Ouço sussurros ao meu redor. Aos poucos, sinto a consciência retornar e o ambiente vai se tornando palpável. Estou sobre uma superfície macia que acredito ser uma cama, talvez a minha própria cama. O murmúrio a minha volta aumenta e diminui de volume constantemente.
-Você não deveria ser tão irresponsável, Cecília. Colocou não só a sua vida em risco, como a de outras pessoas também. –John fala em um tom duro.
-Eu sei, mas Luke estava conosco. –Cecília contrapõe.
-Estava e não foi o suficiente para manter Scarlett em segurança porque não tirava os olhos de você. –Exclama John exasperado.
-O que você quer dizer com isso? –Luke fala num tom ameaçador.
Quando abro os olhos, vejo os dois se encarando como se fossem dois cães prestes a brigar e Cecília no meio de ambos tentando conter a luta. Davi permanece em uma das poltronas com os olhos bem abertos.
-Basta! Vocês dois, já chega! –Falo e me sento na cama.
Isso quebra a tensão no ar e Cecília vem correndo para meu lado assim como Davi. A princesa me analisa como se eu fosse uma delicada porcelana.
-Como você se sente? –Ela pergunta gentilmente.
-Melhor, obrigada. –Respondo com o melhor sorriso que consigo colocar no rosto.
-Se vocês não fossem tão irresponsáveis, nada disso teria acontecido. –John tenta continuar o debate teimosamente.
-É mesmo, Alteza? E por que o senhor não nos impediu antes que saíssemos do castelo? Afinal, você nos seguiu desde nossa partida daqui. –Luke responde de forma impertinente.
Antes que o príncipe possa continuar com a discussão infantil, levanto-me e vou até a porta. Abro-a e coloco minha expressão mais severa.
-Saiam, vocês dois. Fora daqui! –Digo com autoridade.
-O que? –Os dois perguntam juntos com incredulidade.
-Vocês estão me deixando cansada com essa ladainha de macho alfa. Além de ser um péssimo exemplo para o Davi. Então, fora daqui. Agora! –Respondo.
Vou até eles e começo a empurrá-los para a saída. Eles relutam, mas saem. Antes de fechar a porta, vejo seus rostos cheios de surpresa e rio por dentro.
-Scarlett, eu nunca mais vou discordar de você. –Cecília fala e começa a rir.
Davi se junta a ela, provavelmente sem saber o porquê de estar rindo e eu acabo sendo contagiada por essa alegria. Ficamos os três deitados e rindo por absolutamente nada. O primeiro a se render ao cansaço é o pequenino menino. Eu o cubro com o cobertor e lhe dou um beijo na testa. Sempre imaginei que deveria ser assim que crianças devem ser colocadas para dormir.
-Acho que dá próxima vez não vou poder concretizar todas as vontades de Davi. –Cecília diz depois de alguns minutos de silêncio.
-Provavelmente, não. –Respondo.
-Desculpa colocar você em confusão. –Ela pede com um olhar culpado.
-Está tudo bem. Eu iria com você de qualquer forma. É isso que significa sermos amigas, não é? –Indago-a sorrindo.
-É, sim. Com certeza é isso. –Ela responde.
Depois disso, o cansaço leva nossasconsciências para longe. Cada uma de nós permanece em um dos lados de Davi,como se estivéssemos velando por seu sono.