um passo à frente dele. Sakura sentia o peito apertado, a cabeça dando sinais de uma dor que só curaria com uma noite bem dormida.

— Com o chef Uchiha?

A voz de Sasori às suas costas a fez parar. A mão direita segurava a alça da bolsa com força; a outra, mexia-se sem uma desculpa para se ocupar.

— Ele é meu companheiro no programa, então, obviamente é com ele. — não esperava que seu tom saísse tão afiado, jamais falaria com Sasori daquela maneira, mas estava tão cansada e a ciência de onde aquela conversa iria parar aumentava sua resistência à conversas à meia noite sobre assuntos que não deveriam ser discutidos sem um preparo psicológico adequado. Ela só havia dado uma hora para ele, e ele não parecia com pressa para tocar no assunto a que veio.

Sasori ficou calado, mas ela não olhou para trás para olhá-lo. Seguiu até a porta de seu apartamento e buscou as chaves dentro de sua bolsa.

— No começo eu até compreendia sua motivação para entrar naquele programa, mas hoje não faz o mínimo sentido, Sakura. — Sasori falou atrás dela, sua voz era tão fria que lhe causou um arrepio longe de ser agradável.

— Compreendia? — ela repetiu sentindo as palavras azedas em sua língua. A mão dentro da bolsa — Foram as meninas que me inscreveram, Sasori, não busquei...

— Eu quero que saia daquele programa. — disparou incisivo.

E Sakura travou. De costas para ele, as pernas doloridas pelo tempo que ficara em pé naquele dia, a cabeça doendo e os olhos ardendo. Em suas mãos, dentro da bolsa, a textura rígida da aba de um boné esquecido no carro.

— Você não pode... — a voz saiu trêmula, antes mesmo dela sentir a fragilidade em sua garganta.

— Aquilo é um show de absurdos — a voz dele ainda era baixa, mas parecia retumbar enérgico demais em comparação à ela. Sasori deu um passo à frente e colocou a mão sobre o ombro de Sakura. Não havia tanta força no toque, mas ela sentia que podia desmoronar se não segurasse a parede. Sasori inclinou o corpo em direção à orelha feminina. Sakura tremeu, o choro preso em sua garganta. — Sensacionalismo atrelada à vida de uma cirurgiã? Não percebe o papel a que está se submetendo? Expondo seus defeitos em rede nacional e virando piada. É essa a imagem que quer ligada a sua vida? Uma subcelebridade que por acaso tem um diploma de medicina. Mas qual a importância disso quando se está na capa de uma revista vulgar de fofocas?

Provar, comer e casarOnde histórias criam vida. Descubra agora