-Eu tenho uma pergunta: você está, intencionalmente, buscando acabar com a própria vida ou só aprecia testar o limite da minha paciência? –Triny pergunta em tom de ameaça.
-É... Eu acho que não. –Respondo confusa.
-ENTÃO POR QUE NÃO ESTÁ NA SALA DE MÚSICA PARA SUA AULA? –Ela ruge em meu rosto.
-Eu... Bem... Acabei perdendo a hora. –Respondo praticamente em um sussurro.
Triny fecha os olhos e respira profundamente. Sua face está transtornada por raiva, mas vejo algo além disso. Suas mãos tremem levemente e ela morde o lado interno da bochecha incessantemente, notoriamente apreensiva. Ainda assim, ela parece assustadora.
-Para que eu não separe sua cabeça do tronco, você vai seguir exatamente o que eu disser. Sem questionamentos ou reclamações. –Triny avisa. –O rei declarou hoje pela manhã que dará um jantar para anunciar algo de extrema importância ao reino. Ninguém sabe do que se trata. Para minha infelicidade, ele solicitou a sua presença, alegando que você faz parte da realeza. –Ela respira profundamente de novo. –Eu me arrisquei muito quando aceitei cuidar do seu caso. Sei a verdade por trás da sua história e que nenhum sangue real corre em suas veias. Você é um desconforto para o rei e ele deixou evidente que não permitirá falhas. Não é apenas a sua vida que está jogo e seria inteligente e benevolente se isso permanecesse em sua mente para que, da próxima vez, você confabule uma desculpa melhor para seu atraso. Fui clara? –Ela questiona, fuzilando-me com os olhos.
-Sim. –Digo com um nó na garganta.
Pelo resto do dia, Triny me tortura com todas as lições que eu aprendera no palácio. Cada detalhe é revisado, cada regra de etiqueta repassada. Talheres, vestidos, postura, sapatos, coreografias. Tudo é incansavelmente repetido. Nem mesmo Cecília conseguiu alterar seu humor em uma visita rápida.
Meus pensamentos constantemente se desviam para Zara. Meu coração se partiu com a notícia de seu fenecimento. Sinto como minha a obrigação de cumprir a promessa que Gail fez a ela, só necessito encontrar uma maneira para tanto. Não sou capaz de mensurar a dor que sua família sentirá.
Triny me dispensa e me manda retornar ao meu quarto quando o horário do jantar se aproxima. Ela não parece satisfeita com o fim da minha tortura e, consequentemente, da sua diversão. Porém, para minha sorte e seu azar, preciso me preparar para a refeição noturna.
Ao entrar em meus aposentos, sou imediatamente envolvida por vários abraços. Não sei ao certo o que fazer para me livrar do ataque afetivo, por isso só espero. Suzi e Gail são as primeiras a me soltar, mas Cecília continua ao meu lado.
-O que você fez foi muito nobre, minha menina. –Suzi diz, acariciando meu rosto.
-Eu não fiz nada, Suzi. –Respondo desviando os olhos.
-Você fez muito mais do que qualquer um faria a um criado. Zara já foi enviada a sua casa. Terá um funeral adequado e sua família receberá provisões. A rainha não concederia tal bondade se não fosse por sua intercessão. Além disso, por sua causa alcancei uma função muito melhor. Orgulho-me por ser sua dama de companhia. –Gail fala com os olhos admirados e marejados.
-Eu só queria diminuir a carga de trabalho da Suzi. –Rebato encabulada.
-Não duvido que você desejasse isso também. Entretanto, não foi o motivo mais importante. Agora, vamos ao que interessa! –Cecília exclama.
Antes que eu possa contrapor novamente, elas me colocam sob o chuveiro. Cecília se apronta em meu quarto e isso ocasiona o arremesso de alguns pinceis de maquiagem pelo ar. Suzi ralha conosco e Gail apenas ri.