Enquanto as Ondas Quebram {Mimo}

Cap 40 : Conflitos

~POV Momo~

Acordei em meio a madrugada fria, observando pasma o deserto ao nosso redor. O caminhão rodava macio sobre as pedras soltas, se direcionando para um lugar qualquer na escuridão.

Ao sentir minha barriga roncar por fome, meu corpo todo amoleceu e me intresteci, pensando no quanto Mina acordaria com fome também. Não comiamos nada a horas, e meu moletom favorito não era suficiente pra me proteger do frio.

Em meio ao cansaço e a fome, deitei-me novamente, tateando cegamente o chão em busca de seu calor. A mesma tremia, talvez perdida em um pesadelo distante, mas antes de me aproximar e abraça-la, tirei meu moletom desgasto e a cobri com ele. Num primeiro momento, meu corpo sofreu um choque térmico e me arrepiei, enquanto o vento tornava-se mais agressivo conforme o caminhão acelerava pelo desfiladeiro. Limpei o chão abaixo de mim e deitei, envolvendo Jagi em meus braços para aquece-la.

Por conta de sua testa ferida, senti emanar um odor adocicado enjoativo de sangue, que preencheu minhas narinas promovendo enjôos em meu estômago vazio. Respirei fundo, levantando e passando um pedaço de pano velho na testa da mesma. O corte não parecia profundo, mas ainda assim o sangue escorria sem pausa prevista.

Assim que o tecido tocou o ferimento, a mais velha acordou sobressaltada, soltando um arquejo de dor.

-Desculpa -segurei a mesma, tonta e desnorteada- Ta sangrando de novo, eu acho que a pancada foi um pouquinho profunda..

-Ai, minha cabeça ta latejando.. To um pouco enjoada também, e com dor no corpo, eu..

Antes que a mesma pudesse completar a frase, soltou um soluço alto e vomitou. Me aproximei, deitando a mesma de bruços para que não sujasse suas roupas, e puxei sua cabeleira para trás.

-Deu? -perguntei, após a mesma vomitar uma última vez e se ajoelhar no chão, um pouco afastada de mim.

-Sim, eu.. To um pouco melhor.. Acho que foi por causa de algo que eu comi e não fez bem, e depois de tanta tensão.. Eu preciso dormir um pouco, ta bom?

Ela deitou-se, sem esperar que eu respondesse. Imediatamente a cobri com meu moletom, e depositei um beijo em sua testa macia. Mina então virou-se pra mim, dando um leve sorriso e puxando-me pra perto.

-Não fica preocupada comigo -beijou-me de forma carinhosa- Eu estou cansada, e minha cabeça está doendo agora, depois de um bom sono vou estar melhor.

-Ta bom amor, mas eu me preocupo da mesma forma -separei-nos para poder encara-la- Você está aqui ao meu lado, mas se ficar doente não há nada que eu possa fazer além de continuar com você. Não temos água, comida ou roupas, não temos onde ficar e você não está bem. Vou estar aqui o tempo todo, mas não tem muito o que eu possa fazer..

-Momo -pegou minha mão entre as suas- Está tudo bem, você estando aqui já é o suficiente.

-Pra você é, mas não significa que estando aqui vou conseguir te proteger de tudo.

-Não precisa me proteger de tudo o tempo todo, sabe disso.

-Se acontecer alguma coisa pra você, a culpa vai ser minha! Fui eu que te puxou pra tudo isso, porque eu achei que se estivéssemos juntas.. Você e eu podíamos resolver tudo, mas não da. Somos foragidas procuradas internacionalmente, e se separarem a gente, eu talvez não consiga nos juntar de novo.

Soltei minha mãos das suas e abracei minhas pernas, voltando-me para a noite estrelada que nos envolvia para não encara-la.

-Prometemos fazer isso dar certo e eu amo você, de verdade, amo você Mina. Mas se tirarem você de mim.. Eu simplesmente vou morrer. Não posso permitir que alguém te machuque.

O céu brilhava intenso acima de nós quando a mesma me puxou para o chão, fazendo-me deitar a seu lado. Desfrutamos então de pequenos minutos de paz, o sono embalado pela música que vinha da cabine do caminhão e, claro, o cobertor de estrelas que se erguia sobre nós.

De repente, começou a tocar "if the comig", do The Weekend, e senti as mãos de Jagi me puxarem pra perto, um abraço quente e terno.

-Veja, essa é nossa música agora -ela disse depois de um tempo, cantarolando baixinho.

-Isso significa que vamos ficar juntas mais um tempo?

-Que tal pra sempre? Parece muito tempo pra você? -perguntou receosa.

-Uma casa no campo, 6 filhos? Longe dessa confusão toda? Pra sempre parece um tempo ótimo pra mim -sorri.

CONTINUA.