Casa

113 28 210
                                    

Já em casa, ele me diz para tomar um banho enquanto prepara um chá e o calmante receitado.

-Você é sempre assim?

-Assim como?

-Cuidadoso, sei lá.

-Sempre. –E me dá uma piscadela.

Subo e rapidamente tomo o banho. Quando desço os degraus de mármore banco da longa escada lembro que ainda não conheço muito daquela casa (até onde me lembro).

-Conrado? –Dizer o nome dele ainda me é estranho...

-Sim? Tome aqui seu chá.

-Obrigada. Sabe... Queria conhecer a casa, que para ser bem honesta não sei como eu moro nela de tão... Uau!

Ele ri, mas o riso dele nunca é aquele exagerado; já pude notar isso. É do tipo que mostra os dentes, fecha os olhos e balança a cabeça inclinada para baixo. Não posso negar que combina muito com ele; maxilar marcado, barba bem desenhada, cabelo preto e os olhos azuis. Pega minha mão e me leva para o quarto.

-Bem, o quarto você já conhece, né. Você, particularmente, ama a varanda. Passamos alguns fins de tarde sentados lendo livros, bebendo chá e essas coisas.

           Me lembro do dia que tudo aconteceu e da luz da lua o iluminando. Achei ser uma janela, mas na verdade é uma longa porta de vidro que me leva para uma sacada linda com uma mesa redonda e duas cadeiras; também tem umas plantinhas ao lado e a vista que nos dá é do jardim muito bem cuidado com rosas de muitas cores enfileiradas e uma imensa árvore com um balanço improvisado.

-Quem cuida das rosas? –Pergunto, pois duvido muito que seja eu.

-Você.

-Como assim? Sempre matei as plantas que tive quando pequena! Só um milagre mesmo...

-Eu que cuido. Um hobbie meu desde pequeno que aprendi com meu pai. –Ele diz rindo, dessa vez uma gargalhada (ainda sem exagero) que amei ouvir.

-Você está usando meu... defeito, sei lá como posso chamar isso, para brincar comigo? –Cruzo meus braços.

-A gente que escolhe se senta e chora ou se ri da situação. –Dá de ombros e sai da sacada pegando minha mão.

-Apesar de você amar o closet quem passa mais tempo ali dentro sou eu arrumando a bagunça que você faz pra escolher uma boa roupa. Pelo menos sempre acerta no que veste. –Diz me medindo.

-Hoje não é o caso, imagino.

-É... Já se vestiu melhor. –Dou um tapa de leve em seu ombro por desdenhar tanto de mim, mas pelo menos estou rindo e me distraindo.

-Eu já notei que minha parte é menos organizada.

-Menos organizada? Elogio da sua parte.

-Desculpa ai, louco por organização.

-Odeio quando me chama assim...

Paramos por um segundo para analisar a situação.

-E eu te chamo assim?

-Sempre. Parece que nem tudo mudou tanto assim... O banheiro da suíte você usa bem aos sábados livres pra se cuidar etc.

-Aquela banheira está muito convidativa mesmo.

No banheiro tem um box de vidro com o chuveiro e fora dele a banheira de mármore. O vaso sanitário ao lado da pia longa com um espelho imenso e duas pias. Até os tapetes e toalhas são frescurentos, todos felpudos.

Entre o passado e o agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora