Caio de joelhos por não conseguir mais sustentar meu próprio corpo pela ausência de oxigênio. Algo parece arranhar minha garganta e meus pulmões gritam silenciosamente em agonia. Não sei por quanto tempo consigo aguentar, mas continuo tentando.
-Isso é para você aprender a medir suas palavras. –Ouço o rei sussurrar em meu ouvido.
Ele passa por mim, seguindo em direção à saída. Uma raiva insana me domina, junto com um desejo vívido de continuar respirando. É, só então, que eu sinto: partículas e moléculas se juntando e se desfazendo a minha volta; pequenas porções de ar que passam por mim. Sinto a respiração de cada um a minha volta e o vento lá fora.
Colocando as mãos em meu pescoço, ordeno que o ar passe por minha garganta e penetre em meus pulmões. Um alívio se entranha em cada parte do meu ser e volto a respirar. Escuto os passos do rei pararem no mesmo momento em que minha agonia se encerra.
-Eu não mandei você parar, soldado. –Fala com raiva.
-Majestade, eu não parei. –O soldado domador do ar responde aterrorizado.
Eu compreende o que aconteceu mesmo sem ninguém me explicar: consigo domar o ar. Dessa vez, isso não me espanta, pelo contrário, traz-me uma certa alegria em saber que nunca mais irão conseguir me roubar um sopro de vida se quer.
Levantando-me, encaro os rostos chocados a minha volta, principalmente o do rei. Reparo o instante exato em que ele percebe o que está acontecendo e, sem dúvidas, ele não parece nada satisfeito.
Eu, com certeza, também não estou, maldito rei!
-Levem-na para o escritório. –Fala o rei em tom de ameaça.
Com um movimento da minha mão, afasto o soldado que tenta se aproximar. Ele se choca contra a parede mais próxima e parece ficar desacordado. Nessas circunstância, não dou importância a possibilidade de tê-lo machucado. O poder pulsa em minhas veias e molda minhas ações.
-Eu sei o caminho. –Falo.
Minha voz soa estranha até para mim, baixa e ameaçadora. O rei não me questiona mais, apenas segue a minha frente.
Não olho para mais ninguém. A culpa por ter possivelmente ferido alguém, começa a se infiltrar em minha máscara de frieza quando nos afastamos da multidão.
Ao chegarmos no escritório real no quarto andar, o rei entra e se senta atrás de uma enorme mesa. Ele não fecha a porta, indicando que não pretende ficar sozinho comigo. Aquilo desperta uma estranha satisfação em meu peito.
-O QUE VOCÊ FEZ HOJE É INACEITÁVEL. –Ele brada, socando a madeira a sua frente. –Você não opina nas questões reais. As pessoas lá fora podem até pensar que você faz parte da família real, entretanto, nós sabemos que não faz. Você não passa de uma órfã, uma mestiça, uma profana que se sente mais importante do que realmente é. Tem sorte que somente algumas pessoas importantes e de confiança estavam naquela sala. Se você não acatar minhas ordens ou criar mais um inconveniente para mim, não serei tão misericordioso como fui até agora. Entendeu? –Ele fala em um tom ameaçador.
Sinto os soldados e suas armas atrás de mim mesmo sem vê-los. Com certeza, eu não conseguiria derrubar a todos tão rápido sem morrer no processo.
-Sim. –Respondo a contragosto.
-Sim... –O rei me provoca.
-Sim, Majestade. –Digo com todo ódio que possuo.
-Ótimo. Agora volte ao seu quarto. Ficará lá até que eu permita sua saída e não receberá qualquer tipo de alimento ou companhia até amanhã. –Ele diz e me dispensa com um movimento de sua mão.