Prólogo

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O que poderia eu dizer sobre a vida? Sobre a minha vida, especificamente. Nada nunca é fácil, mas mesmo reclamando de cada dificuldade todos sabemos que não tem graça quando as coisas simplesmente caem em nossas mãos. Porém, me questiono por quê tanta situação tende ser extremamente difícil. Estabilidade não é nada estável para mim.

Nunca fui de acreditar em contos de fada, mesmo sendo sonhadora. Digamos que hoje voo em uma margem segura para quando eu cair o tombo não ser grande demais, pois a realidade sempre puxa meu pé quando decido alçar voo; estou no pico e do nada ao chão. É tipo sina, karma, não sei... Chame como quiser. No fim, apenas chamo de vida.

***

Desperto em minha cama, sinto o sol daquele sábado atravessar minha janela e respiro o ar fresco daquela manhã.

-Bom dia, Emmy.

Conrado me dá um beijo e me abraça.

-Bom dia, meu amor.

Apesar da preguiça, levantamos logo e descemos para preparar o café.

Faço meu café com leite e meu pão francês com manteiga. Ele, muito mais saudável que eu, corta frutas e mistura com aveia e suco de laranja.

-Já te falei que pão não faz muito bem, né?!

-Como desde pequena e estou viva. Não desmereça meu café da manhã paulista de padoca. -Dou uma piscadela com desdém.

-Tudo bem, tudo bem... Pelo menos coma alguma fruta. -Ele se rende com meus argumentos, mas joga uma maçã em minha direção.

-E então, Mister Fitness, quais os programas para hoje? -Pergunto mordendo a fruta e me sujando com o sulco.

Ele ri e se senta à mesa.

-Sei lá... O dia está lindo. Podemos ir ao parque do Ibirapuera um pouco.

-Ótimo! Cansei de ficar presa no escritório. -Faço uma careta.

-Então vamos nos arrumar e aproveitar o sol. Talvez chova mais à tarde, sabe como é...

-...São Paulo. -Completo rindo.

Subo enquanto Conrado limpa a mesa e a pia. Tomo um banho rápido cantarolando músicas aleatórias e quando saio visto algo simples e fresco. Ele entra no banho e eu arrumo o quarto. Logo estamos prontos e entramos no carro para sair.

O parque está cheio como costuma ser. Ficamos sob uma árvore gigante de frente ao lago. Ele levanta e começa a se alongar enquanto eu permaneço sentada com meu livro ao lado.

-Vou correr um pouco.

-Sei esse "um pouco"... -Rio sabendo bem que ele demoraria.

Ele me dá um beijo e sai correndo. Fico o observando até o perder de vista e relaxo lendo meu livro com paz, tudo o que mais precisava depois de uma semana tão cheia.

Estou na metade do livro quando vejo uma mão me estendendo um coco verde com dois canudos.

-Nem demorei muito, vai! -Conrado volta pingando suor.

-Misericórdia... -Faço cara de nojo e pego o coco e bebo a água.

-Tá com nojo, é?

Ele me abraça e esfrega seu rosto no meu.

-Ótimo! Agora estou salgada também. -Caio rindo e me limpando como posso.

Sentamos lado a lado e observamos o movimento ao nosso redor.

Nossa vida é agitada, mas esqueço completamente dessa parte e aproveito aquela tarde de sábado ao lado de meu noivo.

Assistimos o pôr do sol e voltamos para nossa casa.

Tomamos banho juntos, colocamos nossos pijamas e enquanto eu faço minha deliciosa pipoca com manteiga ele escolhe o filme.

Não é fácil escolher algo desse tipo entre nós. Eu sou apaixonada por comédia romântica e ele por ação. Então, sempre demoramos consideravelmente até encontrar algo que seja do gosto dos dois, isso quando o outro não cede.

-Que tal um de terror? -Ele grita da sala.

-Há há!

Ele sabe que odeio.

-Se você acha que vai conseguir me fazer assistir outro filme do Nicholas Sparks você está muito enganada!

Apareço na porta da cozinha com cara de criança pidona.

-Não!

-Seu chato! -Volto à cozinha.

-Hm... Já escolhi. Venha.

Termino a pipoca e vou com o balde para o sofá. Nos cobrimos e ele aperta o play.

-Você só pode estar de brincadeira... -Digo quando vejo a entrada de algum filme do Jackie Chan.

- O que? - Pergunta cínico.

-Eu assisto Jogos Mortais se você quiser, mas Jackie Chan não. -Choramingo.

-Tá bom!

-Não! Foi só uma comparação, não precisa levar ao pé da letra... -Dou um risinho de arrependimento por ter dito aquele filme.

Ficamos pensando e novamente cedemos à única coisa que assistimos juntos com consentimento: animações.

-Às vezes me sinto pior que criança assistindo esses filmes. -Ele resmunga.

-Ah, para! Você bem ama que eu sei.

Nos aconchegamos e assistimos à Procurando Dory.

Quando rola os créditos subimos e nos deitamos.

-Te amo para sempre. -Diz ele.

-E sempre.

Adormecemos.

Entre o passado e o agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora