Em um piscar de olhos, o dia da minha Apresentação chegara. Um mês se passou desde que eu havia colocado meus pés no castelo pela primeira vez. Analisando meu reflexo no espelho, percebo que não sou mais a mesma pessoa que partira de Marina Azul.
Como o capitão Carter havia sugerido, aproveitei todos os ensinamentos que me foram oferecidos aqui. Entretanto, domar meus poderes não foi o mais importante deles.
Eu era cega a quanto o amor fez falta em minha existência. Não apenas o ato de receber afeto de outra pessoa, mas também a capacidade de assumir o risco que é amar alguém. Amar acima das aparências e qualidades. Ousar ao ponto de dar poder a outro indivíduo sobre sua própria vida espontaneamente.
O amor se torna, por nossa própria escolha, a maior fraqueza e, ao mesmo tempo, a maior força que possuímos. É como se atirar de um precipício com a certeza de que você aguentará o impacto contra o solo, mesmo sabendo que seu corpo não está preparado para isso. Na minha humilde opinião, não há nada mais contraditório do que o amor.
Apaixonei-me por John e esse sentimento tomou conta do meu ser como um tornado destruindo todas as minhas barreiras em sua trajetória. Não foi lento e calmo como adormecer. Foi repentino e explosivo como uma tempestade em alto-mar. Meu coração realmente nunca teve chances contra o poder de seus doces e belos olhos azuis.
Apenas a sua lembrança já traz um largo sorriso em meu rosto. O príncipe se tornara o conteúdo dos meus sonhos e o ator dos devaneios da minha mente. Além de ser uma parte imprescindível para minha existência. O futuro não fazia mais sentido sem a sua presença.
Enquanto fantasio sobre o porvir, uma horda de maquiadores, cabeleireiros e estilistas invadem meu quarto. Triny os acompanha dando ordens a todos. Por enquanto, nada de novo.
-Vamos lá, Scarlett. O grande dia chegou. –Ela me diz.
Sou submetida a diferentes tratamentos de beleza pela manhã inteira. A equipe de Triny retirou meus pelos, esfoliou minha pele até deixá-la vermelha, poliu minhas unhas e me fez tomar longos banhos com óleos perfumados. Quando meu embelezamento ou melhor, minha tortura, finda-se, sinto-me mais limpa do que nunca.
O castelo está barulhento do lado de fora do meu quarto. Porém, um clima de tenção paira sobre a cabeça de todos. O rei não é conhecido por sua benevolência, por isso, nenhuma falha será perdoada essa noite. Nenhum erro será admitido.
Com o intuito de minimizar minha ansiedade, toco constantemente o anel em meu dedo. Boas lembranças se infiltram em minha mente no momento em que encosto no coração azul que o adorna.
Não sou permitida de sair do quarto, nem mesmo para almoçar com Cecília. Passo o resto da tarde apenas na companhia de Triny e sua equipe. Eles permanecem em uma tagarelice incansável sobre vestidos e sapatos utilizados pela alta sociedade pelaguiana.
-Você parece distraída. –Triny constata.
-Bem, moda não é bem um assunto que eu domine, não é mesmo? –Contraponho.
-Nisso nós não podemos discordar. –Ela responde sorrindo. –Você, sem dúvidas, foi um dos meus maiores desafios. Nem ao menos sabia caminhar! –Ela exclama. –Contudo, preciso reconhecer o seu progresso. Em pouco tempo, acompanhei uma menina se tornar uma mulher. –Triny confessa admirada.
-Obrigada, Triny. Sem você isso não seria possível. –Digo em gratidão.
-Ah, ninguém jamais ousaria dizer o contrário! –Ela fala gargalhando.
É inusitado presenciar Triny sorrindo. Ela sempre fizera questão de se manter distante de qualquer interação afetuosa. Aparentemente, a apreensão coletiva detinha o poder de aproximar as pessoas.