Capítulo 10

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~ Eliza ~

    Solto o ar pesadamente, meus olhos estão cheios de lágrimas e a nostalgia foi embora. Estou em solo brasileiro. São Paulo, Paraisópolis.

    O lugar continua o mesmo: crianças brincando, mães nos afazeres domésticos e senhoras fofocando na frente dos seus portões. A minha casa está lá bem no topo do morro, continua a mesma também. Tem bastante gente me olhando fixamente.

    - Eliza! - ouço a voz de Lorraine.

    Me viro para ela. Lorra está correndo sobre os saltos plataformas em minha direção. Ela veste uma mini saia jeans, regata vermelha, o cinto exagerado que ela nunca tira enfeite o cós da saia. Os seus cabelos agora estão platinados.

    - Lorraine! - limpo os meus olhos e vou em sua direção.

    Sou envolvida em um abraço caloroso e necessário. Isso é demais para mim, não recebo isso a um bom tempo. Desabo no choro em seus braços.

    - Que saudades - ela murmura. - Por onde você andou?

    A aperto mais forte nos meus braços. Minhas lágrimas molham seus cabelos de progressiva.
    - Eliza - ela acaricia meus cabelos.

    Me afasto dela e limpo meu rosto. Lorraine me olha de cima a baixo.

    - Nossa, cheia das marcas.

    Estou vestida com um vestido do Valentino e uma rasteirinha da Armani, a minha bolsa é da Guess Acessórios. Ganhei tudo isso do velho flácido que tive que transar, na semana passada.

    - Por onde você andou? - ela pergunta.

    Pensa rápido, Eliza.

    Dou de ombros.

    - Ah, por aí - começo a caminhar em direção à minha casa. - Cadê o Rafinha?

    Ela sorri abertamente.

    - Você não me disse que o seu irmão é um gostoso.

    Paro no mesmo segundo, indignada.

    - Você foi para cama com o meu irmão.

    Ela sorri ainda mais, mas o seu sorriso some imediatamente.

    - Eliza, eu sinto muito pela sua mãe. Mas você nem foi no enterro dela, rezamos uma missa para ela. Cadê a sua consideração, Liza?

    Baixo a cabeça.

    - O Rafinha levou uma surra, o aniversário dele passou e você andando por aí - pelo seu tom de voz ela está com raiva de mim.

    - Me desculpe.

    - Não é pra mim que você tem que pedir desculpa. É para a sua família. - ela passa a mão nos cabelos. - Eu dei parte na polícia, você está sumida a quase um mês.

    Então foi ela. Pensei que tinha sido meu irmão.

    - Está todo mundo te procurando igual louco.

    Pego seu pulso e a puxo morra à cima. Abro a porta de casa, o ar familiar me recebe. Começo a chorar descontroladamente ao ver o retrato da minha mãe pendurado na parede.

    - Mãe - meu estômago e peito dói tanto que chego a me curvar e me massagear. - Me desculpa, por favor.

    Sei que Lorraine ainda está aqui e me olhando.

    Me sento no chão e me abraço com força. Estou sob o retrato de Francisca. Estou com um ódio tão grande, eu preciso ver José e dizer o quanto sinto nojo dele, sinto asco ao saber que tenho seu sangue correndo nas minhas veias. Estou com vontade de sair gritando para todo mundo me ouvir, sinto que tem um buraco negro no lugar do meu coração, e os estilhaços dele estão à beira dessa cratera.

VENDIDA - A Menina que precocemente tornou-se mulher - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora