Sem fim

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O cheiro daquela floresta medonha preenche minhas narinas e no mesmo momento eu me inclino para vomitar e é quando percebo que estou presa ao alto de uma árvore grande e úmida.

-Que nojo! –Ouço a voz de Natan ecoar.

Levanto a cabeça rapidamente e sinto tontura. Me agarro no galho grosso que estou em cima sem nenhuma proteção. Procuro por Vicente, Conrado e até mesmo Natan e não os encontro. Olho para baixo e percebo um lago do qual não me lembro de ter visto das duas vezes em que estive aqui.

Escuto passos amassando algumas folhas secas e me direciono para onde o som está vindo. Natan puxa Conrado pela gola, arrastando o seu corpo no chão, praticamente sem esforço algum. Conrado está desacordado e vejo sangue escorrer de sua testa.

-Conrado! –Grito abraçando mais forte a árvore contra meu corpo. E eu choro desesperadamente.

Vicente aparece e dá um soco em Natan, que larga Conrado ao chão para se defender e lutar.

-Acha mesmo que pode contra mim, seu moleque mimado? –Revida o soco no lado direito do rosto de Vin.

E a cada soco dado eu me encolho, fecho os olhos e grito.

Tento recobrar a respiração e minha mente. Com muito, muito medo olho para o chão. Eu devo estar há uns dez metros dele. Com muito custo me levanto cuidadosamente, sempre mantendo o meu corpo mais próximo possível do tronco da árvore. Observo alguns galhos mais “seguros” que suportam o meu peso e respirando ofegante com o corpo todo trêmulo eu ponho um pé de cada vez em um galho, depois em outro e em outro.

Natan fica por cima de Vicente e o joga com muita força contra a árvore em que estou fazendo-a tremer e meu pé escapar. Caio alguns metros, mas um galho imenso no caminho me impede de chegar ao chão. O impacto faz meus pulmões arderem e minha visão fica turva, enquanto tento me concentrar para permanecer pendurada. Estou toda arranhada, machucada, mas com o pouco da força que me resta, eu subo o galho e tento recuperar o fôlego.

Quando olho novamente para baixo, Natan está com Conrado em mãos e seguindo em direção ao lago.

Mesmo perdendo as forças a cada segundo, volto minha atenção para continuar descendo.

Mais um galho.

Mais um arranhão, mas tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Mais um frio na barriga.

Mas os meus pés tocam o chão.

Corro até Vicente.

-Acorde! Anda, Vicente. Você não pode me deixar agora! –Olho para trás e Natan está amarrando uma pedra em Conrado.

Corro o mais rápido que posso e pulo em suas costas, o pegando de surpresa e o fazendo perder o equilíbrio.

Facilmente ele se coloca em cima de mim e seu pulso se ergue enquanto a outra mão se apoia em minha barriga.

Ele para.

Arregala os olhos tanto quanto eu arregalo os meus.

Minhas mãos estão na frente do meu rosto na tentativa de me proteger.

Lentamente Natan vai abaixando a mão que estava levantada e um fio de lágrima escorre. E no mesmo ritmo eu desprotejo meu rosto, o olhando com medo.

Ele coloca a mão em meu peito e sente meu coração enquanto a outra permanece em minha barriga.

Eu não entendo nada.

Mesmo no chão tento alcançar o meu olhar até Vicente e o chamo, suplico para que acorde.

E em um piscar de olhos ele desaparece do lugar onde estava e o vejo pular em cima de Natan que não resiste.

Ele está em choque.

Vicente tira a jaqueta que Natan veste e rasga a sua camiseta deixando todo o seu peito à mostra e retira o cordão que notei que usava quando me estrangulou.

Me levanto e corro até Conrado, desatando o nó que havia em volta de sua cintura.

-Não! –Natan toca na mão de Conrado e os dois desaparecem novamente.

-Venha aqui, agora!

Corro até Vicente e ele me deita ao chão, ficando por cima de mim.

Pega o cordão e percebo que há um pingente de vidro nele. Vicente destampa e toma o líquido que há dentro do pingente.

-Desculpe por isso. De novo.

E me beija.

Entre o passado e o agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora