O mundo parece silenciar a minha volta. Todos os sons desaparecem e vejo somente meu sangue tingir a tolha intensamente branca. Apenas quando alguém agarra minha mão, desperto do transe.
-Scarlett, o que houve com sua mão? –Cecília exclama alarmada.
Eu não respondo. Minha voz parece ter se perdido em meio a minha garganta e meu cérebro vagaroso consegue registrar que uma música está sendo tocada no recinto. Os convidados se aglomeram para ver a primeira dança de John e Katrina.
Entre os presentes ali, encontro os olhos da rainha. Ela parece descontente e não tenta esconder seu desapontamento nos segundos em que me fita. Por um momento, penso que ela lastima por não ser a mim que seu filho conduz pelo salão.
Meu autocontrole começa a enfraquecer e sinto uma solitária lágrima escorrer por meu rosto. Levantando-me, peço licença aos que permanecem à mesa e parto da sala do trono. Ouço Cecília chamar meu nome, mas não paro.
Liberto meu choro ao pisar nos primeiros degraus da escada, é quase como uma força incontrolável tomando conta de todo o meu corpo.
Preciso parar de caminhar por alguns minutos para controlar minha dor. Sinto-me igual a uma caixa de vidro quebrada, na qual os cacos são as sobras do meu coração.
Sabia que amar seria perigoso, um ato de coragem em um ambiente desconhecido. Também tinha conhecimento de que o lado mais fraco de um lanço sempre se rompe primeiro e, nesse caso, eu sou a mais fraca. John provavelmente estava apenas me usando como um passatempo. E, tolamente, acabei me apaixonando. A culpa era toda minha.
Ao me aproximar do meu quarto, ouço passos atrás de mim. Estou prestes a dispensar quem quer que seja quando a pessoa sai das sombras e revela seu rosto.
-Eu vim lhe dar um aviso e para o seu bem, é melhor cumpri-lo. –A voz estridente de Katrina ressona pelas paredes. –Fique longe do John. Ele é meu noivo e em breve será meu marido. Como rainha, poderei exigir a sua sentença de morte. Porém, se me obedecer, pouparei sua vida. –Ela ameaça.
Encaro seu rosto redondo por alguns segundos. Imagino diferentes formas de como eu poderia acabar com sua existência sem deixar vestígios. Todavia, John a escolheu, não fora ela quem me enganou.
-Não tenho a intenção de me aproximar do príncipe. –Respondo com toda a indiferença que consigo reunir.
-Sei que vocês se envolveram de alguma forma. Não me importa até que nível esse relacionamento chegou, mas agora acabou. Você não ficará em meu caminho até a coroa. –Katrina avisa.
-Pensei que você desejava o homem sob a coroa e não o objeto em si. –Digo sarcasticamente.
-Bem, ele é um belo bônus. Não concorda? –Katrina fala com um sorriso desprezível.
Sinto repulsa ao olhar em seus olhos e perceber que aquela união não passa de uma encenação, porém, John havia preferido trilhar esse caminho. Dando as costas à Katrina, entro em meu quarto.
Não consigo alcançar a cama antes que meu corpo se dobre si mesmo em prantos dolorosos. Tento conter os gemidos emitidos por minha garganta, mas é quase impossível. Uma agonia incontrolável pulsa em meu ser.
Abraço meu próprio corpo para conter o sofrimento. Jamais supus que amar alguém poderia se transformar em uma aflição tão grande. Meu único desejo é desaparecer desse castelo amaldiçoado e impregnado de maldade.
Não sei por quanto tempo fico deitada no chão até que ouço alguém abrir a porta. Naquele momento, não há mais lágrimas a serem derramadas. Suzi vem em minha direção e faz com que eu me acomode na cama. Ela cuida da minha mão lesionada sem fazer qualquer questionamento e uma forte gratidão me invade por isso. Não há palavras ou explicações, apenas vazio.