Acomodando-me a sua frente, junto minhas mãos em meu colo para controlar o nervosismo. O príncipe analisa meu rosto por longos segundos antes de proferir qualquer palavra, aumentando consideravelmente minha apreensão.
-Você tem um talento nato para irritar o general. É quase admirável. –Fala de forma descontraída.
Quando ele solta uma pequena risada, percebo que não estou em problemas e solto a respiração que estava segurando sem perceber. O príncipe percebe meu desconforto e ri com mais vontade ainda.
Em resposta, cruzo os braços e faço a pior careta que consigo para ele. Exatamente como uma criança faria. Percebo o quanto devo parecer ridícula e me rendo a sua risada contagiante.
-Você achou que eu a faria "andar na prancha" apenas por irritar ao Locus? Aquele homem é uma pilha de nervos ambulante, até mesmo o ar que ele respira o aborrece. –Diz o príncipe em meio a risos.
Você está lendo pensamentos agora, Alteza?
-O que posso fazer? É um dom meu irritar pessoas já propensas a isso. –Respondo e faço uma leve reverência ainda sentada.
O príncipe também se inclina e nossas faces se aproximam. Nosso riso cessa e o humor se perde em meio ao seu olhar intenso. Aquele azul profundo me prende novamente, sem dar evidências de que pretende me libertar.
Isso já está virando rotina, Scarlett!
Busco forças internamente para quebrar nosso contato visual e aumento a distância entre nós. Mesmo mudando minha opinião sobre seu caráter, precisava lembrar que ele ainda era o príncipe de Pélagus.
O príncipe balança a cabeça como se quisesse limpar sua mente e volta a se recostar em sua poltrona. Seu olhar viaja até a pequena janela que dá vista para um céu azul e sem nuvens. O sol já estabeleceu seu reinado e brilha plenamente.
-O que você queria me dizer, Alteza? –Pergunto quebrando o silêncio desconfortável que se estabeleceu entre nós.
Seu rosto se volta para mim carregando uma expressão triste. Mexo-me desconfortável pela situação e, rapidamente, ele esconde suas emoções.
-Gostaria de falar sobre como agiremos ao chegarmos à capital. A princípio, o rei ainda não sabe sobre você. Porém, não duvido que rumores tenham sido espalhados. Assim que chegarmos ao palácio, irei falar com ele e, dependo do que ele já tiver conhecimento, contarei o que aconteceu em Marina Azul. Preciso que você esteja preparada para o que ele decidir. Obviamente, ele não poderá lhe fazer nenhum mal. Sua existência já é de conhecimento de muitos. Ele também terá curiosidade sobre você e... –Ele diz antes que eu o interrompa.
-Não serei uma cobaia para seu pai ou para qualquer um. –Digo com veemência.
-Não foi isso que eu quis dizer, Scarlett. Provavelmente, meu pai lhe oferecerá treinamento. Irá querer que aprenda a domar suas habilidades. Contudo, também irá querer saber até onde se estendem os seus dons. É vital que você controle seu gênio perto do meu pai, Scarlett. Precisa parecer o mais dócil e grata a ele que conseguir. O rei não tolera atitudes rebeldes ou desrespeitosas de ninguém, você compreende isso? –Ele pergunta com angústia em sua voz.
Levanto-me da poltrona e caminho de um lado para outro. Eu não havia pedido por abrigo e agora teria que me dobrar as regras do rei? Precisaria soterrar quem sou para satisfazer as vontades de um homem sórdido? Aparentemente, não havia outro caminho para seguir. O príncipe me condicionara a um destino sem volta.
Suspirando, aceno com a cabeça afirmativamente. Ele vem em minha direção e segura em uma das minhas mãos. Dessa vez não o rechaço e deixo que sua proximidade me tranquilize.