-Alice, preciso ir.
-Mas já? Se quiser pode ficar por aqui.
-Eu realmente preciso ir, mas eu não vou descartar esse convite. Outro dia quero passar a noite aqui com você, tomando mais outras garrafas de vinho.
-Está marcado, então!
-Você vai ficar em casa? –Pergunto preocupada.
-Vou sim.
Descemos para a garagem e aperto o controle para destravar as portas do carro.
-Você vai ficar bem? –Pergunto.
-Claro que sim.
-Se cuida, está bem? Qualquer coisa me ligue.
-Relaxa. Mas eu ligo sim. Cuidado até chegar em casa.
Nos despedimos e entro no carro.
Não quero deixa-la, mas eu não posso proteger todo mundo dessa forma. Foco em ir à minha casa e sigo em direção à saída.
Tento traçar planos em minha cabeça, mas nada parece ser eficiente. Como que se lida com esse tipo de situação tendo anjos, fantasmas, sabe-se lá o que são, no meio?
Acelero para chegar mais rápido.
Dobrando a esquiva tendo observar minha casa ao longe enquanto ainda me aproximo. As luzes estão apagadas.
Alguma coisa aí tem.
Não chego a guardar o carro na garagem, apenas estaciono na calçada.
Passo pelo jardim e prefiro entrar pela porta dos fundos.
Com cuidado destravo a porta com a chave e entro na cozinha. Tudo está em completo silêncio. Me sinto estar em um filme de terror e eu odeio isso.
Devo chamar a polícia?
O pessoal do Caça-fantasmas?
Talvez o primeiro seja o mais inteligente, já que sempre que me obrigo a assistir algum filme desse gênero é a primeira coisa que grito para o personagem como se ele pudesse me ouvir. A segunda opção eu prefiro nem comentar...
Sigo lentamente para a sala e enxergo algo no chão. Tento não me desesperar, coloco a mão na minha boca para reprimir um gemido de espanto e medo. Me aproximo com cuidado, mantendo uma distância “segura” para tentar entender o que está acontecendo.
É Vicente ao chão, de bruços.
-Merda! –Sussurro.
Me afasto dando passos para trás e trombo em algo.
Me viro e enxergo aquele rosto com a cicatriz enorme há menos de dois centímetros de meu rosto.
-Bu!
Eu grito. Um grito estridente que faz meu coração pulsar aceleradamente. Me viro para correr e me sinto ser empurrada, o que me faz cair próxima à Vicente.
O olho e percebo que está desacordado. O chamo em minha mente, mas nada acontece. Não sei onde Conrado está e não tenho tempo de procurar porque Uma sombra se aproxima de mim.
-Oi, Emmily. Feliz em ver o seu sonho realizado? –Diz se referindo àquele pesadelo horrível.
Não consigo dizer nada.
Eu não posso ter medo.
Eu não posso ter medo.
Não posso ter medo!
Me levanto e fico de frente à ele.
-Modesto da sua parte pensar que você é o sonho de alguém. –Alfineto.
-O-ho! Mas o que temos aqui?
Ele se aproxima mais e seu sorriso me faz engolir seco.
-Me desculpe não ser tão bonito quanto seu querido noivo, mas... -Ele se aproxima de meu ouvido e cochicha: - Se ninguém te contou isso aqui é culpa dele, viu?
-Sorte sua ser culpa dele porque se fosse minha estaria muito pior. –Cuspo em seu rosto.
-Você está brincando com fogo, Emmily!
-Ah, é? Onde está Conrado?
-Acha mesmo que vou responder?
-Foi um acidente! Você deveria seguir em frente invés de atormentar a vida dos outros.
-Seguir em frente igual a como você seguiu quando matei seus pais?
-O que?
-Ops! –Ele põe a mão na boca encenando.
-Foi você?
-Claro que sim... –Ele vira e começa a caminhar pela sala.
Vicente havia me dito que Natan tinha tirado de mim mais do que minha memória, mas isso? Meus pais? Meus pais morreram por uma vingança que não tinha absolutamente nada a ver com eles!
Isso me consome. Na minha mente passa um misto de ódio, tristeza, abalo e mais ódio.
-Por que? –Começo a chorar.
-Deu vontade, sabe? –Dá de ombros. –Eu precisava tirar algo importante de vocês. Estava um belo dia para fazer Conrado sofrer, então... Por que não?
-Você é doente!
-Tanto faz. Essas coisas não contam muito depois que você morre!
-Quem me dera você estivesse realmente morto. Mas a morte é muito simples para você; você tem que sofrer, Natan! Eu te odeio!
-É recíproco, Emmily. Agora relaxa um pouco ai.
-Emmily, você está aqui? –Ouço Vicente me chamar em minha cabeça.
Olho para onde o corpo dele está.
-Fique aí! Precisamos ganhar tempo. –Penso.
Ainda não tenho sinal de Conrado e nem sei o estado que ele se encontra.
São muitas coisas para lidar, muitas coisas em jogo.
-Por que tudo isso? –Pergunto a Natan, na tentativa de o distrair.
-Eu não queria morrer! –Ele esbraveja.
-Tenho certeza que meus pais também não queriam...
-Não é a mesma coisa.
-Me explica a diferença, então!
Ele fica em silêncio e sua feição muda para completa fúria.
-Era bem mais fácil quando você era uma garotinha assustada. Inferno! –Diz mais para si próprio.
Ele se aproxima de mim rapidamente como o vento e me prensa na parede, me segurando pelo pescoço. Luto para respirar e manter a calma.
Ele se distrai observando minha agonia. Seu olhar está fixo aos meus olhos. Com ele tão próximo de mim me obrigo a o observar.
Seus cabelos são lisos e acobreados, seus olhos escuros e há algumas sardas na altura das maçãs do rosto. A cicatriz divide seu rosto da altura da testa passando pela bochecha até seu lábio superior. Percebo que em seu pescoço há um longo cordão por baixo da camiseta, que está quase toda coberta pela jaqueta de couro que veste.
Ele me solta.
-Não tenho medo de espírito. –Grito entre tosses.
-Então vou te fazer ter.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre o passado e o agora
RomanceEmmily Figueiredo leva uma vida perfeita ao lado de seu noivo Conrado Vasconcelos, após sofrer um trauma que a derrubou por um longo tempo. Em uma madrugada, misteriosamente, Emmily perde sua memória. Mesmo sem reconhecer o próprio noivo, Conrado...