-Você pode acelerar esse processo para nós dois se for sincero, filho. –Meu pai fala próximo ao meu rosto.
Tento me afastar de seu hálito de uísque pegajoso. Contudo, as cordas que me suspendem ao teto restringem minha mobilidade.
No momento em que me afastei do quarto de Scarlett naquela noite, Malvino veio ao meu encontro e me arrastou até o escritório do rei. Sem nenhuma pergunta, ele me atacou no abdômen com chutes e pontapés. A regra sempre fora não deixar vestígios, mas já posso sentir algumas costelas quebradas.
Meu pai paira ao nosso redor como um abutre. Ele é covarde demais para enfrentar seus problemas sem seus capachos para realizar o trabalho sujo. Dessa vez, não sei ao certo o motivo de sua agressão, porém, suspeito que está relacionado a Scarlett.
-Qual o seu envolvimento com a garota? –O rei pergunta.
-Você não sabe? Pensei que absolutamente nada ficava encoberto para o soberano de Pélagus. –Escarneço de sua ignorância.
Com um aceno de cabeça, Malvino é autorizado a fazer uso de um chicote de couro que repousa sobre a mesa. Preparo minhas costas para a dor e a agonia de sentir minha pele se partindo se infiltra até mesmo em meus ossos.
Não permito que minha boca emita um som sequer. Aprendi que lágrimas e súplicas não são efetivos nessa situação. Meu pai não possui um coração há muito tempo para ser sensibilizado.
-Mesmo depois de tantos anos, você ainda não entendeu as regras desse jogo. Tudo que respira ou não e se locomove ou permanece imóvel nesse reino, pertence-me. A morte e a vida estão em meu poder. Não há exceções, nem mesmo a você. –Ele pausa e me fita com arrogância. –Ela é minha propriedade e já estabeleci seu destino. Sinto em lhe dizer que, lamentavelmente, o sacerdote Cretus se despediu do templo e de seus funções espirituais para sempre. Ainda não descobri quem foi a testemunha daquela fajuta união, mas não tenha dúvidas de que tomarei conhecimento de sua identidade logo. –Ele conta.
-SEU DESGRAÇADO! Ele era um bom homem. –Enfureço-me e tento atacá-lo ineficazmente.
-Ele transgrediu minhas ordens e todos que cometem tal delito recebem somente um destino: a morte. Você se casará com Katrina como estipulei. Não se aproximará novamente da Scarlett. Há necessidade de lhe recordar o que está em risco caso você escolha assumir um comportamento rebelde novamente? –Ele pergunta, com os olhos em chamas.
-Como você pode ameaçar as vidas da sua esposa e filha? –Questiono enojado.
-Manter o bem-estar delas está em suas mãos. –Ele responde cinicamente.
-Você não passa de um monstro. –Falo e cuspo em sua face.
-ESCUTE COM ATENÇÃO, GAROTO. –Ele grita em meu rosto enquanto agarra meu pescoço. –Você vai fazer exatamente o que lhe for mandado quando eu ordenar. Não pense que pouparei sua vida caso me desaponte de novo. Agora, saia daqui. –Ele ameaça e me despensa com um aceno de sua mão.
Malvino solta as amarras que me sustentam e meu corpo se choca contra o chão. Encolho-me com a dor que se alastra em cada pedaço que me compõe. Quando ele retira as algemas dos meus pulsos, sinto meu dom retornar e isso diminui minha aflição.
Há alguns anos, o rei havia adquirido o que ele intitulara de "algemas encantadas". Elas retiram todo e qualquer vestígio do poder que possuo e diminuem minha força. Jamais descobri a origem de tal objeto.
Com dificuldade, regresso ao meu quarto. Previsivelmente, encontro uma caixa de remédios e curativos sobre minha cama. Assim como o rei, a rainha possui seus meios de obter informações dos acontecimentos que se sucedem no castelo.
A lembrança de minha mãe faz meu estômago se contorcer. Não posso permitir que nada de ruim aconteça a ela ou a Cecília.
Meu pai não pouparia ninguém para concretizar suas metas. Contudo, a ideia de me afastar de Scarlett é pior do que qualquer dor física que possa estar sentindo.
Em decorrência de um desejo meu, alguém que me era caro havia perdido sua vida. O sacerdote Cretus concordou em me unir a mulher que amo, independente dos riscos. Ele era um amigo de minha mãe e não hesitara em me ajudar quando necessitei. Agora, Leonard Cretus repousava em uma cova qualquer por minha culpa.
Não posso permitir que minhas escolhas façam mais pessoas se machucarem. Preciso tomar uma decisão. Espero apenas que dessa vez eu consiga salvar a todos a quem amo, mesmo que minha vida se perca no processo.
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Mais um capítulo para vocês! Espero que gostem! Não esqueçam de deixar aquela estrelinha marota e um comentário com a sua opinião!
