Meu sorriso se desvanece em meu rosto até que a figura negra se misture à escuridão. Cecília repara que algo está errado e segura em meus braços.
-Você está pálida. O que houve? –Pergunta.
-Nada. Acho que estou um pouco tonta por não ter me alimentado direito. Volto logo. –Respondo.
-Espere. Vou com você. –Ela intervém.
-Não. Não quero que deixe de aproveitar essa noite por minha causa. Realmente já irei retornar para cá. –Tranquilizo-a.
Ela cede depois que lhe dispenso um sorriso e volta para o centro da dança. Sigo até a mesa que oferece uma variedade de receitas apetitosas, mas meu estômago não se anima com nada em que meus olhos se detêm.
Luke não me dirige mais do que um olhar, sua atenção está voltada para Cecília. Pela primeira vez desde que cheguei aquele lugar, não sou a maior preocupação de ninguém.
Esgueirando-me, passo pelos cidadãos que riem e falam alto demais. Meu coração brada que eu deveria voltar para a segurança das festividades, mas minha mente teimosa insiste em chegar ao fundo do mistério que aquele homem exala.
Quanto mais me afasto da praça, mais escuro se torna o ambiente. Chego à esquina do beco em que vi o homem sombrio entrar juntamente com dois sujeitos em seu encalço e lá parece estar um breu completo. Aproximando-me, apuro meus ouvidos para saber se há alguém ali, contudo, não há nenhum som.
Adentro o beco com passos lentos e encostando em uma das paredes para me guiar. A passagem não é muito longa, por isso, quando alcanço sua outra extremidade, vejo uma pequena praça que dá em um caminho para fora da capital. E lá, no meio daquele espaço, estão os três homens.
Permaneço na segurança da saída do beco que continua na escuridão. Os homens parecem estar carregando uma caminhonete velha com várias caixas de madeira.
-Tenha cuidado com isso, essas armas são frágeis. –O homem sombrio diz aos outros dois.
Então essa é a carga deles? Armas? Por que o rei iria dar armamento ilegal a esses homens? Tento chegar mais perto para conseguir distinguir de que tipo de arsenal eles estão falando, mas as trevas que me protegem também encobrem o caminho a minha frente e acabo pisando em um galho.
O "clack" ecoa alto no ambiente silencioso e três rostos se voltam instantaneamente para mim. O homem sombrio dá alguns passos em minha direção, estaciona no lugar e retira seu capuz. Vê-lo agora é ainda pior do que da primeira vez, sua cabeça está coberta por símbolos em tinta preta e sua face é marcada por cicatrizes.
-Se eu você fosse, sairia das sombras. Elas podem esconder mais do que podemos ver. –Ele fala com sua voz baixa e maldosa.
Meu coração pulsa incessantemente em meu peito. Não consigo pensar direito e o ar parece faltar aos meus pulmões. Em uma situação normal, eu conseguiria revidar facilmente, mas aquelas órbitas negras me apavoram. Ao perceber que os outros homens estão tentando me encurralar, começo a correr. Não há dom, poder ou magia, somente a energia cinética necessária para minhas pernas continuarem se movendo.
-Peguem-na. –Fala o homem sombrio aos outros dois.
Sinto-os em meu encalço, porém, não paro de correr. Eles parecem mais perto a cada passada. Minha cabeça grita que preciso chegar a luz e tudo ficará bem. Quando alcanço a entrada e saio do beco, alguém me agarra pela cintura e tapa minha boca antes que eu possa gritar.
Apesar da minha resistência e luta, o braço ao meu redor parece de aço e me leva com rapidez para mais longe da luz. Mais precisamente, para a lateral do beco, onde há uma pequena área arborizada, na qual meu captor adentra cada vez mais profundamente.