Sem que eu consiga entender como, meu corpo acompanha o do príncipe sem erros drásticos. Não sou capaz de dizer não ao seu sorriso. Seus olhos estão impregnados com uma expressão intensa que me impele a fazer sua vontade. É como se ele conhecesse cada pedaço que me constitui e o movesse de acordo com seu desejo.
Enquanto nossos corpos se tocam, sinto-me alheia a tudo que acontece a nossa volta. Encontro-me em mundo paralelo. Nessa cidade encantada, vivencio uma liberdade e leveza em minha alma que jamais possuí, como se houvesse um destino diferente a seguir.
O príncipe aproxima seu rosto do meu e coloca uma de suas mãos em meu rosto. Seu corpo se mexe de uma forma sedutora e, ao mesmo tempo, graciosa. É como se tivesse nascido para aquilo.
Sinto sua respiração em meus lábios e é como se tudo a nossa volta congelasse. Num ínfimo instante, penso que ele vai me beijar e imagino a sensação de seus lábios nos meus. Jamais havia sido beijada e a expectativa faz minha pele aquecer.
Entretanto, ele afasta meu corpo do seu para me girar novamente e coloca seu corpo em minhas costas, sem perder o compasso da música. Sinto seu sorriso em meu pescoço, demonstrando que ele sabe exatamente o que está causando em mim e que consegue desvendar a bagunça que está provocando em meu corpo e mente apenas com seu toque.
Quando a música chega ao seu fim, os aplausos que recebemos quebram o feitiço que seu olhar havia lançado em mim e vejo vários voltados para nós. Envergonhada com minhas óbvias emoções, tento me afastar dele, mas o príncipe aprisiona uma das minhas mãos entre as suas.
Enrijeço o corpo por seu contato insistente. Percebendo a mudança em meu comportamento, ele vasculha meu rosto em busca de resposta. Todavia, o que não consegue notar é a tortura que seu toque causa em mim.
-John, você finalmente decidiu nos visitar! –Exclama Anita as costas do príncipe.
Aproveitando sua distração, solto-me dele e me afasto. As pessoas o rodeiam como se fossem suas antigas amigas. Seus olhos me acompanham com uma expressão confusa, mas ele é obrigado a mudar seu foco para a multidão que o cerca e exige sua atenção.
Posicionando-me ao lado oposto em que o príncipe se encontra, tento me camuflar entre as pessoas e fico apenas observando a todos. Esforço-me para colocar minha mente no lugar.
Seria tão simples se apenas minha mente estivesse uma bagunça, mas meu corpo parece estar em uma batalha de sensações!
Percebo que ninguém parece incomodado com a presença de um convidado da realeza. Pelo contrário, todos o saúdam e parecem genuinamente felizes em lhe ver. O príncipe retribui a todos os cumprimentos e abraços.
A música volta a ser tocada e as pessoas retornam às festividades. Somente eu permaneço alheia ao ambiente animado. É como se a realidade de tudo aquilo se infiltrasse em minha mente. Sinto um gosto amargo na boca ao pensar no que estava desejando que acontecesse na frente de todas aquelas pessoas. Já bastava que havia permitido que ele me tocasse daquela forma em público.
Estava verdadeiramente desejando beijar o herdeiro do trono, sua idiota? Quer realmente ser apenas mais uma na longa lista de conquistas que ele deve possuir?
Em algumas horas, teria de voltar àquela lata flutuante e seguir viagem. Concomitantemente, essas pessoas continuariam festejando o Equinócio e aquelas crianças em Pedras Negras continuariam famintas e sujas. A vida seguiria sua rota programada.
Por um certo tempo, as roupas bonitas, a beleza de Amarante, a possibilidade de uma vida diferente, ofuscaram meus olhos. Até mesmo consegui esquecer o ódio direcionado a mim que vira nos olhos do príncipe apenas algumas horas atrás, os mesmos olhos que despertaram sensações estranhas em meu corpo.