Capítulo 17

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No momento em que meus pés tocam o solo, sinto um estremecimento perpassar por meu corpo. É como se a cidade estivesse me dando boas-vindas e um aviso velado.

Só resta saber qual o conteúdo do tal aviso!

O porto de Aurora Negra está repleto de barcos ancorados. Aparentemente, a capital inteira havia parado suas atividades para prestigiar o retorno do seu herdeiro. Vejo soldados por todos os lados e escuto ao longe a voz de Locus ditando ordens.

Permaneço junto aos empregados no fim da comitiva do príncipe. Tentando, em vão, misturar-me a eles, meu vestido torna essa tarefa impossível. Vejo uma carruagem negra se aproximar de nosso vasto grupo, enquanto o príncipe parece procurar por algo em meio à multidão. Quando seus olhos me encontram, ele vem em minha direção. Como se programadas a isso, as pessoas saem do seu caminho sem uma palavra apenas ser proferida.

Parando a minha frente, o príncipe pega uma das minhas mãos e começa a caminhar em direção à carruagem me arrastando consigo. Ao perceber todos os olhos voltados a mim, empaco no lugar como um burro teimoso.

-Você terá que vir comigo, Scarlet. –O príncipe diz se voltando para mim.

-E por que eu faria isso? –Respondo tentando libertar minha mão da sua.

O príncipe respira fundo e me solta. Ele aproxima sua boca do meu ouvido e sussurra somente para eu ouvir.

-Porque se você não for vista pelo povo, será mais um motivo para meu pai não ter razões de lhe dar a gentileza de continuar respirando. –Fala e me dá as costas.

Não consigo distinguir se isso é apenas uma maneira de me forçar a fazer sua vontade ou se o príncipe está falando a verdade. Por isso, decido segui-lo, ainda que a contragosto.

Afinal, ainda preciso de oxigênio para viver!

A caleche é completamente preta. Composta por quatro rodas, dois assentos duplos de frente um para o outro, puxada por dois cavalos brancos como meu vestido. O cocheiro traja o uniforme vermelho tradicional com uma pequena flâmula de Pélagus no lado esquerdo do peito.

O pelo dos animais reluz a luz do sol e fico fascinada por sua beleza. Até mesmo eles exalam uma aura real. Ao me aproximar para admirá-los mais de perto, os cavalos relincharam e se agitaram fazendo com que o condutor me lance um olhar enviesado. Resignada, afasto-me e vou em direção aos assentos.

O príncipe estende uma mão para me ajudar, porém o ignoro e subo sozinha. Ele abre um pequeno sorriso e balança a cabeça em negativa. Sentando-se ao meu lado, ordena ao cocheiro que comece a conduzir.

Aceno para Davi e Suzi que sorriem para mim ao longe. Meu coração se aperta por deixá-los para trás.

-Você os verá no castelo de novo. Não se preocupe. –O príncipe me assegura.

Apenas aceno com a cabeça. Aos poucos, vamos nos afastando do porto e adentrando a capital. A rua principal foi fechada para a passagem do príncipe, com isso, uma multidão se aglomera as suas margens acenando e clamando por um pouco de atenção.

Pela cidade se espalham prédios e casas, uma mistura de moderno e clássico. As construções são luxuosas e possuem cores vivas, colorindo tudo a nossa volta. Passamos por uma praça com balanços, na qual crianças brincam felizes. Algumas garotas apontam para nós e cochicham entre si.

Analisando melhor os rostos entre as pessoas, noto que muitos são mestiços. Contudo, não são eles que comemoram o retorno do príncipe. Ao invés disso, estão à sombra de elementais, servindo-os e obedecendo suas ordens. Nem mesmo elevam seu face para ver nossa passagem.

Coroa De Fogo - Livro 1 - Trilogia MestiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora