ABRIL
Eleonor, mais carinhosamente chamada por mim de Eli, aconselhou-me a escrever. Tentou me convencer de que as palavras iriam amenizar minha dor, mas ela está errada. Nada ameniza a aflição da rejeição. Talvez eu seja uma aberração como nossa mãe incessantemente insiste em me convencer.
JUNHO
Por minha janela no sótão, consegui ver a carruagem real. Obviamente que meus pais me prenderam aqui. Eles não iriam querer que eu arruinasse as chances de Eli se tornar uma rainha.
Ela me prometera que, caso o príncipe realmente a escolhesse, nós mudaríamos para a capital e tudo seria diferente. Sendo a irmã mais velha, eu é que deveria ser a primeira a desposar, porém minha irmãzinha mais nova sempre foi a mais bela e delicada de nós duas e cuidava de mim constantemente. Jamais permitiu que eu me afundasse na escuridão que ronda minha mente.
Não tenho certeza se nossos pais permitirão que Eli me leve consigo. Contudo, só de pensar na ausência de sua companhia, sinto meu coração se dilacerar.
DEZEMBRO
O castelo é muito mais bonito do que Eli poderia ter descrito. Tudo reluz e brilha aqui. Com seu poder sobre a terra, ela fez tudo ficar florido para minha chegada.
Depois de brigar muito com nossos pais, Eli conseguiu me tirar do meu calabouço no sótão. Claro, não sem muitos benefícios envolvidos. "Temos que ser recompensados pelos anos de cuidado e dedicação a esse monstro", eles disseram.
Ainda pergunto-me o que foi que fiz de errado para receber tanto ódio daqueles que me deram a vida. Mas Eli afirmou que eu jamais teria que pensar nisso novamente. Nós seríamos felizes juntas agora.
Seu marido, o rei mais jovem a ocupar o trono de Pélagus, recebeu-me com um largo sorriso ao lado de Eli. Reparei no jeito com que ele olha para ela, como se ela fosse o seu sol. Pude sentir o amor que transborda em seus olhos. Pressinto que ela terá a vida que sempre mereceu, a vida de uma verdadeira rainha.
Eli me questionou sobre como estavam minhas visões. Fazia algum tempo que nenhuma me atormentava. Eu estava bem. Eu ficaria bem. Isso bastava para ela.
MAIO
Eli perdeu mais um bebezinho, como eu previra. Dessa vez, não contei a ela que havia visto. Não suporto a dor em seus olhos.
Ela tem sido a melhor rainha de todos os tempos, porém, a perda de seu herdeiro tem afastado o rei. Ele parece mais rude e sombrio. Olha-me com desconfiança continuamente. Sei que Eli nunca contou a ele sobre minha condição, mas sinto que ele tem suas suspeitas. Para a maioria, sou apenas alguém sem dons. Contudo, o rei é mais astuto do que os demais.
Em segredo, Eli tem trazido vários estudiosos para conversarem comigo. Um deles constatou que não sou como os outros elementais. Na verdade, nem me encaixo nessa categoria.
Meu sangue faz parte de uma antiga dinastia, a dinastia das bruxas. E agora estou decidida a conhecer mais do meu passado a qualquer preço.
OUTUBRO
Eu sabia que me despedir de Eli seria a pior parte de ir embora, por isso saí depois que o castelo estava mergulhado na completa escuridão da noite. Deixei apenas um bilhete avisando que iria seguir em busca da minha história.
