Capítulo 38

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A primeira sensação que sinto ao recobrar a consciência, é o frio que toma meu corpo inteiro. A segunda é que meu rosto está pressionado em uma superfície gelada e lisa. Meus músculos reclamam e minha cabeça lateja no instante em que tento me levantar.

Escuridão me rodeia dificultando a identificação do lugar em que me encontro. Tateando no desconhecido, toco em barras de ferro a minha frente e meu coração dispara. Independe da quantidade de força que aplico no metal, ele não se move. Tento me concentrar para evocar meu dom, mas uma impressão se vazio se apodera do meu peito.

-São as grades. Elas são feitas de ferro enfeitiçado que anulam seu poder e sugam um pouco da sua força para mantê-la sob controle. –Escuto alguém sussurrar próximo a mim.

-Luke? –Pergunto tentando acostumar meus olhos ao escuro.

-Ou o que sobrou de mim. –Ele responde em um murmúrio.

Consigo enxergar um vulto na cela ao meu lado. A claridade da lua que adentra por uma pequena janela me ajuda a ver que a figura desconjuntada é, na realidade, o corpo de Luke esparramado pelo piso de concreto.

-O que fizeram com você? –Pergunto me arrastando para o mais próximo a ele que a grade permite.

-Bem, alguns fatos interessantes ocorreram depois que você explodiu o quarto inteiro com seu poder. –Luke fala com um leve sarcasmo.

-O que? –Questiono surpresa.

Nesse momento, imagens desagradáveis invadem minha mente: o rei lendo minha carta, sua aproximação a mim e, por fim, sua tentativa de me violentar. Meu coração acelera e lágrimas despencam por meu rosto apenas com a lembrança do que poderia ter acontecido.

-Shh, agora está tudo bem. Estou aqui com você. –Luke diz se aproximando de mim.

-O que aconteceu depois que desmaiei? –Pergunto em meio ao choro.

-Você jogou Arthur a alguns metros de distância, seu quarto virou um monte de entulho e fui lançado contra a parede. Quando consegui me levantar, ele estava se aproximando de você novamente. Não me lembro ao certo como, mas no instante seguinte eu estava sobre o rei socando sua "cara real". Isso não durou muito tempo, para meu desapontamento. Vários soldados invadiram o lugar e me contiveram de uma forma não muito amigável. O rei não permitiu que me matassem, ordenou que nós dois fôssemos presos aqui e aguardássemos julgamento por traição. –Ele me conta. –Você permaneceu três noites desacordada, acho que o esforço foi demais pro seu corpo. Nesse meio tempo, recebi umas visitas não muito cordeais dos guardas do castelo. –Luke termina.

Meu lamento se torna mais forte pela magnitude do caos que minhas atitudes causaram. A dor que me atravessa acaba com qualquer força de vontade para esconder meus sentimentos, ainda que seja constrangedor deixar que outra pessoa veja minha desolação. Luke estende sua mão por entre as barras de ferro e toca meu rosto levemente.

-Jamais permitiria que ele a machucasse, Scarlett. Assim que percebi que você havia sumido da festa, comecei a procurá-la. Aquele monstro não tinha o direito de fazer aquilo. –Luke fala com doçura.

Sinto-me ainda mais culpada ao lembrar do motivo de minha partida da comemoração no jardim. Meu peito afunda com a peso da escolha de abandonar a todos sem olhar para trás e pelo desfecho que minhas ações imprudentes nos trouxe.

Idiota! Idiota! Idiota!

-O que vamos fazer, Luke? –Pergunto em meio aos soluços.

-Vamos dar um jeito, eu prometo. –Ele responde baixinho, sem muita segurança.

A fraqueza toma conta do meu corpo e deslizo pelas grades até o chão. A inconsciência me leva novamente enquanto Luke afaga meus cabelos carinhosamente. 

Coroa De Fogo - Livro 1 - Trilogia MestiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora