Episódio Especial PT 1

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~POV Mina~

Eu nunca gostara de cachaça por muitos fatores. Tanto pelo cheiro fétido quanto o fato de descer queimando pela garganta, a bebida poderia deixar qualquer garota de 14 anos embriagada por completo em minutos. Eu não tinha estômago para isso, ninguém na festa tinha. Mas, naquela noite, eu não pude dizer não a uma boa taça.

Não foi só um gole, ou só um copo. Foram 178 garrafas, todas esvaziadas em menos de 3 horas. O que eu lembro daquela noite era o carpete branco da sala de estar, onde todos na casa estavam sentados. Sei que não devia ter estado lá, que não devia ter bebido, que não devia ter topado jogar verdade ou desafio. Éramos em média 36 pessoas, de todas as idades, eu era a única que não sabia o que fazia. Esse foi meu erro.

Recordo ter saido de casa a beira das lágrimas, correndo contra a noite em pânico. Eu tinha 14 anos de idade e uma mente incrível, no quesito de fazer besteira. Não lembro de ter caminhado até a casa, mas assim que avistei as luzes saindo dela, acabei sendo atraída pelas pessoas que dançavam la fora.

Ao avistar alguns colegas de classe, imediatamente me pus a secar as lágrimas, ajustar o vestido que usara mais cedo e arrumar o cabelo em um coque alto. Me aproximei, parando frente aos portões da magestosa mansão e comprimentei de longe algumas das garotas ali. Rujin foi a primeira a vir falar comigo, trajada com um vestido cor pêssego que acentuava suas curvas e contrastavam seu tom de pele amanteigado. Sorrí quando se aproximou, percebendo a saudade louca que sentia de minha prima mais velha.

-Não sabia que você vinha -disse a mesma, se impondo na minha frente, no lado de lá do portão.

-Eu não ia vir, te ví ali e resolvi dar uma passada só -eu rí, com o mesmo bom humor de sempre.

-Mas veio.

Ví um leve toque de ignorância em sua voz, enquanto a mais velha cruzava os braços e me encarava de maneira desafiadora. Imediatamente desmanchei o sorriso em meu rosto. Alguns garotos nos observavam, prontos para um confronto. Não me moví.

Do outro lado do quintal da casa, Yun me observava. Tinha em mãos um copo pequeno, cheio de um líquido âmbar fosco. Vestia uma saia de couro negra, um salto 15 e um top simples. No momento em que voltei a encarar Rujin, todos no quintal se encontravam em silêncio, perguntando-se o que eu faria a seguir. Permaneci imóvel.

A rua já se encontrava escura, mas o vento que me envolvia se mostrava mais abafado do que nunca. Eu já estava me arrependendo de ter resolvido pisar alí e já estava prestes a me virar e ir embora. Todos me observavam, de certa forma curiosos, mas fui impedida antes que pudesse recuar.

-Rujin, deixa ela entrar -ouví Yun falar, em algum lugar a minha frente.

Me virei para a mesma, que parecia fuzilar minha prima mais velha pelas costas. Como tudo já estava indo longe demais, decidí por um fim e ir embora logo, sentindo um clima pesado se formar entre as duas amazonas. Antes que eu pudesse abrir a boca, Rujin explodiu.

-Escuta aqui, Yun, eu gostava mais de você quando você não se metia no que não te interessava -bradou.

-E eu gostava mais de você quando você ficava de boca fechada -respondeu simplesmente, sem se deixar intimidar pela sapatona a sua frente.

Pela primeira vez até então, ví Yun levantar da cadeira de praia com armação simples e vir em minha direção de maneira graciosa. Seu vestido balançava conforme a freqüência de seus passos, enquanto uma furiosa Rujin encaminhava-se para o interior da grande mansão.

-Entra aí -sorriu Yun, segurando o portão para que eu pudesse passar- Aquela lá não vai mais te fazer mal, eu to aqui agora.

Algo em seu tom de voz carinhoso me fez ceder imediatamente, me dando forças para atravessar o portão e ficar frente a frente com o casarão. Me virei para a mais velha.

-Obrigada...

-Não precisa agradecer, entra lá, a donada casa é minha amiga. E não se preocupa com a Rujin, porque logo logo o namorado vem busca-la. Melhor você beber alguma coisa..

Entramos lado a lado, e só então pude ter uma noção básica do contingente naquele lugar. Eram mais ou menos 62 pessoas, todas conhecidas minhas, trajadas com seus vestidos justos, as blusas com decote e suas curtas saias de couro. Não sei como, mas quando atravesssi pela porta, um copo de cachaça foi posto em minha mão. Cutuquei Yun.

-O que foi Myoui? -murmurou, sem se virar pra mim.

-Eu... Er... -estendí o copo para a mesma, que me olhou incrédula.

-Você não bebe?

-É que não estou me sentindo muito bem..

-Espera -ela puxou me para um canto mais vazio na casa- Eu deixei você entrar aqui, mas diz : como veio pra cá?

-Eu estava andando na rua e ví as..

-Antes disso -ela interrompeu.

-Bom, eu acabei de sair do velório do meu pai.. -murmurei, a voz fraca não passando de um sussurro distante- Ele ia me levar no cinema quando chegasse de viajem, por isso estou bem vestida. Ele dirigia rápido, chovia, e acabou batendo em um caminhão, morreu na hora..

-Eu sinto muito -a voz de Yun soou no escuro, seu rosto completamente inexpressivo.

-Bom, eu não sinto -respondí, para em seguida correr e me perder na multidão de corpos.

Yun ficou lá, no escuro, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Eu estava pensando na mesma coisa.

CONTINUA..




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