-O que você faz aqui? –John pergunta tentando retirar os braços de Katrina de seu pescoço.
-Seu pai convocou o meu pai para uma conferência e disse para que minha mãe e eu o acompanhássemos. Acredito que seja pela proximidade do aniversário da sua irmã. –Katrina responde com um largo sorriso e captura uma das mãos do príncipe entre as suas.
John parece desconfortável com o contato, mas não tenta se afastar novamente. Aquela cena desperta em mim um desejo enorme de ter a capacidade de ficar invisível. A voz de Katrina se assemelha a de uma criança que acabou de ganhar o presente que tanto desejara.
-Bem, deixe eu lhe apresentar uma pessoa, então. –Diz John fazendo com que Katrina volte sua atenção a mim. – Katrina, esta é Scarlett, minha prima. Scarlett, esta é Katrina, filha de um dos senadores que auxiliam na regência do reino. –Fala.
Katrina me analisa dos pés à cabeça sem nem tentar disfarçar. Em seus olhos castanhos há um brilho perverso, como se eu fosse um inseto que ela quer esmagar com seu solto fino.
-Então você é a famosa sobrinha perdida de quem tanto ouvi falar. É um prazer conhecê-la finalmente. –Diz com em um tom falsamente doce e uma sutil reverência.
-O prazer é meu. –Respondo no mesmo tom.
O clima ao nosso redor fica levemente mais frio enquanto nos encaramos. John alterna o olhar entre nós tentando entender o que está acontecendo. Katrina é a primeira a quebrar nosso contato visual e se volta ao príncipe.
-Poderíamos dar um passeio pelo palácio? Estou morrendo de saudade de desfrutar da sua companhia. –Pede.
John hesita. Seus olhos buscam os meus por alguns instantes, mas o ciúmes por Katrina ter a liberdade de segurar em suas mãos nubla meus pensamentos, fechando meu coração.
-Com licença, Alteza. Não irei mais tomar seu tempo. –Digo fazendo uma breve reverência em sua direção e me afasto.
Uma parte tola em mim deseja que ele me siga e impeça minha partida, espera que ele ignore o pedido de Katrina e prefira ficar ao meu lado. Contudo, quanto mais me afasto do príncipe, mais meu lado racional impede que qualquer esperança em relação a John crie raízes em meu coração.
De volta ao castelo, vagueio por longos corredores ainda não explorados sem prestar muita atenção no caminho e com a intenção de chegar à cozinha para almoçar, já que Félix havia começado o treinamento mais cedo. No meio do trajeto, uma tela em um tecido fino que retrata a rainha Eleonor fixada a uma das paredes chama minha atenção. Seus longos cabelos dourados se espalham por seus ombros e seu sorriso é tão brilhante quanto o sol. Ela tem um pequeno bebê em seus braços e parece segurá-lo com muita ternura.
Estendendo a mão, toco na pequena criança para sentir a textura do tecido, consequentemente, encosto na parede logo atrás dela. O som de uma porta sendo destrancada soa baixinho e, perplexa, reparo que um longo corredor surge detrás do retrato.
Sinto um desejo pulsante de sair correndo, mas minha curiosidade fala mais alto e entro no corredor procurando em seu interior se há uma alavanca que possibilitará meu retorno ao palácio. Felizmente, há.
Assim que meu corpo está completamente dentro da passagem, a porta se fecha com um "clack". Teias de aranha se aglomeram no teto, demonstrando que o lugar não é usado com frequência.
Conforme avanço pela passagem, luzes iluminam o caminho a frente sendo acionadas por meus movimentos, permitindo que eu veja uma porta no fim do corredor. Ao girar a maçaneta, deparo-me com uma pequena sala com uma parede de tijolos vazados. Por meio das frestas dos tijolos, uma cena inusitada se desenha em frente aos meus olhos: a sala do trono completamente vazia, exceto pelo rei e um homem vestido de preto dos pés à cabeça e com um capuz escondendo seu rosto.