Capítulo 13

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John

Foi realmente uma tarefa árdua convencer Locus a concordar com a parada em Amarante. Ele estava irredutível e insistindo que minha mãe poderia conseguir flores em quaisquer canteiros. Como o turrão que é, não conseguia compreender o quanto o contato com a as flores era importante para uma domadora da terra como a rainha.

Há muito tempo, o solo da capital se tornara infértil. Não conseguia gerar vida, apenas mantê-la. Nenhum de nossos cientistas encontrou uma explicação para esse fenômeno. Por isso, todos os anos era necessário organizar uma expedição à cidade florida para conseguir novas mudas e dar um pouco de alegria a uma das mulheres mais importantes da minha vida.

Contudo, assim como Locus fez questão de enfatizar, esse ano não seria uma visita comum, já que Suzi implorara incessantemente para levar Scarlett consigo. Precisei montar um grupo de soldados para supervisionar a ida à cidade, o que enfureceu o general. Suas palavras, precisamente, foram "como você pôde ser capaz de colocar seus soldados em risco outra vez, John? Já não basta o que ela fez com dois deles? Ela é como uma bomba relógio e você sabe muito bem disso. Deveria deixá-la trancada no quarto!".

Depois disso, ele saiu intempestivamente do meu quarto. Locus estava fazendo de tudo para que, tanto ele quanto os seus soldados, mantivessem distância de Scarlett. Nos poucos dias até agora em que estávamos em alto-mar, praticamente se trancafiara em seus aposentos.

Sabia que ele tinha razão até certo ponto. Scarlett é um explosivo que pode ser acionado a qualquer momento. Possui um temperamento forte e imprevisível. Além de ser impossivelmente linda sem nem ter consciência disso.

Ninguém jamais havia me enfrentado como ela havia feito. Não possuía ideia de como iria explicar tudo isso ao meu pai. Scarlett é muito mais do que demonstra ser e eu não sabia se estava disposto a desvendar todo o seu mistério.

Entretanto, cada vez que eu fechava minhas pálpebras, a imagem dela com seus cabelos soltos voltava a minha mente. Seus olhos dourados começavam a assombrar meus sonhos.

Não conseguia entender como ela havia conseguido me tirar do eixo tão rápido. Nunca havia desejado tanto discutir com alguém. Sentia uma estranha urgência de provocar até que ela se abrisse por completo para mim.

Para evitar possíveis danos, optei por não ir a Amarante dessa vez. Seria melhor manter a maior distância possível daquela garota.

No meio da tarde, um empregado trouxe um bilhete de Anita para mim. Ela era uma grande amiga de minha mãe e uma das pessoas responsáveis pela cidade.

"Querido John (eu o vi usando fraldas, por isso tenho o privilégio de não usar seu título), gostaria de lhe pedir a gentileza de postergar sua partida por algumas horas. Precisamos de mais tempo para desfrutar da presença adorável de nossos visitantes. Você sabe como nossa cidade é carente de novos rostos, por isso seria encantador se permitisse que eles participassem das festividades do Equinócio. Em verdade, gostaria da sua presença aqui também, entretanto, sei que possui motivos para se manter afastado desse lugar. Respeito sua decisão, mas saiba que sempre estaremos esperando por você.

Com carinho, Anita."

Suspirando, entrego ao empregado outro bilhete com uma resposta positiva para Anita. Não poderia negar um pedido de uma das pessoas que mais me ajudou durante toda vida. Ela renunciara a vida na corte para erguer Amarante. Um projeto meu e uma idealização de minha mãe, mas nada partira de Anita. Ela acreditara em meu sonho mesmo o considerando uma loucura.

Entretanto, depois de tanto tempo sem conseguir concretizar nossos planos, visitar aquela cidade havia se tornado muito doloroso. Com isso, decidi manter distância. O que não me eximia de sentir saudade de tudo aquilo, de toda aquela beleza e alegria.

O crepúsculo já havia caído e eu não conseguia deixar de lado o bilhete de Anita. Era como um imã me puxando para si. Não havia como me concentrar nos documentos a minha frente.

Jogando tudo de lado, decido ir à festa e apreciá-la mesmo que seja apenas de longe. A maioria dos trabalhadores estavam participando das comemorações, por isso não encontro ninguém pelo caminho.

Chegando ao porto, já consigo ouvir a melodia pulsante que emana da praça. Sinto uma estranha nostalgia ao passar pelos prédios enfeitados. Esse lugar carrega muitas das minhas melhores lembranças.

Ao chegar à festa, fico hipnotizado pelo que vejo: Scarlett dança juntamente com outras garotas em perfeita sincronia no centro da praça. Na verdade, não enxergo nenhuma outra pessoa além dela. Sua pele cintila com a luz das tochas. Em sua cabeça há uma coroa de flores que a deixa ainda mais perfeita. Ela parece alheia aos olhares admirados que recebe e completamente entregue à música.

Seus olhos encontram os meus quando a canção termina e seu rosto se impregna com surpresa instantaneamente. Noto que suas mãos tremem levemente. Decido esquecer todas as razões que me dizem para ficar longe dela e vou em sua direção.

-Você poderia me dar a honra dessa música, bela senhorita? –Pergunto ao me aproximar dela.

-Mas não estão tocando nenhuma música. E-e e-eu não sei dançar direito. –Ela responde com os olhos arregalados.

Sorrindo de sua reação, viro-me para a banda pedindo uma música. No mesmo instante, um som pulsante começa a ser tocado. Enlaço a cintura de Scarlett com um braço e seguro uma de suas mãos entrelaçando nossos dedos.

Minha aproximação a pega desprevenida, por isso não consegue se afastar. Começo a guiá-la ao ritmo da música. Giro-a e a trago de volta para mim como minha mãe havia me ensinado há muito tempo.

Para meu deleite, Scarlett sorri para mim e permite que eu a conduza de acordo com minha vontade. As pessoas formam um círculo ao nosso redor e batem palmas acompanhando a batida.

Cada vez que minhas mãos tocam seu corpo, é como uma descarga elétrica em minha pele e não consigo desviar meus olhos dos seus. Ela é a mulher mais bela que já tive a oportunidade de admirar.

Percebo que já estou muito mais envolvido com ela do que deveria estar. Teria que admitir, pelo menos a mim mesmo, que viera até Amarante somente para vê-la.

Sinto que essa mulher será a minha perdição e, estranhamente, não me importo em ser destruído por ela. Nesse momento, só consigo desejar que a música não acabe jamais. 

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