E sempre

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Tudo o que se pode ouvir é meu choro e mais nada. Conrado me abraça para tentar me acalmar, mas posso notar seu medo pelas minhas reações e eu não tenho nem forças para me desvencilhar dele.

-Emmily... Sei que vai ser difícil, mas tenta voltar a dormir. No momento sei que não confia em mim e é duro saber disso mesmo sem entender a razão, mas descanse que pela manhã vamos procurar entender o que está acontecendo com você, tudo bem?

A fala dele é calma e os olhos nos olhos me passa muita sinceridade. Afirmo com a cabeça fitando meu colo e retiro a aliança do meu dedo e a observo. Com receio olho a que está em seu dedo. Como se soubesse o que eu estou pensando, ele a retira e me dá. Uno as duas e leio o que está na parte interna. Diferente das alianças tradicionais, que contém o nome e a data, as que estão em minhas mãos têm frases.

-Por que tá escrito "te amo para sempre" na sua e nessa "e sempre"?

-É tipo um bordão nosso... –Ele parece bem chateado com minha pergunta por ser algo tão íntimo dele (e aparentemente meu também) e eu não recordar.

Ele pega aquele copo que estava em suas mãos quando entrou no quarto e me entrega.

-Toma essa água e tente dormir, por favor. Vou me deitar no quarto de hóspedes.

Fico grata por ele tomar a iniciativa de não dormir ao meu lado, mas também com... pena? Obviamente não é o que ele quer, mas acho que sabe que eu me sentiria incomodada.

Pega seu travesseiro e seu celular enquanto eu me ajeito na cama. Antes de sair me olha e dá um beijo no topo da minha cabeça que me faz, de primeiro instante, me assustar, mas posso sentir sua sinceridade.

-Te amo para sempre, Emmy.

E sem esperar resposta (por imaginar que eu não responderia o que eu deveria responder) sai.

Com uma dor de cabeça desgraçada e milhões de coisas passando por ela, eu me esforço ao máximo para pegar no sono.

***

-Eu não faço ideia do que aconteceu! Ela estava reagindo tão bem aos seus tratamentos e do nada... Eu falo sério, doutor. Emmily não me reconheceu, não sabia nem que fazia terapia e muito menos com o senhor. Ela reconheceu Emma, mas só; nem sobrinho sabe que tem, isso que sempre foi grudada com aquele menino!

Acordo com Conrado cochichando no corredor ao celular falando com o tal do Dr. Fernandes, imagino. Ao lado, na cômoda, tem uma bandeja com meu café da manhã favorito.

-Sobrinho? Que história é essa?... –Resmungo comendo meu pão francês, porém calma.

-Certo... Aham. Entendo. Mas é urgente! Por favor, doutor. Preciso da Emmily de volta.

Um silêncio paira no ar enquanto eu presto muita atenção.

-Obrigado, muito obrigado! Certo, logo estaremos ai!

Vejo a sombra de Conrado andar para lá e para cá e um suspiro exasperado sair. Logo aparece na porta nas pontas dos pés.

-Ah, você já acordou... Bom dia?

-Espero que sim. Obrigada pelo café.

-Por nada. Consegui marcar de última hora uma consulta com o seu psiquiatra.

-Foi fácil marcar? –O testo.

-Hm... Foi, claro. Se apronte quando terminar. Estarei lá na sala. –Ele parece nervoso e desce logo.

Abro uma das portas e me deparo com um banheiro incrível fazendo jus à suíte. Fico tentada a entrar na banheira, mas ligo o chuveiro e tomo um rápido banho. Saio de toalha e abro a outra porta que me leva a um imenso closet. De um lado todas as coisas dele muito bem organizadas; ternos bem passados nos cabides, gaveta de gravatas, sapatos enfileirados e mais uma porção de coisas. Do outro lado minhas roupas não tão organizadas, mas fico chocada com o tanto de coisa que há. Bem... Que roupa se usa para ir a um psiquiatra? Saí abrindo todas as gavetas e procurando algo.

Já pronta, e com a bandeja do café da manhã em mãos, saio do quarto e observo a casa. Há um longo corredor de piso de madeira com algumas portas e no fim mais uma escada que leva a algum outro cômodo em outro andar. Mas pela urgência decido descer as escadas logo.

O encontro sentado no sofá com a cabeça apoiada nas mãos.

-Estou pronta. –Ele levanta rápido. -Onde deixo...?

-Pode deixar comigo.

Ele pega a bandeja agitado e deixa na pia da cozinha.

A cada segundo eu fico observando tudo a minha volta. Apesar de ele dizer que moramos aqui tudo é novo para mim e fico maravilhada com o design impecável e moderno dessa casa. Parece casa de gente rica, muito rica.

-Vamos. –Ele me olha sério. –Você está linda.

-Obrigada.

Ele tranca a casa e vamos à garagem onde tem CINCO carros, e não são quaisquer carros.

-Você brinca de uni-duni-tê com eles? –Pergunto surpresa e ele ri balançando a cabeça e abre a porta de um deles para mim, um Mercedes vermelho.

-Se eu te disser que é o seu jogo matinal você vai acreditar em mim? –Diz fechando a porta e dando a volta no carro.

-O que?


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