Capítulo 1

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Meses antes...

~ Eliza ~

     - FILHA ACORDA, já está tarde - ouço a voz de mamãe.

     - Não, mãe. Só mais cinco minutos. - coloco o travesseiro no meu rosto.

     - Vai logo, Eliza - ouço ela abrir a janela enferrujada. - Nós temos que trabalhar.

     Resmungo algo aleatório e esfrego os olhos. São 05:00h da manhã, horário em que levanto para trabalhar. Sou lavandeira junto com minha mãe. Na verdade, começamos a lavar as roupas às 07:00h, mas até chegarmos na cidade, são um hora e meia.

     Me levanto da cama de ferro vermelha, e me espreguiço. Calço meu chinelo de couro duro e surrado, amarro meu cabelo cacheado com um grampo. Saio do quarto, meu irmão não está mais na cama dele. Entro no banheiro minúsculo e escovo meus dentes, lavo o rosto e seco em seguida.

     - Bom dia, Rafinha - digo dando volta na mesa.

     - Bom dia - ele responde com a boca cheia.

     - Cadê o papai? - encho a caneca de café forte e quente.

     - Está preparando a caminhonete - ele responde virando a caneca de plástico cheia de café, na boca.

     Tomo meu café, enquanto Francisca, minha mãe arruma nossa marmita.

     - Eliza, vamos logo - ela diz e bate o pé.

     - Rafael! - meu pai grita do quintal - Vamos logo, não podemos perder tempo!

     - Estou indo, pai! - Rafael sai correndo para o quintal.

     Ouço o som do motor velho da caminhonete do meu pai. Papai e Rafinha trabalha na feira, eu e mamãe lavamos roupas, mas nas horas vagas, eu vou para as ruas vender brigadeiros.

     - Vamos logo, Eliza - minha mãe pega a bolsa de pano farrapado e coloca nossa marmita dentro da mesma. - A cesta de doce já está pronta.

     Limpo a mesa de ferro branco e coloco a caneca na pia. Cubro a cesta de palha com um pano de prato, o melhor que temos.

****

     Chegamos na cidade. Vamos direto para a casa dos Fernandes. Nós vamos direto para a lavanderia depois de termos deixado nossa marmita e a cesta de brigadeiros na geladeira da D. Diva.  Tem um grande cesto de roupas para lavar.

     Começamos nosso serviço, mamãe esfrega cada peça no tanque de concreto e eu torço tudo e estendo no varal.

     - Minhas costas está doendo - reclamo e me sento no chão.

     - Eliza, levanta daí e vem me ajudar - Francisca fala. - Sabe que precisamos de dinheiro.

     Bufo e me levanto.

     - É para irmos embora daqui? - pergunto voltando para o tambor de lata. - Sabe que isso é loucura, não é?

     - Eliza - ela diz em advertência. - Você sabe que é melhor para nós. São Paulo é cidade grande, tem mais oportunidade de emprego, quem sabe você e o Rafinha pode até fazer uma faculdade.

     - Não sei se vou conseguir deixar Pernambuco. - afirmo. - Aposto que lá não tem praias lindas como aqui.

     - Ih! Você fala como se conhecesse as praias daqui - ela me lança um olhar divertido.

VENDIDA - A Menina que precocemente tornou-se mulher - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora