Antes de chegar à casa de Alice passo em um mercado para comprar o vinho que prometi. Mando uma mensagem dizendo que chegarei um pouquinho mais cedo e sigo o meu caminho.
Assim que entro no bairro dela tenho de buzinar para algumas crianças que jogam bola e brincam de mãe-da-rua saírem da frente. Uma delas chega a se aproximar da minha janela e pedir desculpa, com a bola debaixo do braço, enquanto as outras cochicham observando o carro.
Estaciono em frente ao prédio de Alice e ligo para que saiba que cheguei.
-Vou descer. Fique dentro do carro, vou abrir a garagem para que você guarde o carro dentro do prédio.
-Tudo bem.
Minhas mãos suam enquanto seguro o volante. Estou nervosa com tudo o que pode acontecer.
Um portão se abre e acelero para entrar seguindo Alice até uma vaga.
-E aí, como está? –Ela me pergunta quando saio do carro com a garrafa em mãos.
-Estou bem melhor. E você? –A cumprimento.
-Estou bem. Vem comigo.
Subimos algumas escadas e logo ela abre uma porta.
-Por favor, desconsidere algumas coisas e fique à vontade. –Ela me deixa entrar primeiro.
Me deparo logo com a sala. É pequena, mas tem um charme que me encanta.
O sofá é preto e um pouco desgastado, mas as muitas almofadas coloridas tiram completamente o foco disso. Acima há um quadro abstrato à óleo com cores quentes. No chão um tapete redondo trançado e um pequeno móvel que, no lugar de uma televisão, há algumas pilhas de livros. Na janela ao lado do sofá uma cortina de véu branco com um enfeite de bolinhas completa todo o visual.
-Alice, a sua casa é a coisa mais linda e fofa que já vi! Como você ousa comparar com um porão? Você está louca? –Digo espantada com o quanto meus olhos ficaram cheios assim que pisei aqui.
-Não é uma mansão, né, mas eu gosto de decorar...
-O que falta de cor na minha tem na sua! Eu nunca que conseguiria fazer uma decoração assim. Quero conhecer o resto!
O apartamento é pequeno, então em poucos passos já chegamos ao quarto. A cama são paletes de madeira no chão com um colchão em cima e almofadas de tricô mais dois travesseiros e uma colcha dobrada. Invés de um guarda roupa há araras de ferro com as peças enfileiradas em cabides. Na janela uma persiana branca com a parede pintada da cor rosa. E um detalhe importante são os livros espalhados em todos os cantos! Os sapatos estão enfileirados em nichos ao chão e encontro um gatinho dormindo preguiçosamente dentro de um dos.
-Oh, meu Deus! Você não me disse que tinha um gatinho!
-É o Boris, o único que consegue ser mais preguiçoso do que eu.
E continuando ela me mostra o seu banheiro, sua cozinha e uma pequena lavanderia. Tudo com o seu jeitinho.
-Alice, você foi bem modesta. Sua casa é linda. Eu nem quero sair daqui mais...
-Ah! Fico lisonjeada por isso, pode ter certeza. Agora vamos abrir esse vinho? Os pães de queijo estão ficando prontos.
-Vamos!
Pego um saca-rolhas e abro a garrafa.
-Comprei duas taças. Nunca tinha recebido visita assim então achei justo. Ah, você já deve ter percebido, mas eu não tenho televisão. Eu realmente não me ocupo com ela, então é bom termos muito assunto para por em dia.
-Depois de duas taças dessa pode ter certeza que terei!
Ficamos jogando conversa fora enquanto os pães de queijo assam. Eu apenas dou pequenos goles no vinho para me manter atenta às coisas enquanto ela bebe normalmente.
Tiramos do forno a forma quente e separamos os pãezinhos em uma vasilha.
Estou ansiosa. Não sei se Natan já está por perto e nem mesmo se Conrado está bem e seguro. Seguro eu duvido que esteja e saber disso faz um frio percorrer a minha espinha, mas preciso confiar em Vicente. Fora a questão de recuperar a minha memória que parece uma coisa insana de se fazer. Não tenho ideia do que está acontecendo.
-Você parece estar preocupada... –Diz Alice segurando a vasilha em uma mão e a sua taça em outra enquanto seguimos para o quarto.
-Estou um pouco. Discuti com Conrado antes de vir para cá.
-Meu Deus, espero que não tenha sido por minha causa!
-Não, claro que não. Mas vai ficar tudo bem... Espero.
-Vai sim.
Passamos algumas horas rindo e conversando sobre diversas coisas e por mais que eu estivesse aproveitando muito o meu tempo com ela a minha preocupação não me permitia estar cem por cento ali.
-E Vitor? É só amizade mesmo? –Pergunto.
-Ah, sim... Não sei. Levamos como apenas amizade, mas sei que nosso sentimento é bem mais intenso; e sei que ele também sabe disso. Mas Vitor é muito reservado e protetor. Mas ele me faz muito, muito bem. Eu o amo, é inegável isso. –Ela dá de ombros.
-Tenho certeza que ele a ama também. A forma como fala de você...
-Vocês já conversaram? –Ela me interrompe questionando.
Droga.
-Preciso ir ao banheiro! Já volto. –Me levanto rapidamente e sigo em direção ao cômodo.
-Vicente, onde você está? –Sussurro me olhando no espelho acima da pia.
Estou agoniada, o coração apertado e com frio na barriga. Minhas mãos estão trêmulas e não consigo conter mais o nervosismo.
Tudo pode estar acontecendo neste exato momento.
Jogo água no rosto e dou uma última checada no espelho.
-Emmy?
-Oi, Alice! –Abro a porta.
-Não te chamei. Acho que já está bebendo muito vingo, hein! –Ela ri.
Se não foi Alice quem me chamou só pode ser Vicente.
Fecho a porta novamente.
-Vicente! –Sussurro o seu nome.
-Emmy, preciso de você agora!
A sua voz ecoa dentro da minha cabeça. Sento no chão e me concentro na voz.
-O que está acontecendo? –Penso.
-Não consigo sozinho. As coisas saíram dos eixos. Preciso de você! Me desculpe, não consegui proteger Conrado e...
A voz desaparece.
-Merda! Merda! Merda! –Me levanto em desespero.
O medo me consome e me pergunto o que fazer. E Alice, como fica? O que aconteceu com Conrado? Por que Vicente não conseguiu protege-lo? Será que caí em uma armadilha e me deixei ser levada?
Só há uma maneira de saber.
Eu quem vou arrumar esta merda!
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Entre o passado e o agora
RomanceEmmily Figueiredo leva uma vida perfeita ao lado de seu noivo Conrado Vasconcelos, após sofrer um trauma que a derrubou por um longo tempo. Em uma madrugada, misteriosamente, Emmily perde sua memória. Mesmo sem reconhecer o próprio noivo, Conrado...