Capítulo 22

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-Scarlett, esse é o capitão Félix. Ele será o responsável pelo seu treinamento. –Diz o príncipe.

Tento não encará-lo e somente aceno com a cabeça afirmativamente. Félix me cumprimenta e começa a descrever como funcionará nossa dinâmica.

-Primeiro, quero testar como está sua resistência física, por isso hoje não focaremos tanto no aprimoramento dos dons. Não preciso dizer o quanto é importante sua dedicação, não é mesmo? –Fala.

-Não. –Respondo simplesmente.

-Pois bem, vamos começar. –Fala Félix.

O príncipe se retira sutilmente da sala e consigo respirar normalmente novamente. Quando Félix disse que iria testar minha resistência física, não imaginei que me faria correr por duas horas sem intervalo, fazer séries infinitas de abdominais e testar minha força com levantamento de peso.

-Você pode descansar por meia hora. –Diz o capitão enquanto estou levantando um enorme pneu.

-Meia hora? Quanta generosidade. –Respondo sarcasticamente.

Ele dá um pequeno sorriso de lado que é quase totalmente encoberto por sua barba e joga em minha direção uma garrafa com água. Nem mesmo hesito em beber todo o líquido de uma vez só. Sentando-me no chão, sinto meus músculos reclamarem.

-Você tem um ótimo condicionamento físico. Meus soldados iriam reclamar assim que a primeira hora de corrida fosse completada. –Comenta Félix se sentando ao meu lado.

-Nosso treinamento no quartel não é muito diferente disso. Sua corrida foi até fácil, nosso capitão costumava colocar obstáculos pelo caminho e seu dia preferido para exercícios ao ar livre era o mais chuvoso e frio. –Digo rindo um pouco.

Félix ri comigo e levanta suas sobrancelhas em surpresa. Ele não se parece com os demais homens que formam a guarda real, demonstra tranquilidade e segurança em sua posição sem a necessidade de impor isso aos outros. Ao encarar o rosto de um soldado que permanece próximo a uma parede, percebo que isso não causa espanto apenas a mim, já que o mesmo carrega uma expressão de incredulidade ao olhar para seu capitão.

-Scarlett, eu preciso saber o que você acredita ser a motivação do seu dom ter se manifestado. O príncipe me contou como tudo aconteceu, mas quero saber o seu ponto de vista. –Fala Félix, mudando de assunto.

-Bem, as minhas memórias daquele dia estão um pouco confusas, porém, lembro que tudo começou quando vi um pequeno menino ser surrado por dois soldados reais. Não sei ao certo como tudo realmente aconteceu. –Digo com certo receio.

Não queria falar a ninguém como aquilo havia me afetado e, por mais que Félix se mostre extremamente cordial, continua sendo um completo estranho para mim. Ele fica alguns segundos analisando o que eu disse e depois se levanta do lugar em que estava sentado.

-Proteção, então. –Diz simplesmente mais para si mesmo do que para mim. –Agora nós vamos treinar sua pontaria. –Continua dizendo como se a conversa anterior não fosse de importância alguma.

-Mas a minha meia hora ainda não acabou. –Reclamo ao me levantar.

-Tcs, tcs. Você estava indo tão bem. Vai começar a reclamar agora? –Félix pergunta com uma sobrancelha levantada.

Bufando, posiciono-me na marcação no chão em frente a vários alvos pendurados no teto. Eles se afastam entre si em diferentes intervalos e o mais distante parece estar a sessenta metros de mim.

Pela próxima hora, utilizo facas, balas e fechas para acertar o círculo vermelho central a minha frente. Todas as minhas tentativas são praticamente perfeitas, apenas com as flechas acerto a borda vermelha e não o centro.

Coroa De Fogo - Livro 1 - Trilogia MestiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora